No contexto do setor automotivo no Brasil, é essencial reconhecer a necessidade de responsabilização por danos ambientais decorrentes das emissões de poluentes e do uso de combustíveis fósseis. Nesse sentido, o avanço contínuo no campo dos carros elétricos tem gerado entusiasmo considerável e motivado inovações. No entanto, apesar da perspectiva promissora, é evidente que há um trabalho substancial a ser realizado em âmbito nacional para viabilizar uma adoção generalizada capaz de efetuar uma mudança significativa.
Desafios como insuficiência da infraestrutura de carregamento e custos elevados, associados a fatores socioeconômicos, atuam como obstáculos à adoção de veículos elétricos em larga escala no país. Embora essa situação possa parecer pessimista, é um convite para examinar nosso cenário de maneira holística e questionar: de que maneira a indústria automotiva pode contribuir para a evolução de meios sustentáveis e como podemos assumir a responsabilidade por essa evolução?
Empresas do setor devem levar em conta preocupações baseadas na performance, mas, muito além disso, o olhar voltado a produções mais sustentáveis e às implicações do descarte dos produtos passa a ser essencial para que a indústria comece a quitar sua dívida com o meio ambiente. Produtores de óleo de motor e outras empresas do ramo devem considerar a importância da eco-responsabilidade, desde a escolha de materiais provenientes de fontes vegetais renováveis até o suporte ao cliente na gestão de resíduos. Uma empresa que se considera eco-friendly deve pensar todo o ciclo de produção – da aquisição ao descarte ou à substituição de seus produtos.
Ao focar na esfera de responsabilidade dos consumidores, embora possa parecer uma influência modesta, a decisão de optar por produtos de instituições certificadas ou com um histórico documentado de compromisso ambiental desempenha um papel crucial no fomento de um ambiente sustentável no mercado automotivo.
Empresas que realmente estão engajadas na causa sustentável se beneficiam do olhar atento dos consumidores a respeito das ações de colaboração ambientais realizadas por elas. Uma pesquisa conduzida pela Union + Webster revela que a grande maioria dos consumidores brasileiros (87%) têm clara preferência por companhias que demonstrem um compromisso genuíno com a sustentabilidade em suas operações. Por outro lado, estudo realizado pela Fundação Dom Cabral envolvendo mais de 400 empresas aponta que, embora 78% delas tenham
incorporado a sustentabilidade em suas estratégias de negócios, somente 36% realmente implementaram ações concretas neste domínio.
Esses resultados ratificam a crescente importância da sustentabilidade para os consumidores e as organizações, ao mesmo tempo em que reforçam a necessidade de maior alinhamento entre intenções estratégicas e ações efetivas no campo da sustentabilidade.
A capacidade de escolher apoiar organizações que colocam essa consciência em primeiro plano transmite uma mensagem inequívoca de que a sustentabilidade é uma prioridade inegociável. Essa seleção consciente não apenas impacta diretamente as companhias, como também possui o potencial de irradiar influência, estimulando outras a adotarem práticas mais responsáveis. O efeito desse comportamento contribui para a disseminação de uma mentalidade sustentável e promove um impacto positivo contagiante em toda a indústria automotiva.
Para ampliar a perspectiva além da escala individual de cada empresa, é crucial considerar as atividades colaborativas e as associações voltadas ao desenvolvimento sustentável. No Brasil, destacam-se os incentivos significativos à produção de veículos movidos a etanol. O papel das empresas líderes no setor não se limita à adaptação, uma vez que requer uma postura proativa para elas se anteciparem a mudanças e tendências provenientes de estudos e avanços tecnológicos emergentes. Estar do lado certo no apoio a legislações que incentivem o desenvolvimento sustentável é um ótimo caminho a ser trilhado.
Ao estabelecer parcerias com programas de promoção ambiental, as companhias aceleram seu próprio desenvolvimento, assim como têm a oportunidade de criar colaborações estratégicas altamente benéficas. Tais sinergias podem resultar em inovação conjunta e contribuições significativas para a transformação do setor. Exemplo disso fora do cenário brasileiro é o IBIOLAB, projeto que desenvolve novas formulações de alta tecnologia com bom desempenho e atende aos critérios do rótulo ecológico europeu.
As progressões em termos de desenvolvimento ambiental no mercado automotivo estão longe de atingir o seu limite, transcendendo a abordagem focada exclusivamente nos estudos relacionados aos veículos elétricos. As empresas que atuam nesse setor não devem encarar suas contribuições como simples diferenciais competitivos, e sim como uma responsabilidade social inerente a essa indústria. O trabalho que precisa ser empreendido transcende a ideia do "dinheiro verde" e deve ser impulsionado por uma preocupação genuína em corrigir os erros e omissões cometidos anteriormente pelo setor automotivo em relação ao meio ambiente.
Mariano Perez, general manager da Motul Brasil.