A Apple é a empresa de tecnologia dos EUA com a maior reserva de caixa, mas em contrapartida é, também, a mais endividada do setor. O volume acumulado em caixa pela companhia saltou 12% em 2014, para US$ 178 bilhões, enquanto a dívida de longo prazo totalizava mais de US$ 40 bilhões em 28 de março, de acordo com dados da Moodys Investors Service.
O montante impressiona também por estar bem acima das dívidas de pesos pesados da indústria de tecnologia como IBM, Oracle, Microsoft, Cisco e Intel (veja gráfico abaixo).
A agência de classificação de risco atribui o endividamento elevado da empresa aos seus programas de recompra de ações e à política de distribuição de dividendos. Desde setembro de 2012, a Apple levantou aproximadamente US$ 36 bilhões com a emissão de títulos de dívida. Na quarta-feira, 6, ela anunciou que está preparando uma nova rodada de emissão de títulos, por meio da qual espera levantar cerca de US$ 7 bilhões.
"A Apple está buscando dinheiro para apoiar seus programas de recompra de ações e de pagamento de dividendos", disse Richard Lane, vice-presidente sênior da Moodys, ao Investor's Business Daily.
Dinheiro no exterior
A estratégia de recorrer ao mercado de títulos foi a forma encontrada pela Apple e outras empresas de tecnologia norte-americanas para não ter de repatriar o dinheiro que mantêm no exterior e pagar um imposto substancial sobre ele nos EUA.
De acordo com a Moodys, as empresas não financeiras dos EUA contabilizavam US$ 1,73 trilhão em caixa no fim de 2014, aumento de 4% ante o ano anterior, sendo que a Apple realizou 10,2% do total em caixa das empresas.
A agência de classificação de risco estima que as empresas tenham hoje US$ 1,1 trilhão em caixa no exterior — ou seja, 64% do caixa total —, cifra 58% acima dos US$ 950 milhões registrados no ano passado. Somente o setor tecnologia contabilizava US$ 690 bilhões, ou 39,8% do dinheiro em caixa das empresas não financeiras no fim do ano.
Ao divulgar os resultados do segundo trimestre do ano fiscal de 2015 em 27 de abril, a Apple anunciou que havia expandido seu programa de ganho de capital (GCAP, na sigla em inglês) em mais de 50%, para US$ 200 bilhões, em março de 2017. A fabricante do iPhone aumentou seu dividendo trimestral em 11%, para US$ 0,52 a ação. Desde que o GCAP começou em 2012, a Apple retornou 100% do seu fluxo de caixa livre aos acionistas, diz banco de investimento Morgan Stanley.
"Os investidores com quem falamos foram beneficiados em US$ 70 bilhões com o aumento do programa de alocação de capital da Apple, mesmo assim alguns deles consideram o aumento do programa de recompra de ações para US$ 50 bilhões uma decepção, dada a desaceleração percebida versus o ritmo de recompra histórico", disse o analista do Goldman Sachs, Bill Shope, em um relatório. "Gostaríamos de salientar que a Apple tende a trabalhar com a grande maioria das recompras no prazo de um ano (aumentando a cada abril), portanto, visto sob o período de dois anos pode ser menos relevante."
Segundo o analista, o programa de US$ 50 bilhões representa uma expansão em termos relativos em relação às recompras do ano passado por trimestre. "Diante disso, não visualizamos o novo buyback como decepcionante."