Enquanto se discute privacidade do usuário na Internet, passa despercebida no debate a diferença fundamental pela qual a rede está passando atualmente com o crescimento do tráfego móvel. Durante o 27º Seminário Internacional ABDTIC em São Paulo nesta terça, 3, o diretor internacional de privacidade e políticas públicas da associação de operadoras móveis GSMA, Pat Walshe, atentou para problemas de uso de dados de localização em smartphones, que podem não ser tão fáceis de serem contornados.
"A indústria leva as pessoas a trocarem de smartphone regularmente. Mas, se eu vendo meu device e, se você comprar, é provável que a sua primeira experiência online seja influenciada pelo meu comportamento", alerta. "Como posso me desassociar? Não sei se a indústria está pronta para essa dissociação." Ele aponta ainda para a infinidade de termos de privacidade e a dificuldade de instruir o usuário sobre o que de fato está sendo autorizado em termos de uso de informações pessoais.
Ele exemplifica com aplicativos que solicitam o uso de dados de localização e não costumam deixar claro a destinação dessas informações sobre o usuário, além de serviços de transmissão de dados por proximidade de campo que podem ferir a privacidade. "Quando você faz uma transação de NFC, (o serviço) pode capturar a localização", explica Walshe. "Aplicativos também, que pedem para usar a localização e não deixam claro por que precisam disso."
Outro problema é a sinalização de smartphones, que, ao procurar redes Wi-Fi disponíveis, enviam dados constantemente. "Os aparelhos transmitem o endereço Mac, e os varejistas descobriram isso e podem ver aonde você está andando no shopping", exemplifica.
Ele cita um acordo de fevereiro de 2012 feito por empresas de tecnologia como Google, Microsoft e Apple que pretendem criar diretrizes sobre regulação específica para dispositivos móveis. Outra iniciativa é do governo colombiano, que, por meio da Comisión de Regulación de Comunicaciones (CRC), promove debate sobre a questão. "Estão buscando o equilíbrio certo, do fato que é preciso criar oportunidades econômicas, que precisa ter dados para o público para capacitar (economicamente) as pessoas, como ter privacidade sem trancafiar tudo e perder oportunidades", diz. "Eles convidaram pessoas do mundo inteiro para debater esses tópicos, e eu não vejo isso acontecendo aqui (no Brasil)", critica.
Pat Walshe diz que esse tipo de discussão precisa de uma abordagem agnóstica de tecnologias e serviços. "Por que a localização da operadora tem de ser tratada de forma diferente pelo regulador do que a empresa de serviços GPS?", compara. "O que precisamos é pensar que riscos endereçar."
Fugindo do trânsito
No entanto, há casos válidos de uso de informações coletadas em dispositivos móveis. O presidente da Mobile Entertainment Forum (MEF), Rafael Pellon, cita o caso do aplicativo colaborativo de trânsito Waze. Segundo ele, o Brasil é um dos líderes mundiais em utilização do app, que usa dados dos próprios usuários para sugerir rotas alternativas ao trânsito. "A prefeitura do Rio de Janeiro trabalha com o Waze e os usuários cariocas informam à CET-Rio os dados do tráfego. Os dados estão sendo alimentados em tempo real para o Centro de Controle, ele puxa os dados e o Waze entrega de bom dado para a melhoria do trânsito", explica Pellon. "E eles usam para avisar serviços de emergência."
Segundo o executivo, os dados não são identificados e são apagados todos os dias depois da hora do rush. "Ele limpa a base, pois não consegue lidar com tanto (volume) e depois que acabou a situação de caos, não precisa mais", afirma.