Estudo global da EY traz um recorte sobre a maturidade digital brasileira, considerando desenvolvimento tecnológico, cidades inteligentes, dados, conectividade e mobilidade. Ao todo, a pesquisa ouviu mais de 12 mil pessoas em 5 países: Brasil, Austrália, Índia, Reino Unido e EUA.
Trazendo para a realidade local, o país vem tendo um progresso significativo por meio de uma série de iniciativas digitais em transporte, saúde, assistência social, segurança pública e outros serviços, tanto que o Brasil subiu da 54ª para a 49ª posição no ranking global de governo eletrônico da ONU. Também melhorou a classificação no indicador nacional de serviços online de 21 para 11 em 2022 e São Paulo ocupa a 17ª posição globalmente no ranking de serviços online locais.
Mas ainda não é o suficiente e, pensando nisso, a pesquisa também aponta seis desafios que o Brasil precisa superar para melhorar a maturidade digital: Cobertura da infraestrutura digital: algumas regiões do Brasil ainda carecem de conectividade de internet confiável; baixa confiança do público no governo: 36% da população brasileira confia em seu governo central, bem abaixo da média da OCDE de 51%; Preocupações com privacidade e segurança de dados: apenas 42% se sentem confortáveis em compartilhar seus dados pessoais online para acessar serviços governamentais; enquanto 32% estão confortáveis com o compartilhamento de seus dados entre organizações governamentais; continuação da divisão digital: 23% da população brasileira não tinha acesso à internet em 2022; falta de identificação digital única: cerca de um terço dos brasileiros (32%) diz não se sentir confortável em ter uma única identidade digital e falta de habilidades e competências digitais: organizações governamentais brasileiras, como outras ao redor do mundo, enfrentam escassez de talentos digitais
"O Brasil difere de alguns dos outros países onde realizamos a pesquisa devido à enorme escala do país e às enormes diferenças geográficas, socioeconômicas e culturais entre as regiões: 'há muitos Brasis dentro do Brasil'. De um modo geral, houve aceitação de que o digital é o futuro, mas também uma sensação de que muitos dos avanços discutidos nas deliberações estão longe da realidade das necessidades de hoje", reflete Luiz Sales, Sócio da EY – Technology Consulting da EY Brasil.
Em resumo, o estudo indica que os brasileiros entendem que a digitalização é o futuro e ajudará a impulsionar o desenvolvimento do país, mas estão céticos sobre a prontidão para a mudança. E, nos cinco países analisados, a pesquisa destacou algumas prioridades críticas para os governos construírem confiança e aumentarem a aceitação da transformação digital, a fim de oferecer uma experiência cidadã do século XXI. E são elas: permitir a prestação de serviços integrados, eliminar TI em silos para impulsionar a interoperabilidade, serviços de design em torno do usuário final, acelerar o compartilhamento de dados, otimizar o uso do financiamento, promover a transformação da força de trabalho, promover uma forte liderança digital e fornecer serviços digitalizados equitativos para todos.
Realidade brasileira
"Os brasileiros entrevistados veem como prioridade melhorar os serviços, a infraestrutura e a capacidade existentes, além de alcançar uma conectividade mais equitativa para ampliar a inclusão digital, com foco em iniciativas menores e mais simples, que forneceriam uma base para a expansão para serviços mais sofisticados", afirma Sales.
Reforçando esse ponto, 38% dos participantes da pesquisa acreditam que fornecer melhor acesso à Internet e computadores deveria ser uma das principais prioridades do governo. E a maioria – 68% – diz que faria um treinamento do governo para melhorar suas habilidades digitais, se disponível.
A pesquisa também mostra como a pandemia ampliou a importância da tecnologia, mas os governos ainda ficam atrás do setor privado. 60% dos brasileiros entrevistados acreditam que a pandemia do COVID-19 aumentou o uso da tecnologia no dia-a-dia, 71% acredita que a tecnologia torna a vida melhor e 78% acha que essa tecnologia será necessária para resolver problemas futuros. "A pandemia mudou a forma das pessoas interagirem entre si, e principalmente impulsionou o uso da tecnologia nos mais diferentes setores. Esse é um comportamento que veio pra ficar e se intensificar", explica Luiz.
O estudo indica que o setor público ainda fica atrás em termos de uso de serviços digitais: 71% no uso da internet para fazer compras, 51% apontaram o uso da internet para administrar as finanças e 31% o uso da internet para acessar os serviços do governo.
"É importante frisar que, além da mobilidade, por exemplo, a integração de dados e dispositivos também pode beneficiar a segurança pública ao identificar placas suspeitas e rostos de criminosos", salienta Sales.
A mobilidade ainda é uma questão particular no Brasil, que sofre com superlotação, longas esperas e tempos de deslocamento. Sem contar que, os grupos sociais menos privilegiados são os que mais sofrem, pois tendem a viver mais longe do trabalho, da educação, da saúde, do lazer e da cultura.
Segundo Luiz, "para mudar isso, o uso da tecnologia de forma eficaz é uma saída para melhorar a experiência da sociedade. São Paulo, por exemplo, entrega informações de status aos passageiros via web e smartphones, aumentando a confiabilidade do serviço de ônibus em 30%. Usando a IoT, a cidade também está coletando dados de várias fontes para fornecer aos gerentes de transporte uma imagem em tempo real da localização dos ônibus, capacidade dos veículos e o número de passageiros que embarca em cada parada".
O executivo ainda completa que o uso de tecnologias já vem sendo testado em outras capitais. "Os sistemas de transporte inteligentes da cidade de Curitiba geram planos de tráfego dinâmicos que conseguem antecipar o congestionamento e estabelecer caminhos alternativos. E em Belo Horizonte, onde os ônibus frequentemente sofrem com superlotação, os padrões de congestionamento são rastreados, permitindo que as rotas comerciais sejam reprogramadas em curto prazo para atender à demanda". Dessa forma, o tema exige uma integração entre iniciativa pública e privada para desenvolver e adotar as melhores soluções tecnológicas para aumentar a eficiência para a sociedade.