A longa dianteira alcançada pela Apple com o iPad no segmento de tablets deve começar a ser encurtada com a chegada de novos modelos de seus concorrentes. Até o momento reinando absoluto no mercado, já que o Galaxy Tab, da coreana Samsung, só foi lançado em meados de novembro, o iPad deve enfrentar uma disputa acirrada em 2011, com o desembarque de novos modelos de tablets de pelo menos quatro fabricantes – Dell, HP, LG e a canadense Research In Motion (RIM), dona do smartphone BlackBerry.
O instituto de pesquisa Gartner projeta que já neste ano serão vendidos 19,5 milhões de tablet PCs em todo o mundo. A IDC, menos otimista, estima a comercialização de 7,6 milhões de equipamentos, conforme sua última pesquisa sobre tablets. Mas seja qual for o número, num ponto as empresas concordam: a Apple responderá pela maior parte dos produtos vendidos.
Os analistas do setor avaliam que a ascensão dos tablets trará uma mudança importante não apenas no equilíbrio de forças no mercado, mas também no cenário da computação pessoal. Isso porque, preveem eles, esses equipamentos devem rapidamente tomar espaço dos netbooks, computadores ultracompactos, de baixo custo, surgidos no mercado no ano passado. Para os analistas, a falta de inovação na indústria de netbooks é um dos fatores que levará à migração para o novo modelo de equipamento. Eles avaliam que o tablet PC será o próximo "segundo computador" dos consumidores e o principal dispositivo móvel de usuários corporativos.
Um sinal disso, ainda de acordo com o Gartner, é que as remessas globais de tablet PCs devem crescer 181% em 2011 em relação a este ano, totalizando 54,7 milhões de unidades. Em 2012 e 2013, o instituto de pesquisas prevê que serão vendidos 103,4 milhões e 154,1 milhões de tablets, respectivamente.
Vida longa aos netbooks
Apesar dessa expansão, a IDC avalia que os tablets, mesmo tendo abocanhado um espaço expressivo dos netbooks no mercado, não devem representar um golpe de misericórdia nesses equipamentos. Ao contrário, a consultoria projeta que neste ano serão vendidos 37,8 milhões de mininotebooks, como também são chamados, o que representa um crescimento de 10,3% na comparação com 2009. Em 2014, a IDC calcula que 42,4 milhões de netbooks serão comercializados em todo o mundo, um aumento anual composto de 4,3%. De todo modo, o resultado ficará abaixo do esperado, o que não deixa de ser um sintoma da ascensão dos tablets.
Na opinião de Luciano Crippa, da IDC Brasil, esses dados mostram que os tablets ainda são permeados por incertezas, portanto apostar que serão os responsáveis pelo fim dos netbooks é exagero. "O que vai determinar a canibalização é o tipo de uso que será dado ao dispositivo", diz do analista, ao observar que 2011 vai ser o ano da introdução dos tablets no mercado e somente a partir de 2012 é que as primeiras análises concretas poderão ser feitas.
Mesmo assim, o impacto dos tablets no mercado de PCs será grande e deve contribuir ao menos para que o consumidor protele a decisão de compra do segundo notebook. Já no mercado corporativo a situação será totalmente diferente, onde os tablets serão a primeira opção das empresas que forem investir em mobilidade, principalmente depois que o preço dos equipamentos tiver baixado. Isso, segundo a IDC, ainda deve demorar alguns anos.
O Gartner avalia que as vendas do segmento no ano que vem ainda estarão concentradas nos consumidores de maior poder aquisitivo, que podem pagar por produtos mais sofisticados – o iPad custa, em média, US$ 650 e o Galaxy Tab, da Samsung, R$ 2,7 mil. Portanto, o mercado dos netbooks, segundo a consultoria, ainda resistirá por dois ou três anos.
Domínio de mercado
A diretora de marketing para notebooks da Dell, Sandra Chen, avalia que os netbooks não resistirão à nova onda dos tablets. Ela calcula que os preços dos netbooks cairão acentuadamente até o fim do ano que vem, por isso ainda serão muito agressivos em relação aos tablets. Mas, a partir de 2012, ela acredita que os preços dos equipamentos eletrônicos de forma geral terão forte queda e os tablets passarão a ser usados como dispositivo portátil complementar ao notebook, bastante útil para acessar a internet, checar e-mails etc. – função que até agora tem sido desempenhada pelos netbooks –, mas com mais algumas funções, como telas que permitem assistir vídeos em alta definição e maior capacidade de processamento, que tornarão o novo produto mais atraente.
Sandra acha que esse cenário não deve levar mais que três anos para se tornar realidade. A partir daí, os tablets passarão por um movimento de estabilização, tanto de preços quanto de recursos tecnológicos, enquanto os netbooks experimentarão o fenômeno que ela chama de erosão: a concorrência dos novos dispositivos móveis vai ser tão grande que o preço dos mininotebooks terá de baixar de tal maneira que tornará insustentável para os fabricantes, que tendem a abandoná-los.
O raciocínio do diretor de marketing para telecomunicações da Samsung, Hamilton Yoshida, segue na mesma direção. Para ele, dentro de três anos os tablets devem dominar o mercado de dispositivos móveis, mas acredita que o fenômeno se dará por uma questão tecnológica. Segundo o executivo, estudos técnicos que comparam a evolução dos tablets com a de outros dispositivos portáteis revelam que todos os aparelhos tiveram um curto período de crescimento e depois se estabilizam. Ele ressalta que os tablets ainda não têm uma direção definida, nem do ponto de visa tecnológico nem do ponto de vista de uso. Para Yoshida, ainda há "muita excitação com o novo produto" para que se façam previsões abalizadas.
Mika Kitagawa, analista do Gartner, é um pouco mais cética em relação à nova febre tecnológica trazida pelo iPad. Ela defende a tese de que os tablets ainda são "aparelhos-experiência" e por isso não há como saber se serão absorvidos pelo mercado ou se o que existe é um entusiasmo de massa causado pelas ações de marketing da Apple. No mercado corporativo, Mika vê ainda mais incertezas m relação aos tablets. Ela diz não ter como avaliar se as empresas vão adotar um modelo de compra desses aparelhos como prática institucional ou se vão desenvolver aplicativos corporativos para que sejam instalados nos dispositivos móveis dos próprios funcionários.
Mas num aspecto ela concorda com os fabricantes: "Os netbooks serão realmente substituídos pelos tablets". Mika avalia que ainda vai demorar até que os novos dispositivos se estabeleçam no mercado como uma categoria de equipamento e acredita que, num primeiro momento, eles serão encarados como PCs secundários, assim como aconteceu com os netbooks. "O fator determinante para essa transformação será a evolução dos preços", sentencia ela.
- Mercado