Popular nos EUA, netbooks devem atingir classes A e B no Brasil

0

Quando, em 2007, a fabricante taiwanesa de PCs Asus lançou o EeePC, um computador ultracompacto de baixo custo e capacidade, voltado basicamente para acessar a internet, a reação da concorrência foi de certo desdém, já que viam esses equipamentos como meros "brinquedos" e sem muita utilidade prática. Mas, com excepcional desempenho de vendas logo no primeiro ano, de aproximadamente 1 milhão de unidades, o minilaptop transformou-se num "hit" no mercado mundial.
Em sua maioria, os netbooks, como são conhecidos, passaram a substituir os notebooks que já estavam ficando obsoletos. Isso fez com que o desprezo inicial fosse abandonado e os concorrentes da Asus saíssem em busca de desenvolver seu próprio modelo de equipamento.
A popularidade e a boa taxa de vendas dos netbooks, porém, acabaram provocando um efeito colateral em toda a cadeia da indústria de PCs – hoje já bastante afetada pela retração nas vendas devido à crise econômica mundial –, principalmente para os fabricantes de chip e de software. A oferta de chips de alto desempenho, por exemplo, registrou uma queda drástica na demanda, em decorrência do aumento da procura por chips mais simples, para equipar esses novos minilaptops. Pesquisa da IDC, divulgada fevereiro passado, mostra que as vendas de semicondutores caíram 22% em 2008, enquanto o Atom, processador de baixo desempenho da Intel que equipa netbooks, foi o único que registrou bons resultados.
No Brasil, apesar de o mercado de netbooks ainda estar engatinhando, a previsão é que ele cresça nos próximos anos, impulsionado pelos preços e também pela expansão da internet. Luciano Crippa, analista sênior de mercado da IDC Brasil, considera que nesse primeiro momento os netbooks têm competido com os smartphones, porque desempenham praticamente as mesmas funções, mas são um pouco mais confortáveis de usar.
Para ele, o netbook não pode, porém, ser visto como o primeiro PC da família, porque é voltado para estudantes, principalmente universitários, ou executivos que viajam muito e precisam de um equipamento com mais portabilidade. O analista vê, no entanto, outra dificuldade no curto prazo para o avanço desses minilaptops: o fato de ainda não terem um preço competitivo em relação aos notebooks. Isso, segundo Crippa, coloca os netbooks como um segundo computador, e não como um substituto dos laptops tradicionais.
Ivair Rodrigues, diretor de pesquisa da IT Data, corrobora com a análise. Ele classifica os ultracompactos são acessórios. Para ele, a "canibalização" que os netbooks têm provocado no mercado de notebooks é um fenômeno restrito aos EUA, país onde todos já têm computadores e estão em busca de equipamentos melhores. "Mas aqui no Brasil ainda vai demorar para que todos tenham um notebook e queiram complementá-lo." Ele acha que, por enquanto, o mercado brasileiro não sentirá uma mudança tão drástica quanto o verificado no mercado internacional.
Rodrigues aponta dois grandes fatores como preponderantes para a baixa adoção dos netbooks no momento: um certo desconforto do teclado e a complexidade do uso. "O teclado é muito pequeno e a tela também, o que torna praticamente impossível trabalhar com ele durante oito horas seguidas. Também é um produto que uma pessoa leiga tem muita dificuldade para usar. É preciso conhecer bem computadores para conseguir mexer nele", explica o analista.
O gerente de marketing da Asus Brasil, Marcel Campos, rebate os analistas. Para ele, os consumidores têm se comportado de maneira peculiar no Brasil e o mercado já está mais do que pronto. "Os consumidores das classes A e B são principalmente executivos e estudantes que precisam de alta mobilidade, e os consumidores da classe C têm ido atrás dos netbooks para ser o primeiro laptop da família. As famílias já têm um desktop e querem um laptop, então vão atrás de um computador barato", explica.
Na avaliação do executivo, o Brasil segue, e provavelmente vai continuar seguindo, um movimento diferente dos mercados estrangeiros. "O uso que o Brasil faz do netbook é muito maior que no exterior. Enquanto lá fora é o segundo PC, aqui ele é o primeiro, e talvez os netbooks até ajudem o mercado de notebooks, porque quando o consumidor for atrás do segundo computador, vai querer algo melhor, com mais capacidade, como um notebook", analisa.
Marisa Lumi Park, gerente de produto da HP Brasil, acredita que os netbooks não devem ser vistos como provocadores da canibalização dos notebooks, porque são produtos diferentes disputando mercados distintos. Ela vê os ultracompactos como uma espécie de meio termo entre os smartphones e os PCs, e por isso devem ser muito bem divulgados para que as pessoas compreendam o que é um e o que é outro.
Ela chama a atenção para que o netbook não seja visto simplesmente como um notebook mais barato, mas como um acessório com muitas limitações. Marisa diz que é preciso mostrar para o consumidor brasileiro que os minilaptops têm funções específicas e são voltados para um determinado uso, para determinada fatia do mercado: pessoas que precisam de um aparelho de alta mobilidade.
A executiva da HP não vê uma grande mudança no comportamento do consumidor brasileiro por causa do aparecimento dos netbooks. Ela diz que o público aqui também é o de executivos que precisam de um produto para o trabalho remoto e não acha que ele pode vir a ser o primeiro computador da família.
Para Rodrigues, da IT Data, o netbook será uma excelente ferramenta corporativa para concorrer com os palmtops pelo seu potencial na automação de vendas. Segundo ele, esses equipamentos, por serem ultracompactos, também podem ser usados para captura de informações, como de consumo de água e energia. O analista observa que a principal necessidade do mercado hoje em dia, não é um novo produto, mas uma solução, e por isso os netbooks ainda vão ter um papel importante. "O que eles conseguiram foi criar um novo paradigma para o mercado de tecnologia."
Apesar de concordar que, num primeiro momento, os netbooks não irão caniblizar os laptops tradicionais, Crippa, da IDC Brasil, acredita que no longo prazo eles vão acabar roubando uma fatia de consumidores que pretendiam trocar seus notebooks por máquinas melhores. O analista diz que a grande vantagem dos minilaptops está em atender as necessidades reais e imediatas das pessoas, seguindo uma tendência evolutiva do mercado. "Se eu tenho um computador que faz edição de vídeo e de música, mas eu só quero conversar com meus amigos e entrar na internet, o netbook é uma ótima opção", explica.
Um estudo mundial da IDC conclui que, apesar do "susto" inicial dos fabricantes de PCs, chips e software com o impacto causado pelos netbooks no mercado, o interesse crescente do consumidor por esses computadores vai fazer os fabricantes de software e PCs buscarem novas abordagens para esses sistemas, cada um esperando se diferenciar no mercado. Isso deve alterar também o padrão atual de laptops e PCs e beneficiar, em última análise, os consumidores (veja mais informações em "links relacionados" abaixo).

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.