Qual a cara da Profissional de Tecnologia?

0

Eu demorei muito para acreditar que poderia crescer na área de tecnologia e que poderia ser uma profissional da área. Hoje, quando escuto de muitas adolescentes a seguinte frase: "tecnologia não tem nada a ver comigo" ou "tecnologia não é a minha cara", eu me lembro da menina que fui e observo com mais atenção, percebendo que o meu exemplo pode ser uma inspiração para elas seguirem na área. Por isso, entendo que tenho uma missão: colocar a minha voz para ajudar jovens mulheres a ingressarem e crescerem na área de tecnologia.

Bom, vamos para o início da minha trajetória. Escolhi o setor de tecnologia, porque fui gradualmente direcionada para esse caminho. O ponto chave foi a necessidade de estudar informática nos anos 90. Meus pais falavam que era a profissão do futuro. Como eu não ia querer aprender algo que me deixaria pronta para o futuro? Optei por fazer um curso técnico profissionalizante em informática (na época que ainda existiam esses cursos). Fui explorar outras áreas, como a geografia, mas minha experiência prática sempre me conduzia de volta à tecnologia.

Comecei o mestrado logo após a graduação, onde percebi a importância de dominar a programação para me destacar na área e resolvi prestar vestibular novamente, optando por Tecnologia em Processamento de Dados, e logo vieram algumas oportunidades profissionais, consolidando a minha escolha pela área tecnológica, da qual nunca mais me afastei.

Como mulher na área de TI, enfrentei algumas dificuldades. Já fui subestimada por minha idade e aparência e, muitas vezes, tive que lidar com uma cultura de irmandade masculina, com homens que se ajudam entre eles e não recebem bem as mulheres em seus grupos.

Já enfrentei situações difíceis, especialmente quando passava a liderar novos times.  Algumas pessoas ignoravam meus pontos de vista e precisavam de uma validação masculina. Contudo, para mim o mais difícil foi o preconceito velado. Aquele que é sutil e indireto. Ele vem em forma de brincadeiras ou frases soltas. Por exemplo, quando uma mulher é interrompida por uma frase de um homem enquanto está falando, deixando claro que sua opinião não importa tanto.

Uma das minhas maiores dificuldades foi enxergar a longo prazo as minhas possibilidades na carreira e vencer a 'síndrome de impostora', acreditar que eu poderia unir as duas coisas das quais me apaixonei: tecnologia e liderança. Porque meu sonho não era somente crescer na área, mas eu queria ter um papel de liderança.

Não foi fácil, mas eu segui adiante. Tem uma frase do Woody Allen que diz: "90% do sucesso se baseia simplesmente em insistir" e foi insistindo que as coisas incômodas foram deixando de acontecer, que aprendi a me posicionar melhor e fui conquistando o meu espaço.

Segui adiante por duas características pessoais minhas: a insistência de tentar de novo, mesmo com todas as barreiras, dando pequenos passos para abrir caminhos aos poucos. E a segunda foi ser altamente disciplinada, pois acredito muito na frase do Tony Robbins que fala que disciplina supera o talento. Se desde criança e adolescente eu não fosse disciplinada, com certeza hoje eu não estaria na área de tecnologia. É uma escolha diária estar pronta para aprender coisas novas e encontrar tempo para isso. Temos que sempre estar no modo de aprendizado contínuo.

Mas, às vezes, não basta o nosso esforço. Líderes e mentores foram fundamentais para o meu autoconhecimento. A velha conhecida 'síndrome de impostora' bateu forte muitas vezes e mentores foram fundamentais para serem meus confidentes, ombros amigos que me lembraram do meu valor. Outra coisa que sempre me puxou foi o exemplo de outras mulheres. Acredito muito nessa rede de força entre as mulheres: uma sobe e puxa as outras! E é o que digo para jovens que mentorizo hoje: façam parte de grupos, troquem experiências, aprendam umas com as outras e sigam mulheres que te inspirem, busquem exemplos.

Desde o primeiro curso que fiz, quase não havia meninas comigo e nenhuma das minhas amigas sequer se interessava pelo tema, o que na adolescência faz muita diferença. Essa falta de referência, de olhar para os lados e ver alguém nas áreas pode afastar as meninas de um futuro promissor e instigante.

Acredito que as empresas podem fazer parcerias para ajudar meninas em idade escolar, com funcionários voluntários para mostrar o 'por trás das câmeras' da tecnologia e ajudar a romper as barreiras inconscientes. Já participei de programas assim e dá certo. A maioria das crianças e adolescentes se afasta da STEM por acharem que não servem para isso ou por desconhecerem como é trabalhar com isso no futuro. E acho que mulheres como eu têm um papel de dar o exemplo. Por isso, mentorizo jovens em início de carreira, ajudando a entender as barreiras e como enfrentá-las.

Meninas precisam de exemplos para entender que não tem essa de 'tecnologia não é a minha cara". A tecnologia tem a cara de quem quiser seguir com ela e que pode ser, sim, um caminho de futuro, se elas quiserem. Tenho 41 anos, sou esposa, mãe do Matheus de 10 anos, uma apaixonada por literatura (ficção e não-ficção) e tento ser uma entusiasta de academia. Essa é a minha vida, a minha cara, e tecnologia se encaixa com as escolhas de cada um. Quero que a minha voz chegue aos ouvidos de muitas meninas. Nem sempre é fácil, mas vocês podem, garotas! Who run the world?

Joyce Fabri, Delivery Partner da Kyndryl Brasil.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.