Compra da CCE pela Lenovo tem como foco mercados de celular e TV, dizem analistas

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A chinesa Lenovo anunciou nesta quarta-feira, 5, a compra da fabricante brasileira de produtos eletrônicos CCE por R$ 300 milhões. Durante coletiva de imprensa, realizada em São Paulo, a segunda maior fabricante de computadores pessoais do mundo disse que a aquisição vai expandir a presença no mercado brasileiro de PCs, além de ampliar a capacidade de fabricação local e seu portfólio, que abrangerá PCs, tablets, smartphones e TVs.

As negociações com a CCE, que já haviam sido divulgadas, vinham ocorrendo desde março, depois de várias tentativas frustradas da fabricante chinesa de comprar a Positivo Informática, líder em vendas no mercado de PCs no Brasil.

Com a fusão, segundo o CEO da Lenovo, Yuanqing Yang, a chinesa assume a quarta posição no ranking de computadores pessoais no país, em vendas, com 7% de participação de mercado. Ele ressalta que a meta é chegar à terceira posição no início do ano que vem. No longo prazo, diz Yang, o objetivo é no mínimo dobrar a participação e assumir a liderança na venda de PCs.

"A CCE se encaixa completamente em nossa estratégia. A Lenovo tem um posicionamento muito definido de defender suas operações-chave na China e atacar pesado em países emergentes, como é o caso do Brasil", explicou Yang. Além do Brasil, a Lenovo possui fábricas na Argentina, Rússia, Indonésia, Filipinas e Índia.

Negócio estratégico

Apesar de num primeiro momento a transação ter causado certa surpresa no mercado, principalmente em razão da baixa penetração da marca no mercado nacional e da própria situação da empresa, cujo desempenho nos últimos anos tem sido bastante ruim, analistas ouvidos pela reportagem de TI INSIDE Online acham que o negócio, do ponto de vista estratégico, faz todo sentido.

Na análise de Ivair Rodrigues, diretor da IT Data, empresa de consultoria e inteligência de mercado especializada em pesquisas, embora a participação da CCE no mercado de computadores pessoais, de fato, seja bastante fraca, a compra pela Lenovo é estrategicamente interessante. “Com a transação, além de passar a ter uma fábrica própria de PCs no Brasil [hoje ela terceiriza a produção de computadores no país para três fabricantes], a Lenovo absorverá todo o know-how da CCE na produção de televisores e celulares. A fabricação desses equipamentos envolve processos complexos e, se a Lenovo, fosse começar do zero correria o risco de perder competitividade, já que a curva de aprendizado é muito longa.”

Outro aspecto observado por Rodrigues é que, devido ao fato de a CCE já possuir uma fábrica de televisores no Pólo industrial de Manaus, a Lenovo poderá acelerar a presença nesse mercado e em condições de igualdade com os concorrentes. “Seria muito complicado para ela, em termos de competitividade, atuar nesse segmento sem uma planta industrial em Manaus”, diz Rodrigues, acrescentando que ela também se beneficia por herdar os profissionais da CCE que conhecem todo o processo de produção de televisores e celulares.

Tablet nacional

Conforme revelou o presidente da Lenovo para as regiões Ásia-Pacífico e América Latina, Milko Van Duijl, a companhia continuará produzindo os tablets de marca própria no país, a exemplo do ThinkPad 1, já comercializado no mercado nacional. A aquisição, segundo ele, possibilitará o desenvolvimento de um tablet nacional, contando com o conhecimento do mercado da fabricante brasileira. A produção de smartphones, contudo, continuará restrita à Ásia e outros países emergentes.

Isso não significa que a CCE irá retirar do mercado sua linha de celulares inteligentes, garante Duijl. As marcas permanecerão de maneira independente e a equipe de executivos da empresa brasileira será preservada. "É uma aquisição para ganhar mercado, por isso não está nos planos enxugar operações. Ao contrário, o recente anúncio da construção de nossa fábrica própria em Itu corrobora isso, e os aportes financeiros no Brasil só tendem a aumentar", afirma o executivo, referindo-se ao investimento de US$ 30 milhões feito em julho.

Um analista de mercado, que não quis ser identificado, discorda. Para ele, embora a Lenovo tenha pago um preço baixo pela empresa, a marca CCE tem uma imagem ruim no mercado, o que exigirá fortes investimentos, “inclusive na modernização das linhas de produção, hoje um tanto obsoletas”. Ele também chama atenção para o passivo da empresa e as dívidas de curto prazo com fornecedores e bancos.

O último balanço, de 2010, também não é nada animador. Segundo um resumo das demonstrações financeiras, a CCE fechou o ano com um prejuízo de R$ 23,6 milhões, 14% maior que a perda registrada em 2009. O resultado do ano passado ainda não foi publicado.

Para o analista, mesmo que a Lenovo decida “matar a marca” no futuro, ela ainda terá de resolver problemas de infraestrutura e logística para acabar com os gargalos e promover um ampla reestruturação interna na empresa. Ele avalia que a compra da CCE, na verdade, visa estritamente o mercado brasileiro de televisores e celulares. "Pois a participação da CCE no mercado de PCs é pífia, insignificante", finaliza.

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