Apesar de as indústrias brasileiras terem investido mais em pesquisa e desenvolvimento (P&D), no triênio de 2009 a 2011, atingindo R$ 64,9 bilhões — o equivalente a 2,56% da receita líquida de vendas —, a taxa de inovação da atividade caiu para 35,7% no período, de acordo com a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), divulgada nesta quinta-feira, 5, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 2006 e 2008, essa taxa havia sido de 38,1%.
Esse aparente contrassenso pode ser explicado por uma série de fatores. Um deles é que, apesar de as empresas terem mostrado um esforço para inovar, nem sempre isso se configura em aumento da taxa de inovação, pondera o gerente da Pintec, Alessandro Pinheiro. Outro aspecto apontado por ele é que o resultado do investimento em inovação normalmente demora a aparecer, e muitas vezes não entra no mesmo triênio.
Pinheiro observa que nesse rol de fatores é preciso incluir também a crise financeira que eclodiu em 2008, bem como os elevados custos para inovar e a falta de pessoal qualificado, além de uma maior aversão ao risco, conforme mostra a pesquisa. "Todos esses componentes podem ter induzido uma mudança de comportamento do empresariado e esfriado os planos das empresas que pretendiam investir ainda mais em inovação." O coordenador da Pintec ressalta também que a valorização do real no período incentivou as importações, particularmente da China, e promoveu uma autêntica invasão de produtos daquele país no mercado nacional.
A maior expansão da taxa de inovação ocorreu no segmento de serviços selecionados (edição, telecomunicações e informática), que cresceu 36,8%, acima dos 35,6% da indústria. Apesar disso, Pinheiro observa que não é possível comparar os dois períodos e concluir que houve aumento. "Os resultados não são diretamente comparáveis, uma vez que houve a inclusão do setor de eletricidade e gás e dos serviços de engenharia, arquitetura, testes e análises técnicas." "Também é preciso considerar que os serviços selecionados são intensivos em conhecimento e normalmente apresentam índices mais elevados e inovação."
A pesquisa mostra que na indústria houve predominância de empresas que inovaram apenas em processo (18,3%), seguidas pelas inovadoras em produto e em processo (13,4%). Apenas 3,9% inovaram só em produto. Nos serviços selecionados, 21,8% das empresas inovaram tanto em produto quanto em processo, 9,7% foram inovadoras apenas em processo e 5,4% somente em produtos. Entre as empresas do setor de eletricidade e gás, 41,9% das empresas que inovaram somente em processo, 1,8% em produto e processo e 0,4% só em produto.
Ferramentas de inovação
O principal instrumento utilizado pelas empresas para a implementação das inovações foi a compra de máquinas e equipamentos, considerada de importância alta ou média para 73,5% das empresas inovadoras. Na sequência, aparecem treinamento (59,5%) e aquisição de software (33,2%). Na indústria, esta sequência se mantém, com a aquisição de máquinas e equipamentos sendo a mais relevante para 75,9% das empresas, seguida de treinamento (59,7%) e aquisição de software (31,6%).
Já nos serviços selecionados, a atividade de treinamento foi apontada como a mais relevante para 57,0% das empresas, seguida da aquisição de máquinas e equipamentos (51,9%). Em contraposição, aparece como menos importante para ambas, a atividade de aquisição externa de P&D (6,4% para a indústria e 12,0% para serviços selecionados). Nas empresas de eletricidade e gás, as atividades relacionadas a treinamento (67,6%) e aquisição de software (65,5%) foram as de maior relevância.