O setor de tecnologia é historicamente dominado por homens. Embora diversas mulheres tenham contribuído com papéis e conquistas importantes na área ao longo dos anos e tenham ampliado sua participação como protagonista dentro do mercado, de maneira geral os homens seguem tendo maior reconhecimento, ocupando mais espaço e melhores cargos. Em pleno 2023, essa situação não pode ser mais tolerada e todo o setor precisa estar comprometido em encontrar soluções efetivas para ampliar a diversidade de gênero dentro do nosso segmento.
Os motivos que levam a esse cenário são vários e estruturais. A primeira mudança precisa ser na formação profissional, que carece de estímulos para a participação feminina. Em cursos de graduação na área de tecnologia, a imensa maioria das turmas é composta por homens. Uma pesquisa realizada pela Accenture nos Estados Unidos em 2019 com 2.700 universitários e 500 profissionais de RH mostrou que as mulheres são apenas 25% dos estudantes graduados em tecnologia.
Consequentemente, o mercado de trabalho também é mais ocupado por profissionais do gênero masculino: de acordo com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), as mulheres ocupam apenas 20% dos cargos de TI no Brasil. Isso acaba criando um ambiente no qual os comportamentos e culturas podem não ser amigáveis para a diversidade. A consequência, segundo o levantamento da Accenture que mencionei anteriormente, é que 50% das mulheres que desempenham funções na área as abandonam antes dos 35 anos. Em outros setores, essa taxa é de 20%. A decisão de mudar, muitas vezes, é motivada por cenários onde não há incentivo nem benefícios para que ocupemos um espaço que deveria ser de todas e todos.
A percepção do preconceito também é um indicativo que chama a atenção. A pesquisa Tendências em Tecnologia, feita pela TOTVS em parceria com a H2R Pesquisas Avançadas com mais de 400 profissionais do setor, mostrou que 51% dos entrevistados dizem que há preconceito de gênero no mercado de TI. Quando o recorte é só entre as mulheres, esse número sobe para 64%.
Discutir o tema com frequência é importante para buscar alternativas e mantê-lo sempre no radar em momentos de tomada de decisão. A própria ONU (Organização das Nações Unidas), por meio da OIT (Organização Internacional do Trabalho) já comprovou os benefícios de se ter mulheres em cargos executivos. Um relatório divulgado pelo órgão, que analisou dados de 70 mil empresas em 13 países, mostrou que mais de 60% das empresas que adotaram políticas de incentivo à igualdade de gênero notaram ganhos de produtividade e lucro – e as receitas cresceram até 15%.
Trabalho deve ser constante e não trará resultados do dia para a noite. Mas também é importante ressaltar que já é possível colher os frutos desse trabalho. Embora, hoje, ainda haja poucas mulheres na área, o cenário está melhorando. De acordo com dados de 2022 do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a presença feminina no setor de tecnologia aumentou 60% em cinco anos. Claro que é um número a ser comemorado, mas não significa que os esforços para trazer mais diversidade devem ser enfraquecidos. Para quem já promove a equidade de gênero, é preciso continuar lutando. Quem ainda não o faz, deve dar o primeiro passo o quanto antes. Não há mais justificativas para ficar isento sobre este tema.
Mara Maehara, CIO da TOTVS.