Os ganhos prometidos pela IA para a economia digital do Brasil exigem que, primeiramente, outra instância digital seja equacionada: a disseminação das redes 5G. Trata-se de um quadro em que a prosperidade e a nova infraestrutura de rede precisam avançar juntas. Uma análise do Fundo Monetário Internacional indica que, até 2035, a disseminação do binômio IA/5G pode fazer o PIB brasileiro aumentar em 5%. Em relação à IA, especificamente, o que entra em cena é um novo nível de produtividade do trabalhador. Embora o índice PTF (Produtividade Total dos Fatores) contabilize os ganhos trazidos pela IA, vai muito além disso. No setor industrial, por exemplo, inclui o uso de tecnologias avançadas de IA, IoT, OT e fatores como custos e qualidade de insumos. O estudo do FMI indica que a IA distribuída com altíssima performance e baixa latência pela rede 5G pode contribuir para acelerar o PTF brasileiro nos próximos 10 anos entre 4 e 8%.
Sinergia entre IA e 5G
A forte sinergia entre IA e 5G é facilmente explicável. A carga de trabalho da IA, embora muito maior em escala, é muito semelhante a do 5G em termos de gestão de dados e exigências de eficiência. Os dois modelos são inteiramente baseados na nuvem hibrida – escalabilidade e distribuição por vários pontos geográficos e em vários formatos (Edge, Cloud, Fog) são a regra. Outra característica em comum é a ênfase no modelo 'Software Defined". Sim, o novo hardware desenvolvido pela NVIDIA e por outros líderes em inovação é o que tem permitido que o High Performance Computing torne-se realidade em data centers de todos os portes em todo o mundo. Mas a forma como as aplicações IA navegam neste universo físico é totalmente Software Defined. Um mar de dados é 24×7 processado nos dois tipos de IA, o treinamento de IA – em que a aplicação aprende e não atende o usuário – e a inferência de IA – que responde diretamente ao acesso do usuário.
O casamento entre a IA e o 5G exige cuidados tanto com a camada de aplicação e APIs (os dados da IA) como de infraestrutura de rede. O setor de telecomunicações brasileiro sabe disso, e tem buscado soluções para o dilema de simultaneamente ampliar sua presença 5G e interiorizar o que há de mais avançado em IA tanto em seus processos administrativos como em suas ofertas para o mercado.
Do ponto de vista de infraestrutura, trata-se de um mix de data centers principais (Cloud Computing) operando em conjunto com uma miríade de data centers na borda (Edge Computing), tudo baseado num modelo que ou já é 5G ou está preparado para o 5G. Cresce a cada dia, também, o interesse das operadoras pelas soluções que integram perfeitamente o hardware HPC – como NVIDIA – com a gestão e proteção de todas as camadas dessa rede ultra distribuída e complexa. Isso é o que o mercado conhece por Telco Cloud. Há casos em que o core de nuvem da Telco ainda é sua nuvem privada, com apenas algumas aplicações rodando na nuvem pública.
Presença da nuvem nas Telcos e nas organizações usuárias
De uma forma ou de outra, porém, a nuvem é uma realidade nas Telcos brasileiras e ainda mais no mundo corporativo brasileiro – o mercado usuário. A velocidade dos negócios, em especial a velocidade de atualização e entregas de Apps e APIs responsáveis por fazer o negócio girar, tem lançado luzes sobre o desafio de levar a rede IA/5G o mais próximo possível do ponto de consumo de dados, do ambiente do cliente.
É neste contexto que começa a ser analisado o conceito de Customer Edge, em que uma instância da nuvem hibrida – com a possibilidade de ser a nuvem da Telco – está instalada dentro da organização usuária. No Brasil, um diferencial da adoção do modelo Customer Edge é o fato de integrar na visão única da nuvem até mesmo ambientes on-premises. É algo essencial num mercado baseado em estruturas heterogêneas e de gerações variadas.
Em todas as suas configurações, o Customer Edge tem de ser parte de uma nuvem global 5G que se destaque pelo forte foco em entrega segura de aplicações e de APIs. É algo essencial para o sucesso desta proposta. Um estudo recente revela que os ataques contra a nuvem cresceram 75% entre 2023 e 2024 (dado global).
Essa abordagem é baseada em algumas colunas de funcionamento:
- Latência reduzida: Ao processar os dados mais perto de onde eles são gerados e consumidos, o Customer Edge reduz o tempo que os dados levam para viajar pela rede. Outro ganho é a melhor experiência do usuário. O carregamento dos Apps é mais curto, cativando os usuários finais, sejam clientes ou colaboradores.
- Segurança no Edge: A mplantação de funções de segurança neste modelo permite políticas de segurança mais localizadas e personalizadas, o que reduz a superfície de ataque e limita o impacto de possíveis violações, incluindo as baseadas em IA.
- Eficiência de custos: Uma meta primordial dos líderes brsileiros é economizar na largura de banda contratada com terceiros. Ao processar e filtrar dados no Edge, a quantidade de dados que precisa atravessar a rede principal é minimizada.
- Escalabilidade: As implementações de borda podem ser dimensionadas para atender à demanda local, permitindo que as empresas adicionem ou removam capacidade conforme necessário. Num momento de pico, é possível escalar para nuvens globais 5G preparadas para receber essa carga de forma customizada para o cliente. Isso aumenta a velocidade e a segurança dos negócios.
Na prática, o Customer Edge "traz para casa" avançados recursos de IA, ML e análise comportamental, em escala e numa rede 5G. A meta é defender a empresa usuária contra ataques baseados nestas mesmas inteligências. A proteção de dados críticos rodando em Apps e APIs passa a ser feita de modo local e global. Neste modelo, soma-se às equipes do cliente os times de experts em fraudes e segurança digital. Todos trabalham juntos para defender de maneira preditiva os ativos digitais em geral e os criados pela IA – a nova superfície de ataque. Para a economia brasileira, trata-se de fortalecer a resiliência dos negócios que dependem de Apps, APIs, IA e 5G para, em 2025, atingir sua plenitude.
Carlos Cunha, Gerente de Vendas para Service Providers da F5 Brasil.