O Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade (Sibraar) desenvolvido pela equipe da Embrapa Agricultura Digital com tecnologia blockchain para rastrear produtos agroindustriais está adaptado à comunicação junto ao mercado internacional. O avanço é resultado de acordo de cooperação técnica assinado em agosto com a Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil. A GS1 é desenvolvedora de padrões globais de identificação e atua em 150 países e tem sede no Brasil.
A partir de QR Code, o Sibraar já permitia o acesso a informações seguras e auditáveis sobre a qualidade e procedência dos produtos desde a propriedade rural, às etapas de processamento, distribuição e comercialização. Agora, o sistema tem interoperabilidade internacional, ampliando benefícios àqueles que o adotem. O Sibraar também está apto a agregar empresas e tecnologias de rastreabilidade que já operam no mercado.
A iniciativa tem o reconhecimento da secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Renata Miranda, participante do debate sobre as novas regras de importação da União Europeia. Segundo ela, o Mapa entende que permitir a auditabilidade dos dados sobre produtos agropecuários é uma medida de proteção para o produtor e um diferencial frente aos competidores mundiais.
"A partir do Sibraar, teremos mecanismos para comprovar a origem e a alta qualidade dos produtos agropecuários brasileiros", avalia a secretária. Ela adianta que a pasta estuda iniciativas de incentivo à adesão do setor produtivo a processos de rastreabilidade que viabilizem o gerenciamento simplificado de documentos. "Parabenizo a Embrapa por trazer a solução certa na hora certa", comemora Miranda.
O chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital, Stanley Oliveira, acredita que a transparência sobre a procedência dos alimentos se tornou um diferencial de mercado. Para ele, a validação técnica do Sibraar junto a uma organização como a GS1 vai aumentar a credibilidade da ferramenta. "A adoção da tecnologia vai abrir novas fronteiras aos produtores com ampliação do sistema em escala comercial, já que o Sibraar estabelece uma referência tecnológica para interoperabilidade entre as opções de mercado", argumenta o gestor.
Investimento
"A rastreabilidade agroindustrial deve ser vista como investimento", destaca a CEO da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, Virginia Vaamonde. Para ela, a parceria com a Embrapa expande e consolida a presença da organização junto ao segmento, ao ressaltar o papel da agroindústria no abastecimento interno e no desempenho exportador do País.
O setor de alimentos tem passado por profundas transformações para atender às demandas regulatórias e do consumidor, relacionadas à sustentabilidade, garantia de origem, saúde e qualidade de vida. "O Sistema GS1 agrega nessa parceria a identificação e a comunicação na cadeia de suprimentos, viabilizando o processo de rastreabilidade e programas de segurança de alimentos, trazendo ao mercado brasileiro uma padronização de estrutura de URL, como o GS1 Digital Link", destaca Virginia Vaamonde.
A tecnologia
A arquitetura do Sibraar foi desenhada pela equipe da Embrapa sob liderança do pesquisador Alexandre de Castro. O armazenamento e processamento das assinaturas digitais dos dados ocorre nos servidores da Empresa seguindo protocolos de segurança. O uso da tecnologia blockchain já confere segurança e integridade das informações por meio do encadeamento automático das assinaturas digitais de lotes de fabricação, com informações disponibilizadas em códigos bidimensionais QR.
Ferramentas criptográficas gravam as informações em uma cadeia de blocos (blockchain), criando uma trilha para a auditabilidade dos dados, sem risco de alterações, explica Castro. No entanto, faltava adotar uma "linguagem" global que integrasse o Sibraar aos sistemas internacionalmente aceitos, possibilitando a comunicação em âmbito externo.
Foi o que motivou a parceria com a Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, responsável por trazer ao mercado brasileiro uma padronização de estrutura de URL e dotada de expertise técnica para adaptar o QR Code do Sibraar ao padrão internacional, aponta o supervisor de negócios da Embrapa Agricultura Digital, Anderson Alves.
"A Embrapa busca se posicionar no mercado de rastreabilidade de produtos agrícolas como um agente de padronização de processos, tendo o Sibraar como seu principal instrumento, e por isso, adotar o novo padrão global de códigos da GS1, o GS1 Digital Link, irá permitir a entrada do sistema em todas as cadeias do agro", prevê Alves.
