Fundada em 2010 no Rio de Janeiro, a Radix, uma empresa nacional, cresceu originariamente alavancada pelo setor de óleo e gás para se tornar uma potência tecnológica global que opera em mais de 35 países. Geraldo Rochocz, CTO e um dos principais articuladores da transformação digital da companhia, explica que ela se consolidou como referência em soluções de engenharia, automação e tecnologia da informação — unindo inteligência técnica à inovação digital.
Em entrevista à TI INSIDE, Geraldo relembra os primeiros passos da empresa: "No início, 80% do nosso negócio era em óleo e gás, com forte concentração em Petrobras. Com a crise do setor petrolífero e a necessidade de diversificação, traçamos uma estratégia ousada de internacionalização e entrada em novos segmentos como papel e celulose, mineração, utilities e até infraestrutura e educação".
Essa mudança estrutural não só blindou a empresa contra oscilações econômicas e de commodities, como permitiu seu crescimento sustentável — com um faturamento superior a R$ 400 milhões em 2024 e crescente presença internacional, com escritórios no Brasil, Estados Unidos e Europa.
Engenharia inteligente e transformação digital
A Radix atua com três frentes principais: Energia (óleo e gás, química e utilities), Manufatura (metalurgia, mineração, papel e cimento) e Serviços (educação, infraestrutura, saúde e finanças). Em todas elas, o foco é combinar conhecimento técnico de engenharia com automação e TI para entregar soluções de alta performance. "Hoje, cerca de 80% da nossa receita vem de automação, TI e ciência de dados, e 20% da engenharia clássica, onde aplicamos muita tecnologia", explica o CTO.
Entre os projetos mais inovadores está o desenvolvimento da JO.AI, um copiloto operacional baseado em IA generativa criado em parceria com a Celanese, gigante do setor petroquímico, e a Cognite, referência em software industrial. "Esse projeto foi premiado nos EUA e é um exemplo de como unir modelos fenomenológicos, IA tradicional e LLMs de forma estratégica para otimizar a operação de plantas industriais", conta Geraldo.
O JO.AI, um copiloto de IA, foi implementado após uma ampla estruturação de dados em 50 plantas da Celanese ao redor do mundo. "Construímos uma taxonomia, um grafo de conhecimento e uma camada de dados que permitiu à LLM operar como uma interface natural com agentes que fazem cálculos e diagnósticos em tempo real — algo muito além do que uma IA generativa isolada poderia fazer.
IA com foco em eficiência
Apesar da empolgação do mercado com IA generativa, Geraldo é pragmático: "A maioria dos problemas industriais ainda é resolvida com IA discriminativa ou matemática aplicada. Temos que entender o problema antes de escolher a solução. Não adianta usar uma marreta digital para apertar parafusos".
Esse rigor técnico também está presente nos projetos de sustentabilidade. "Trabalhamos com transição energética, novos combustíveis como biodiesel e querosene de aviação sustentável, e redução da pegada de carbono e do consumo de água em refinarias. A eficientização é o coração das nossas entregas — seja para aumentar produção, reduzir custo ou impacto ambiental."
Entre os exemplos, destaca-se o trabalho com a Petrobras para otimizar o uso de água em suas termelétricas, e a parceria com a Spic Brasil, do setor elétrico, em um projeto de triagem automatizada para validar capacitações técnicas de prestadores terceirizados por meio de IA generativa
Outro vetor de inovação é o uso de visão computacional para interpretar nuvens de pontos geradas por scanners 3D industriais. "Esse é um trabalho que fazemos para a Exxon. Pegamos imagens tridimensionais de plantas industriais e usamos modelos para identificar vasos, conexões e tubulações, integrando esses dados com sistemas da planta e criando digital twins sincronizados."
Além disso, a Radix desenvolve sistemas de monitoramento em vídeo com IA para garantir conformidade de segurança em plantas industriais, detectando uso incorreto de EPIs e comportamentos de risco.
Alianças estratégicas e futuro
A Radix se diferencia não só pela profundidade técnica, mas também pela capacidade de trabalhar com grandes parceiros globais como Microsoft, AWS, Cognite, Schneider Electric, Aveva e Hexagon. "Nosso modelo de negócio inclui cooperação com essas big techs, mas com autonomia e foco na aplicação industrial. Desenvolvemos inteligência de engenharia. Não somos só integradores, somos criadores de soluções de impacto", ressalta Geraldo.
Em 2025, o copiloto industrial JO.AI foi apresentado no ARC Industry Forum, em Orlando, EUA, como um case de excelência na transformação digital industrial. "É um projeto que mostra como usar IA generativa com responsabilidade, dentro de uma arquitetura robusta e eficiente. O futuro está na combinação de múltiplas IAs especializadas, com propósito claro, segurança e sustentabilidade", afirma o CTO.
Para o executivo, o desafio agora é escalar essas soluções e seguir catequizando o mercado: "IA generativa é poderosa, mas não é uma panaceia. Temos que resistir à tentação das buzzwords e focar em resolver problemas reais com a melhor ferramenta disponível — seja ela uma equação diferencial ou uma rede neural de 45 bilhões de parâmetros."