A pauta da transição energética vem ganhando cada vez mais atenção, com a crescente preocupação acerca do aquecimento global e dos impactos ambientais causados pela utilização de fontes não renováveis de energia. O tema, contudo, envolve uma série de complexidades e deve ser tratado com especial atenção, sem que a realidade do mundo em que vivemos seja negligenciada.
A substituição dos combustíveis fósseis por formas mais limpas de energia se mostra questão de tempo. Mas isso deve ocorrer com uma boa dose de cuidado e de planejamento. Não existe atualmente condição para que isso aconteça repentinamente. A guerra na Ucrânia e a crise energética por ela gerada na Europa é um fator de atenção. Mas há outros riscos envolvidos quando falamos especificamente do Brasil.
O fato de fontes de energia renováveis terem maior custo, bem como intermitência – no caso da solar e da eólica – precisa ser levado em consideração. Além disso, é necessário um plano bem estruturado para que haja absorção da mão de obra atuante no setor.
As petroleiras têm investido alto na pesquisa de fontes renováveis de energia e na aquisição de empresas produtoras de energia limpa como uma forma de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. Por conta do cenário de riscos já mencionado, o Brasil ainda recorrerá primordialmente aos combustíveis fósseis pelos próximos anos. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (Abespetro) serão investidos mais de R$ 100 bilhões no setor até 2025.
Existem, contudo, meios de reduzir os impactos ambientais envolvidos na produção desses hidrocarbonetos. O pré-sal, por exemplo, deverá, por lei, ser descarbonizado em três anos. Uma ação que vem sendo tomada é o investimento em campos que apresentam menor quantidade de carbono por barril de petróleo produzido. Convém ressaltar que os campos de Búzios e Tupi, no pré-sal da Bacia de Santos, estão entre os que menos geram carbono do mundo.
Outra maneira de tornar essa produção menos danosa reside no investimento em tecnologia de engenharia de obras, o que faz com que a construção de grandes estruturas, como plataformas de exploração de petróleo, seja mais sustentável.
A Trimble, com seu pacote de soluções Tekla, por exemplo, possui ferramentas de avaliação dinâmica da pegada de carbono, o que possibilita que essa medição seja feita ainda na fase de projeto. As implicações ambientais advindas de uma construção como essa podem ser avaliadas no programa por meio de uma calculadora, que ainda faz comparativos com outras opções estruturais e gera um relatório certificado.
Esse tipo de tecnologia trará mais celeridade e sustentabilidade na instalação de novas plataformas. Só a Petrobrás, por exemplo, deve colocar em operação mais 15 até 2026. E as construções industrializadas, de precisão milimétrica, alavancadas pelos softwares BIM, geram eficiência não apenas na construção e operação, mas também no descomissionamento desse tipo de estrutura, possibilitando que suas partes sejam utilizadas para outras finalidades após a desativação.
Nesse rumo de transição energética, que deve ocorrer de forma gradativa e cautelosa, é crucial que a indústria invista em maneiras de mitigar os impactos ambientais gerados pelos combustíveis fósseis e toda a estrutura envolvida no processo, da extração à produção. Essa é a melhor maneira de lidar com a realidade que se impõe até que tenhamos preparo para adotar de vez as fontes renováveis de energia.
Carlos Costa, diretor da Divisão de Estruturas da Trimble Brasil.