A cadeia de suprimentos de alimentos representa 30% da base de associados da GS1, com aplicações em alimentos processados, produtos frescos – como frutas, legumes e verduras -, além de carnes e ao setor de foodservice, que são também áreas de possível inserção do Sibraar.
Mercado internacional
A União Europeia (UE) é o segundo principal destino das exportações brasileiras (17%), atrás apenas da China (33%). Em junho último, o bloco aprovou a chamada "lei anti-desmatamento", que afeta inicialmente 356 produtos provenientes de sete cadeias produtivas: cacau, borracha, café, carne bovina e couro, madeira e papel, óleo de palma e soja.
Para a secretária Renata Miranda, o Sibraar, com padrão internacional, será uma tecnologia essencial para responder a mercados mais exigentes. "O sistema tem flexibilidade de aplicação nas mais diversas cadeias produtivas, atendendo às demandas do pequeno ao grande produtor, garantindo as informações de origem e de fluxo logístico", diz.
"É o Brasil se destacando na inovação agrodigital e valorizando a exportação do agronegócio", avalia a secretária. "O Sibraar resolve uma de nossas maiores preocupações, pois a nova lei europeia pode aumentar a desigualdade entre os maiores e menores produtores, que não possuem meios de responder e competir em mercados tão complexos", completa.
Vantagens da adoção da rastreabilidade
Imagine chegar ao supermercado e, ao invés de sair à procura de um leitor de código de barras, ser possível usar o celular para escanear o QR Code do produto para obter o preço da mercadoria, dados sobre a presença de alergênicos e, ainda, receber alerta sobre a validade do produto.
A facilidade está mais perto de virar rotina no dia-a-dia das famílias, desejosas por informações sobre procedência, composição dos alimentos, boas práticas de produção e atendimento à legislação vigente. Uma demanda que faz crescer o mercado global de rastreabilidade de alimentos. Estudo recente feito pela Emergen Reserch indica que o segmento vai movimentar 9,75 bilhões de dólares em 2028.
A atenção do setor produtivo relacionada a perdas por inconsistências no cadastro de produtos também concorre para tal crescimento. Pesquisa realizada pela GS1 em abril deste ano mapeou os principais problemas que revertem em perdas, que poderiam ser reduzidas ou eliminadas com a adoção da rastreabilidade.
Entre as ocorrências mais vivenciados estão: as compras e carregamentos emergenciais (37%) e atrasos na entrega para o distribuidor/varejo (30%) até a recusa recebimento de produto por erro de informações (15%) e o cancelamento de pedidos por varejistas por erros de cadastro (14%). Acesse aqui a íntegra da pesquisa e veja no quadro as soluções que a rastreabilidade pode oferecer.
O primeiro açúcar mascavo rastreado com a tecnologia blockchain do Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade da Embrapa e produzido pela Usina Granelli já acenava ao mercado internacional após o sucesso interno obtido em pouco mais de um ano do lançamento do produto (2022).
"O Sibraar, com a chancela da Embrapa, ajudou a fechar com chave de ouro o nosso açúcar mascavo. Vendemos 100% da produção, 10 mil quilos no primeiro lote de fabricação, e abrimos mais de 300 clientes para a empresa", conta a diretora da usina, Mariana Granelli.
A usina também adotou o sistema da Embrapa para o açúcar demerara e planeja utilizá-lo para o xarope de cana para produção de cachaça, em desenvolvimento. A entusiasta da rastreabilidade como forma de diferencial de mercado, comemora a iniciativa de integração do Sibraar a padrões globais de comunicação em parceria com a GS1, uma instituição dotada de expertise internacional.
Entre as vantagens da rastreabilidade, a diretora aponta a construção de reputação junto aos mercados e ao consumidor final pela transparência e visibilidade da gestão da empresa, dotada de boas práticas nas etapas de produção. Além da melhoria da relação com fornecedores de matéria prima, mediante a rapidez na identificação de problemas relativos à conformidade dos produtos, em especial.
O desenvolvimento do projeto piloto do Sibraar com o açúcar mascavo da Granelli contou com o apoio da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana).