A Abrahosting (Associação Brasileira das Empresas de Infraestrutura e Hospedagem na Internet) detectou grande creescimento do tráfego de spam, que triplicou em um período de dois anos no Brasil. O fenômeno é preocupante principalmente por acarretar maiores riscos de segurança e mais custos improdutivos de manutenção e ampliação da infraestrutura de serviços dessas empresas,
De acordo com a entidade, a taxa atual de Spam no fluxo de mensagens que chegam diariamente nas redes dos seus associados atinge a média de 90% dos e-mails, os quais são prontamente bloqueados antes mesmo de chegarem aos níveis internos da estrutura.
Além disso, dos 10% de mensagens que recebem licença para entrar nos servidores das empresas de hosting do País, apenas 50% (ou 5% do total) são entregues ao endereço do usuário final com status de mensagem lícita. Os outros 5%, por sua vez, mesmo sendo encaminhados ao destino, recebem do provedor, uma espécie de "carimbo" de suspeição e, quase sempre, acabam caindo na caixa de "lixo eletrônico" do usuário.
De acordo com Vicente Neto, presidente da Abrahosting, a taxa de mensagens bloqueadas por serem identificadas como Spam é ainda superior em provedores de hospedagem que atuam em nichos de mercado corporativo e oferecem serviços com níveis de restrição mais rigorosos. "Em provedores desse tipo, a taxa de rejeição na entrada pode atingir 97% e o volume efetivamente entregue (sem o selo suspeição) pode ficar em torno de 1%", afirma o executivo.
No levantamento da Abrahosting foram incluídos empresas associadas com bases gigantescas de caixas postais de email – como é o caso da Locaweb – que diariamente bloqueia cerca de 320 milhões de mensagens – e prestadores de infraestrutura em nuvem, com serviços para missão crítica, tais como Loophost, IP Hotel, Digirati, CentralServer e Eveo.
O aumento expressivo de Spam apontado pela Abrahosting é ocasionado por uma série de fatores, como a constante expansão da rede global das múltiplas formas de conexão, que permitem o envio e a abertura de email sem limitação de plataforma.
"Além disso, há uma espécie de 'efeito Tostines', que é a existência de gigantescos exércitos de máquinas zumbis que são escravizadas por vírus para a propagação de Spam, sendo que este próprio Spam ocasiona a proliferação de novos e novos zumbis disparadores de e-mail malicioso a cada instante", afirma Vicente Neto.
De acordo com a Abrahosting, o principal fator de aumento do Spam no Brasil não provém de emissores externos, mas de centenas de provedores internacionais que se multiplicaram nos últimos anos e que chegam a cobrar até 50 centavos de dólar para a abertura de um domínio.
"Enquanto não houver uma diretiva internacional para coibir a banalização de registros (muitos deles anônimos ou sem uma personalidade jurídica comprovada), não haverá contenção do Spam", comenta o presidente da Abrahosting.
No que se refere ao Spam produzido em solo brasileiro, um dos fatores de agravamento é o alto nível de informalidade e pouco profissionalismo por parte de inúmeras empresas de e-mail marketing, que nem sempre se utilizam de práticas recomendáveis.
Para o advogado Adriano Mendes, do escritório Assis & Mendes, que assessora a Abrahosting, do lado dos provedores já existe um esforço concreto das empresas idôneas do setor para ajudar o nicho de email marketing a implementar práticas lícitas e aceitáveis para o envio de email em regime de massa. "Mas ainda é necessário formalizar uma autorregulação que seja implementada por todos os prestadores de hosting e que seja observada em comum acordo com os emissores de email marketing", afirma Mendes.
Na avaliação de muitos provedores, as autoridades brasileiras de registro de domínio deveriam também repensar o nível de liberalidade para a criação de endereços IP que, muitas vezes, são feitos a partir de informação fraudulenta ou pouco consistente.
Além disso, os provedores se queixam de que não há um limite razoável para o número de registros de domínio em nome de um único CNPJ ou CPF. Segundo Luis Carlos dos Anjos, Gerente de Marketing Institucional da Locaweb, a sua área de segurança descobriu que cerca de 200 domínios fortemente emissores de Spam estavam registrados no Brasil em nome de uma única empresa. Na IP Hotel, relata seu diretor, Gustavo Morgado, um único CPF foi identificado como proprietário de 250 domínios que haviam sido colocados na listagem negra da empresa.
Lista Branca para o Email
A enorme avalanche de Spam e as consequentes medidas de segurança a que os provedores de hosting se obrigam acabam por ocasionar certos efeitos indesejáveis. Um deles é o bloqueio acidental de remetentes lícitos de e-mail cujas características (ou conteúdos recorrentes das mensagens) confundem os bloqueadores das empresas que os classificam como Spam.
Este tipo de "falso positivo", explica Vicente Neto, causa problemas para o usuário e representa um grande ônus para as áreas de suporte das empresas provedoras. "Só para atender o cliente e alterar o status de um remetente bloqueado, nossos associados gastam, em média, 20 minutos de hora-homem", comenta Vicente Neto.
Preocupada com a necessidade de ao menos mitigar o problema, a Abrahosting vai iniciar uma campanha para estimular os seus associados a levar conteúdo educativo para usuários finais de email aprenderem a denunciar mensagens de Spam e a marcarem seus remetentes através de comando de bloqueio.
Outra medida em discussão na Abrahosting é a criação de uma lista compartilhada de grandes remetentes de email de massa (principalmente redes varejistas, portais de e-commerce e agências digitais) que sejam praticantes de conduta lícita para permitir o acesso de suas mensagens às caixas postais de usuários, desde que com permissão expressa destes.
"Atualmente, cada provedor tem sua "white list", mas nosso objetivo é criar uma referência nacional unificada e, para tanto, queremos chamar para discussão os maiores emissores desse tipo de mensagem", completa o presidente da Abrahosting.