Apesar de crucial para as empresas enfrentarem o desafio da produtividade e da competitividade, a adoção do conceito de transformação digital no Brasil ainda é bastante incipiente. Estudo encomendado pela Progress à empresa de pesquisas britânica Loudhouse revela que, embora a totalidade das corporações no país concorde acerca da importância do uso das tecnologias digitais nos próximos 12 meses, o plano de investimentos da maioria delas ainda é tímido.
Das 51 empresas consultadas no país, 45,3% afirmaram estar investindo em algum projeto de transformação digital dos negócios, 47% ainda apenas planejam investir e 7,8% disseram não ter sequer planos para investir nesse novo conceito. Os motivos alegados para o baixo índice de adesão são os mais variados e vão desde a falta de lideranças preparadas (55,6%) para o avanço da transformação digital, o baixo orçamento (45,5%), passando pelos entraves associados aos sistemas legados de TI (57,4%), até a resistência a mudanças e à colaboração (56,9%) dentro das empresas.
O dado curioso é que, mesmo com essas justificativas, a maioria dos executivos brasileiros entrevistados (78%) acredita que as empresas podem sofrer perdas financeiras e de competitividade nos próximos anos e 45% demonstraram preocupação sobre ser tarde demais por não ter implementado a transformação digital dos negócios.
Divisão de poder
Outro aspecto que chama a atenção na pesquisa é que o CIO, que até recentemente reinava absoluto na área de TI, se vê agora obrigado a compartilhar poder nos projetos de transformação digital. A pesquisa mostra que hoje 31% dos projetos de transformação digital estão sob o comando do CIO, enquanto 33% são gerenciados pelo CIO com participação ativa do marketing (CMO) e sua equipe, e 24% dos projetos são dirigidos pelo CMO tendo o CIO como coadjuvante e sua equipe.
Isso confirma o fato de 61,5% das empresas considerarem fundamental integrar marketing e TI na estratégia de transformação digital, e de 68% das empresas acharem importante reduzir a dependência da TI nesses projetos.
Mas, além de ter de dividir sua influência com o diretor de marketing, o CIO hoje assiste ao surgimento de um novo posto cada vez mais influente, o CDO (chief digital officer), profissional que conhece TI e negócios e se movimenta com facilidade por todas as áreas da empresa.
Entre as empresas que já estão desenvolvendo algum projeto de transformação digital dos negócios, 55% disseram que planejam construir aplicativos que suportem o envolvimento do cliente, enquanto 45% esperam construir e gerenciar propriedades web. As abordagens atuais para os negócios digitais são conteúdo web (75%), e-commerce (63%) e mídias sociais (61%).
As duas principais metas para os próximos 12 meses para o negócio local são melhorar a experiência do cliente, escolhida por 73% dos entrevistados, e expandir o alcance da marca e do mercado, resposta de 49% dos executivos entrevistados.
O estudo baseia-se em informações coletadas junto a 700 empresas globais, de dez países e 11 setores (desde varejo, bens de consumo, manufatura, serviços financeiros, telecomunicações até transporte e logística)
O vice-presidente da Progress para América Latina e Caribe, Matthew Gharegozlou, chama atenção para o fato de que, embora esteja um pouco mais atrasado na adoção da transformação digital do que os países da Europa e os Estados Unidos, os desafios enfrentados pelo Brasil são os mesmos verificados no mercado mundial.
Para ele, o desafio número um para adesão a transformação digital é o aspecto cultural. "Muitas empresas acham que têm as mesmas condições de competir no mercado com os recursos [tecnológicos] que já tinham antes", diz Gharegozlou, ao citar com exemplo do novo cenário de competitividade o surgimento do Uber, que hoje é uma das maiores empresas de transporte individual de passageiros do mundo. "O Uber não tem nem um ano no mercado, mas tem um diferencial importante: o aplicativo. E a empresa que não tiver um aplicativo bom vai perder mercado."