Quem vive e acompanha a tecnologia há algum tempo, como eu, já viu o que se chama de "estouro da bolha" algumas vezes. A decisão de gestores de TI de trazer de volta os dados das empresas de nuvens públicas para um datacenter próprio ou nuvem privada da empresa pode dar a impressão aos mais afobados de que a bolha do uso de Cloud estourou. Contudo, esta é uma visão incorreta e limitada da situação. Pelo contrário, este aumento na repatriação de dados por parte das empresas faz parte de um amadurecimento do uso da nuvem, com correta avaliação sobre custos, segurança e processos por parte das organizações.
Em um primeiro momento, a promessa de diminuição de despesas de operação e manutenção, fácil escalabilidade e capacidade de operar em qualquer lugar levou muitos gestores a deixar de lado datacenters e aderir a provedores de nuvens públicas, como Amazon Web Services, Microsoft Azure e Google Cloud Platform sem pensar duas vezes. Este fator pareceu realmente oportuno durante os anos 2020-2021, com a eclosão da pandemia e a instauração quase compulsória do home office para uma série de atividades. O passar do tempo trouxe não só uma mudança de cenário do trabalho, mas uma melhor compreensão sobre o uso, viés de segurança e os custos de operar em nuvem.
Aliás, não foi preciso nem tanto tempo assim: a pesquisa "The State of the Cloud" da Frost & Sullivan em 2021, que mostrou a adesão à nuvem como líder no ranking de adoção tecnológica para atender as prioridades de negócio com 73% de relevância entre os entrevistados, também apontou que 63% das empresas já haviam feito algum tipo de repatriação de seus dados.
Se por um lado a escalabilidade tornou fácil agregar mais banda à carga de trabalho, do outro, isso foi feito sem o planejamento adequado, análise quanto à disponibilidade e latência das redes e um aumento no gasto com plataformas – as particularidades do cálculo dos preços para uso em nuvem, aliado à volatilidade do câmbio, em determinados países em desenvolvimento como o Brasil, trouxeram empecilho na previsibilidade dos valores mensais. A isso, somam-se a dificuldade no gerenciamento e segurança de dados sensíveis da empresa na nuvem pública, fechando os grandes desafios enfrentados pelos gestores de TI que motivaram este movimento de repatriação de dados para datacenters (on premises ou colocation) ou nuvem privada.
Modelo híbrido
Não houve uma falha no uso da nuvem ou da proposta de trabalhar com servidores virtuais, pelo contrário, este ainda é um mercado em franca expansão. A consultoria IDC destaca que a nuvem pública tem crescimento previsto de 36,6% ao ano até 2026, totalizando US$ 6,3 bilhões, enquanto a consultoria financeira norte-americana Stocklytics, corroborada por artigo do MIT Technology Review, apurou que este mercado movimentou US$ 595 bilhões em 2023, e espera-se que ultrapasse os US$ 690 bilhões em 2024 e rume para os trilhões até 2028.
O cenário que temos hoje é o de maturidade no uso do ambiente de cloud, convergindo a um modelo híbrido que reúna multicloud (uso de nuvem pública e/ou privada) e também servidores particulares nas empresas, fazendo o correto provisionamento das cargas de trabalho, controle de informações críticas, velocidade no acesso a dados virtualizados e, claro, custos de armazenamento, processamento e transporte mais previsíveis.
A adoção de infraestruturas híbridas mostra-se estratégica por poder desfrutar o melhor dos dois mundos. Há espaço para aproveitar a escalabilidade e backup em nuvem sem empecilhos com relação à disponibilidade e latência da rede. O modelo híbrido não deixa de ter seus desafios – integração de tecnologias, necessidade de tempo para executar a repatriação de dados com possível interrupção da operação da empresa, equipe treinada e em constante monitoramento dos ambientes, entre outros –, porém é realmente articulado para atender às singularidades das diretrizes de segurança, operacionais e financeiras da companhia.
José Roberto Rodrigues, Country Manager Brasil e Alliance Manager LATAM da Adistec.