Mesmo com todas as tendências que os levam a acreditar que a batalha possa estar perdida para o ISDB-T na questão do padrão de TV digital, o DVB Fórum insiste em continuar discutindo as vantagens para o Brasil da adoção do seu sistema, que eles denominam ?sistema mundial? em função de sua penetração em todos os continentes.
Nesta terça-feira, 6/6, uma comissão que contou inclusive com a presença de Paulo Lopes, representante da Comissão Européia para assuntos de tecnologia da informação, o DVB apresentou a jornalistas e autoridades brasileiras a proposta de criação do Fórum DVB-LAC (Latin America and Caribbean).
Será uma instituição que, quando criada (o plano de trabalho e definição da estrutura deverá ser feita no próximo dia 20 de junho em uma oficina de trabalho em São Paulo), pretende dar continudiade às propostas da Comissão Européia feitas ao governo brasileiro: aglutinar centros de pesquisa (mesmo os pequenos) para um processo de colaboração internacional oferecendo verbas (cerca de R$ 100 milhões/ano) para pesquisa e desenvolvimento incentivadas ou de risco para projetos de interesse individuais ou coletivos; oferecer suporte financeiro por meio de fundos de pesquisa (nos moldes do Information Society Tecnology ? IST desenvolvido pela Comissão Européia); e finalmente oferecer financiamento para desenvolvimento de novas implementações do DVB terrestre, satélite e cabo e suas extensões como o DVB-H (sistema móvel) em desenvolvimento.
Se o Brasil ficar com o ISDB…
Segundo Walter Duran, dirigente da Philips, se o Brasil optar pelo padrão japonês, evidentemente que o país não será mais o líder do processo de criação do DVB-LAC, como atualmente se configura: ?Por esta razão, estamos desenvolvendo um trabalho de longo prazo com vistas a atingir toda a América Latina e o Caribe.
Se o Brasil ficar de fora, será uma pena, apesar de que, atualmente, os sistemas digitais de TV a cabo e de DTH no Brasil utilizam o DVB. Mas a parte terrestre vai ficar de fora. Duran adiantou que está indo ao Chile ainda nesta semana para acertar a participação dos representantes da Universidade Católica na reunião de São Paulo dia 20.
Além dos chilenos também virão os argentinos e os uruguaios que já foram contatados. O dirigente acredita que se o Brasil optar pelo ISDB, nenhum outro país da América Latina, nem mesmo os do Mercosul, deverá seguir o mesmo caminho: ?Não há nenhum interesse deles em relação ao sistema japonês. Aliás, também não há interesse dos japoneses em relação aos demais países latino-americanos. Este interesse só é manifestado em relação ao Brasil, que se escolher o padrão deles, vai acabar sendo o único país do mundo a fazê-lo?, disparou.
Não há sinais de acolhida
Para Mário Baumgarten, diretor de tecnologia da Siemens, apesar de todas as tentativas de se fazer ouvir pelo governo brasileiro, os resultados têm sido muito pouco proveitosos, pelo menos em relação à área técnica e empresarial.
?Felizmente, nas últimas semanas, além do contato feito diretamente com o presidente Lula durante a reunião de Viena, da visita do presidente da Comissão Européia e do presidente da França, parece que ainda há alguma abertura para discussões. Temos certeza que o nosso sistema é melhor que o japonês. Se você pegar uma lupa e cuidadosamente olhar alguns dos aspectos técnicos do ISDB, talvez você possa concluir que ele é melhor. Mas de forma alguma no conjunto das definições e especialmente em relação ao posicionamento do país no mercado mundial, o DVB é muito superior ao sistema desenvolvido no Japão. A escolha massiva pelo padrão DVB em todos os lugares onde a questão se colocou comprova isto com tranqüilidade?, afirma Baumgarten.
O dirigente empresarial reclama ainda da ausência de testes mais completos em relação aos sistemas tecnológicos e ainda de uma pesquisa acerca dos preços de equipamentos e televisores. Para ele, não há dúvida de que, pelos ganhos de escala, o DVB oferece mais vantagens que os demais sistemas.
Sem razão
Na opinião do diretor de tecnologia da Siemens, não é apenas porque o padrão japonês se encaixa perfeitamente no modelo de negócios da televisão brasileira atual que o padrão ISDB é preferido pelos radiodifusores: ?Esta é uma parte da verdade. O mais importante é que o padrão japonês é fechado. No futuro não permitirá que se mude o modelo de negócios sem conseqüências graves para o consumidor. Os radiodifusores não gostam do DVB justamente por uma de suas maiores virtudes. Trata-se de um sistema aberto que permite variações em relação ao modelo de negócios sem que seja preciso mudar a tecnologia?.
Na mesma linha de raciocínio, Walter Duran lembrou que a escolha de padrões tecnológicos inadequados será sempre traumática, pois qualquer mudança posterior representará prejuízos irrecuperáveis.