Após um período de ajustes no mercado de investimentos, as perspectivas para 2025 indicam um cenário promissor para o ecossistema de startups no Brasil. Obviamente há desafios impostos por um ambiente macroeconômico com taxas de juros elevadas e investidores mais seletivos, entretanto, é justamente nesses momentos que grandes oportunidades são criadas. Esse retorno dos investimentos em startups será essencial não apenas para fomentar a inovação, mas também para impulsionar a economia como um todo. Startups desempenham um papel crucial ao introduzir soluções disruptivas que aumentam a eficiência de diversos setores, geram novos empregos e promovem a competitividade do Brasil no cenário global. Desde tecnologia e saúde até agronegócio e energia limpa, essas empresas emergentes têm a capacidade de transformar desafios em oportunidades, contribuindo para o avanço sustentável do país.
O ano de 2025 promete ser marcado por uma maior maturidade tanto dos empreendedores quanto dos investidores. Os aprendizados obtidos em anos anteriores devem resultar em alocações mais estratégicas e criteriosas. As startups com modelos de negócios sólidos e alinhadas às demandas reais do mercado estarão em posição de destaque para atrair recursos e expandir suas operações. Enquanto em 2023 e 2024 muitas startups seguraram novas captações, focando no breakeven de suas operações, em 2025 será necessário voltar a captar para crescer.
Uma pesquisa da Distrito mostra que, somente no primeiro trimestre de 2023, os investimentos em startups brasileiras foram 86% menores do que no mesmo período de 2022. Outro estudo, este da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), em parceria com a TTR Data, mostra que de janeiro a setembro de 2023 os fundos de venture capital no Brasil alocaram R$ 5 bilhões, o que foi apenas um terço do valor alocado em 2022.
O fato é que os anos de 2020 e 2021 foram o ápice do mercado de venture capital brasileiro, pelo excesso de capital disponível em função da taxa de juros muito baixa. Neste cenário, investidores buscaram investimentos alternativos e, mesmo sem experiência em investir em startups, muitos se aventuraram nessa classe de ativos, puxando os preços para cima, o que gerou uma bolha, que estourou no final de 2022 e se refletiu em 2023. Mas chegamos a 2024 e o que vemos é um cenário completamente diferente, e muito mais realista. A pesquisa Venture Pulse Q2 2024, realizada pela KPMG, mostra que no segundo trimestre deste ano o mercado global de venture capital atingiu o maior crescimento dos últimos cinco trimestres, com US$ 94,3 bilhões em investimentos.
O estudo mostra que, entre os países da América Latina, o Brasil foi o que teve maior crescimento. Por aqui, os investimentos em venture capital mais que dobraram neste período, chegando a US$ 816,8 milhões, o maior crescimento registrado desde o terceiro trimestre de 2022. Este novo cenário é estimulado, de um lado, pela necessidade de inovação do mercado, já comentada acima, e de outro, por uma demonstração, do lado das startups, de uma visão mais realista do mercado.
Com o estouro da bolha, além das avaliações estarem sendo feitas hoje em bases e valores mais realistas, também as startups começam a surgir a partir de business plans mais bem elaborados e consistentes. São sinais do amadurecimento do mercado e que nos levam a apostar que a próxima safra de startups investidas no País deve trazer resultados muito melhores do que os registrados por seus antecessores durante a bolha, com foco especial em inteligência artificial (IA). Apesar do hype, a IA, de fato, é uma tecnologia que deve transformar diversos setores e, portanto, é atraente para investimentos de fundos de venture capital, que buscam esse tipo de inovação disruptiva. Enquanto as big techs devem ser as responsáveis pelo fornecimento dos grandes modelos de linguagem, as startups se encarregarão de desenvolver aplicações específicas, para setores como saúde e logística. Mas este é assunto para um próximo artigo.
Felipe Zaghen, CEO da Invest Tech.