Serviços públicos automatizados, sistemas analíticos e inteligência artificial aplicada no transporte, na comunicação, nos negócios em geral, na vida cotidiana das pessoas e nas cidades que se tornaram seguras e inteligentes. Tudo isso é realidade na China de hoje. Há pelo menos uma década a China é uma referência mundial em avanço tecnológico, com destaques para internet das coisas, meios de pagamentos, conectividade, telecomunicações, IA e muito mais.
No ano passado, Brasil e China firmaram vários acordos tecnológicos assinados entre Lula e Xi Jinping os quais abrangeram as áreas de tecnologia, satélites, semicondutores, 6G, inteligência artificial, expansão da internet, clima, turismo, investimentos em energia limpa e outros setores estratégicos. E, recentemente, os dois presidentes, logo após encontro do G20, voltaram a firmar acordos de cooperação em várias áreas essenciais.
O Brasil pode aprender várias lições valiosas com a China em termos de tecnologia e transformação digital. De acordo com o Anuário de Competitividade Digital, pesquisa do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da FDC, o Brasil está na 57ª posição, a mesma que ocupou no ano passado, com uma pequena melhoria nos fatores conhecimento e prontidão para o futuro. As melhores posições do ranking são ocupadas pelos países asiáticos, como Singapura, Coreia do Sul e Taiwan.
A China responde por 42% do comércio eletrônico global, e empresas como Alibaba e JD.com são líderes mundiais, oferecendo uma vasta gama de produtos e serviços. Em função da segunda maior população do mundo, com cerca de 1,5 bilhão de habitantes, a única forma de se obter eficiência é com a tecnologia. Por exemplo, o uso de pagamentos móveis na China é massivo, com transações que superam em 11 vezes as dos Estados Unidos. Aplicativos como WeChat Pay e Alipay são amplamente utilizados para tudo, desde compras online até pagamentos em lojas físicas.
Os investimentos em IA da China são massivos. A McKinsey estima que a IA pode adicionar entre 0,8 e 1,4 ponto percentual ao crescimento anual do PIB chinês. Os superaplicativos, como WeChat se tornaram plataformas multifuncionais, oferecendo serviços que vão desde mensagens até pagamentos e reservas de táxi. Ou seja, a China integra tecnologia em todos os aspectos da vida cotidiana.
Serviços Públicos
Um grande destaque são os serviços públicos. O governo chinês tem desempenhado um papel crucial, implementando políticas que incentivam a inovação e a digitalização, investindo em infraestrutura digital, como redes 6G e internet de altíssima velocidade, o que facilita e agiliza a expansão de negócios digitais.
O país tem liderado o desenvolvimento de cidades inteligentes, utilizando tecnologias como IoT (Internet das Coisas) para melhorar a eficiência urbana e a qualidade de vida dos cidadãos. Um bom exemplo é o centro de serviços para pessoas físicas e jurídicas na cidade de Hangzhou, o equivalente ao nosso Poupa Tempo. Num mesmo local, a automatização está implementada num nível tão elevado, que permite, num tempo médio de 5 minutos, que as pessoas consigam abrir ou fechar uma empresa e resolver 98% das questões relacionadas à Pessoa Jurídica, como: impostos, pagamentos, certidões, entre outras.
A segurança pública também é um dos pontos fortes da China. Em Hangzhou, por exemplo, os postes possuem cerca de seis câmeras de videomonitoramento em média. Por experiência nesse setor, estimo que esta cidade possua cerca de 600 mil câmeras, com 12 milhões de habitantes. A sensação de segurança em Hangzhou e em outras cidades chinesas é alta em qualquer horário do dia ou da noite.
Para chegar neste ponto, o governo chinês oferece isenções fiscais e outros incentivos para empresas que desenvolvem novas tecnologias e produtos. Isso estimula a inovação e o crescimento de setores tecnológicos. Investiu também em educação e capacitação de sua força de trabalho em áreas como inteligência artificial, big data e outras tecnologias emergentes, de forma a resolver efetivamente os problemas das grandes cidades.
Os acordos assinados poderão gerar vários benefícios ao Brasil, impactando desde redução de custos financeiros nas transações comerciais bilaterais, como também maior facilidade no acesso a financiamento e investimentos. Ainda, podemos destacar a expansão do mercado na China aos produtos brasileiros.
A relação Brasil-China está vivendo um momento bastante promissor e um leque de oportunidades se abre com a nova fase desta parceria. Mas o Brasil precisa seguir os passos do país asiático e investir em educação, formação e capacitação de profissionais qualificados, assim como direcionar verbas representativas para pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico.
Francisco Menezes, VP de Negócios da Dahua Technology Brasil.