O dia-a-dia nas empresas provoca nas pessoas um estado contínuo de stress. A realidade de não poder confiar em ninguém é colocada à prova sempre e todas as técnicas de negociação e controle emocional, aprendidas por anos, são testadas diariamente.
O duelo periódico com o cliente para, de um lado, aumentar o escopo e reduzir custos, e, de outro lado, garantir a lucratividade e as facilidades para entregar o projeto, coloca frente a frente dois grandes adversários. As reuniões são duríssimas e as discussões, muitas vezes, beiram o limite do rompimento. Depois de horas de negociações, pressões e algumas ameaças, de todos os lados, o equilíbrio e a sensatez acabam vencendo.
Mais do que um bom negócio para as empresas, o resultado da reunião é uma verdadeira aula de como se pode chegar ao limite de uma discussão dura, porém justa. O aprendizado não fica limitado a arte de negociar. O mais importante é o conhecimento adquirido dos seres humanos envolvidos.
Quanto mais se participa de situações estressantes, seja com os pares, seja com chefes ou clientes, mais se conhece como cada um reage sob pressão, o quanto são sinceros e quais utilizam técnicas poucos lícitas. Monta-se, paulatinamente, o quebra-cabeça da personalidade por traz da máscara corporativa de cada um, separando quem é bom e quem não é, quem é confiável e quem não deve ser levado a sério.
À primeira vista pode parecer estranho, mas o resultado dessa intensidade de convivência é conhecer mais profunda e detalhadamente a personalidade e o limite das pessoas do convívio profissional.
Achamos que conhecemos os nossos amigos. Mas lembre-se de quantas amizades de longa data terminaram depois da tentativa frustrada de fazer uma sociedade. Erroneamente acredita-se que romper a barreira do pessoal suportado apenas por afinidades que raramente levaram a relação ao extremo será garantia de sucesso profissional. A prática mostra o contrário.
O que dizer de uma relação que começa no extremo do stress, em que ambos conhecem todos os limites alheios, e rompe a barreira do convívio corporativo invadindo a vida pessoal? Não se trata de convites para festas de aniversários dos filhos nem de churrasco de confraternização. É levar o respeito e admiração profissional mutua para uma relação de amizade verdadeira.
Os avós já diziam que amigos de verdade não enchem os dedos das mãos. Quantos amigos de verdade você tem e quantos desses foram feitos no ambiente de trabalho? Se você tivesse que ligar para alguém em um momento muito difícil da sua vida e expor seus limites, para qual amigo você ligaria?
Com certeza para aquele que conhece os seus limites, suas piores fraquezas, que, como poucos, sabe descrever suas maiores virtudes e, sem titubear nem julgar, simplesmente esticará a mão nos seus momentos mais difíceis porque aprendeu, da mesma maneira que você, o valor de uma mão estendida quando mais se precisa dela.
*Alberto Marcelo Parada é formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPM-Braxis, Fidelity, Banespa, entre outras. Atualmente integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, além de ser diretor de projetos sustentáveis da Sucesu-SP.