Lucro versus sustentabilidade: eles são mutuamente exclusivos?

0

A conscientização da população, alinhada aos impactos ambientais provenientes do aumento da produção e do desperdício crescente dos alimentos ao longo dos anos (segundo FAO, estima-se que cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos produzidos sejam perdidos todos os anos; desse total, as perdas relacionadas à produção, armazenamento e deficiência do transporte representam 54%), fazem com que as empresas sejam incentivadas a repensar suas práticas atuais e a buscarem maneiras mais sustentáveis de fabricar e transportar os alimentos e bebidas. 

Para os próximos anos, espera-se que os consumidores se tornem mais conscientes e as marcas mais sustentáveis. Como a cadeia de abastecimento de alimentos e bebidas não se restringe apenas ao mercado nacional, é de se esperar que as práticas ecológicas se espalhem ao longo da cadeia global, para que, cada vez mais empresas tenham conhecimento de como a sustentabilidade trará benefícios aos negócios e para o planeta a longo prazo.  

Segundo projeções do IBGE, a população brasileira será de aproximadamente 232 milhões de pessoas em 2050, e, de acordo com pesquisa realizada pela ONU, a população mundial ficará próxima da marca de 9,7 bilhões de pessoas nesse mesmo período. Baseado nesses dados, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que a produção de alimentos terá que aumentar 61% para suprir a demanda de 2050. Nesse total, o Brasil terá a participação de 41% da produção, em outras palavras, o país terá que fornecer de 620 milhões a 630 milhões de toneladas de alimento por ano. 

Com o crescimento da população, vem o aumento da produção e, logo, do consumo. Mas, no cenário atual, levando em consideração o impacto que as mudanças climáticas têm nas colheitas e o longo histórico de desperdício durante toda a cadeia de abastecimento alimentar (de acordo com a FAO, mais de 30% da produção mundial de alimentos é perdida a cada ano entre as etapas de pós-colheita e a venda dos insumos para o consumidor final), é evidente que apenas aumentar a produção não é a resposta.  

A melhor saída para resolver essas questões é trabalhar a sustentabilidade em todo o setor, por isso existe a pressão no ramo alimentício e de bebidas por posicionamentos e ações mais sustentáveis.  

Para equilibrar a pegada ambiental das indústrias com a ideia de "lucro sustentável" é preciso apostar na inovação. Com a tecnologia certa, aplicada da forma correta, é possível reduzir o desperdício e aumentar a eficiência operacional simultaneamente, promovendo um mercado de alimentos e bebidas que seja rentável e sustentável. 

Sustentabilidade como prioridade  

A importância da sustentabilidade só foi realmente percebida quando a economia deu uma balançada. O aumento dos preços da energia fez com que as empresas precisassem se movimentar para buscar soluções alternativas para reduzir os custos. Foi nesse momento que a eficiência energética se tornou uma prioridade.  

Nos últimos anos, a sustentabilidade apareceu no topo da lista de prioridades para a indústria de alimentos e bebidas, isso porque, além da preocupação das empresas com o aumento dos custos na produção, os consumidores consideraram a pegada ecológica das marcas na hora de escolher os produtos para a compra.  

Essa mudança de visão das indústrias, que agora buscam alternativas mais sustentáveis e econômicas para os seus negócios, se tornou um divisor de águas no mercado, e aquelas que não entenderem a importância da conservação do meio ambiente e não aderirem à modernização da cadeia, serão deixadas para trás.

Alavanca do crescimento 

Não só os consumidores e o mercado enxergam as empresas adeptas à sustentabilidade com outros olhos, mas também os investidores e os colaboradores. A preocupação com o meio ambiente é só o ponto de partida para se tornar uma empresa sustentável, e a sociedade percebe isso. Em relação aos investidores, é possível observar que as empresas do setor de alimentos e bebidas, que comprovam suas credenciais ambientais, recebem cada vez mais opções de financiamento preferenciais devido à sua pegada ecológica.  

Empresas éticas e que desempenham um bom papel, visando a criação de um futuro mais sustentável, atraem pessoas interessadas em fazer parte da equipe. Nesse segmento, em que a mão de obra é renovada com frequência, ter pessoas dispostas a trabalhar é algo positivo para as companhias. 

Além de todos os impactos ambientais, as fontes de matérias-primas não sustentáveis se tornam cada vez mais dispendiosas, ou seja, para continuar com uma produção rentável, as indústrias terão que se adequar às práticas mais ecológicas. A utilização dos subprodutos, transformando-os em fluxos de receitas adicionais, é uma das maneiras que as companhias encontraram para reduzir o desperdício na produção de alimentos e bebidas.  

Esses benefícios, alinhados à busca dos consumidores por produtos sustentáveis, despertou nas empresas uma visão diferente da sustentabilidade. O que antes era visto como uma "cobrança" da sociedade, agora é um diferencial no mercado e um potenciador de crescimento. 

Transformar dados em insights 

A utilização da tecnologia nos diversos setores da cadeia de suprimentos, em conjunto com os dados coletados sobre as empresas e o ambiente, proporcionam uma base para a criação de novas soluções sustentáveis. Junto com o crescimento da implementação da sustentabilidade nas empresas vem as regulamentações, que fiscalizam o nível de desenvolvimento sustentável das organizações e seus padrões éticos.  

Além da sinergia entre os pontos da cadeia e da coleta eficiente dos dados, as tecnologias também são responsáveis por indicar, com maior precisão, os pontos da cadeia em que o desperdício ocorre em maior escala e os custos associados à produção e à subprodução dos produtos. Como é o caso dos sensores RFID, que permitem o aumento da capacidade de rastreabilidade da cadeia de fornecimento, reduzindo os riscos de perda dos alimentos e aumentando as margens de lucros para as empresas.   

Implementar tecnologias como big data, cloud computing e inteligência artificial (IA) no dia a dia oferece inúmeras vantagens competitivas em relação à concorrência. Um bom exemplo é a utilização dessas soluções para prever demandas, disponibilizando KPIs diários aos gestores sobre o funcionamento da cadeia que permitem a otimização das operações e do rendimento da produção, alinhando o supply chain com o fluxo de consumo.  

Essa visibilidade, colaboração e a tomada de decisões baseadas em insights direcionam as indústrias para um caminho de produção mais sustentável e que mantém o setor gerando lucro. O investimento em iniciativas voltadas à sustentabilidade é uma alternativa inteligente e segura para as empresas se modernizarem, com tecnologias capazes de suportar uma enorme quantidade de dados, e produzirem com consciência e ética, ao mesmo tempo que garantem sua rentabilidade e posição no mercado, agora e a longo prazo.  

A ideia da sustentabilidade nunca foi impor um padrão inalcançável de investimentos e ações, mas sim criar uma base para tomada de decisões mais éticas e assertivas em relação ao meio ambiente e a sociedade. Ajudando as organizações a conquistar resultados sustentáveis nos limites e parâmetros individuais, crescendo economicamente de forma segura, responsável e ecológica ao longo do caminho.  

Waldir Bertolino, Country Manager da Infor no Brasil. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.