Os "negócios abertos", pautados por maior flexibilidade e transparência, são uma tendência em diversos países e abriram portas para que os mais variados negócios se moldem às demandas futuras. Parte importante deste cenários são as APIs, que atuam nas definições e protocolos para a criação de aplicações de software, permitindo a conexão de soluções e serviços para o Open Business.
Popularizado rapidamente no Brasil, um dos mercados-chave de Open Finance no mundo, esse tipo de ecossistema está em ascensão não somente em território brasileiro. De acordo com o Open Finance Index, da associação global Open Banking Excellence, o país atingiu 5 milhões de contas conectadas menos de um ano após o primeiro deadline de implantação. Como efeito de comparação, o Reino Unido levou cinco anos para chegar neste número. Já nos Estados Unidos, há 42 milhões de contas conectadas. A região foi pioneira no uso de APIs, tendo a indústria local migrado para as APIs antes ainda da existência de regulações. Por fim, na América Latina, o relatório destaca o México, que está construindo seu mercado em cima de sua lei de fintechs, e Colômbia, Chile e Argentina ainda estão no início da jornada.
Mas e agora? Onde a evolução Open vai chegar?
Ainda há muito campo a ser explorado neste ecossistema. Um deles é a interoperabilidade, que é a capacidade de diferentes sistemas e organizações trabalharem em conjunto para compartilharem informações de maneira eficiente. Deste modo, uma abordagem baseada em APIs é a chave para facilitar a comunicação entre diversos sistemas.
Dentro deste conceito, o Brasil está no nível 1.0 de interoperabilidade, enquanto outras regiões ainda estão pavimentando essa estrada de troca de dados. Atualmente, no Brasil, empresas de um mesmo setor de atividade podem compartilhar dados, usando um mesmo padrão de integração. Tudo isso ocorre não somente por vias tecnológicas, mas também por meio de uma regulação própria, baseada em consentimento. Um dos exemplos práticos é o Open Banking, que conta com regras criadas pelo Banco Central e padrões de integração tecnológica baseados em APIs.
Uma vez concluída a jornada 1.0, o próximo passo será a interoperabilidade 2.0, que prevê o compartilhamento de dados de crédito, e outros tipos de informações de um consumidor, entre empresas de setores diferentes. Por exemplo, informações sobre hábitos de pagamento de uma conta são o suficiente para um banco calcular a capacidade de crédito do consumidor, permitindo fazer cálculos de risco e compartilhando este perfil com empresas de outros setores, tal como telecom.
Para alcançar este patamar, será necessário criar um ecossistema totalmente novo e uma regulação entre dois ou mais setores. Do ponto de vista tecnológico, já há avanços, uma vez que as APIs já estão disponíveis para atuar na arquitetura de compartilhamento de informações. Porém, para que isso ocorra, é necessário que todos os setores envolvidos já estejam em uma fase madura de interoperabilidade 1.0 para garantir um intercâmbio de dados seguro e regulamentado.
Compartilhamento de informações além das fronteiras
A integração de dados entre empresas de setores diferentes não será o passo final. A interoperabilidade 3.0 acontecerá quando companhias de um mesmo setor, mas de países diferentes, compartilharem dados sobre um mesmo indivíduo. Isso irá facilitar o acesso dos consumidores às linhas de crédito e serviços, garantindo uma jornada de compra segmentada e mais assertiva fora de seu país de origem. Além disso, as empresas poderão expandir seus negócios para outros mercados com elevados níveis de segurança, em relação a fatores como inadimplência, por exemplo.
Para tirar a ideia do papel, acordos entre dois ou mais países deverão acontecer. A interoperabilidade 3.0 necessita de contextos extremamente maduros de interoperabilidade 1.0, mas não de interoperabilidade 2.0, uma vez que trata da integração de empresas e entidades do mesmo setor de atividade. Atualmente, já há troca de informações entre bancos de países diferentes, mas ela se resume praticamente a ações sobre envio e retirada de dinheiro. A Swift (sigla em inglês para Sociedade para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), um hub de operações financeiras internacionais, é responsável pelas operações.
No entanto, este é um sistema limitado. A interoperabilidade 3.0 será mais segura, evitando lavagem de dinheiro, um problema grave e existente na transferência de capitais internacionais. Com o apoio das APIs, o ecossistema terá as vantagens de proteção contra inadimplência e escalabilidade.
Ao aplicar essas inovações em empresas, é possível analisar que o modo de fazer negócios entre companhias vai extrapolar as barreiras de países, mantendo a roda da economia girando em diversas frentes e fortalecendo a oferta de soluções e produtos. O trunfo vai ser oferecer uma jornada personalizada e segura para os consumidores, independente de sua localização.
Do ponto de vista do consumidor, ele continua sendo o protagonista desta onda de inovação. Todas as interoperabilidades são baseadas no consentimento do usuário. Sendo assim, é necessário ter aprovação de compartilhamento de dados e saber qual será sua finalidade. No final, investir em interoperabilidade é um jogo ganha-ganha para todos os players deste cenário, trazendo benefícios para os países, aumentando o engajamento de consumidores com as empresas e fortalecendo negócios locais e internacionais.
Alexandre Gomes, Diretor Executivo na Sensedia.