No início deste ano, a Deutsche Telekom apresentou um conceito visionário: um celular equipado com um assistente virtual movido por IA capaz de realizar tarefas diretamente no dispositivo. Essa inovação não só promete otimizar o uso dos aplicativos, mas também traz à tona uma nova era de serviços digitais, na qual a interação humana com as interfaces de aplicativos pode ser radicalmente transformada.
Imagine o seguinte cenário: em vez de navegar por diversos aplicativos para organizar uma viagem – reservar um voo, um hotel e alugar um carro – tudo seria gerenciado por um assistente virtual, que se comunica diretamente com os bancos de dados desses aplicativos para entregar uma solução única e eficiente. Em vez de pular de app em app, o usuário simplesmente interage com o assistente, que faz todo o trabalho.
Parece uma ideia revolucionária, não é?
Para o mercado brasileiro, especialmente nas áreas de turismo, finanças e serviços, essa inovação pode significar uma ruptura significativa. Os aplicativos, que antes eram o ponto focal da interação com os consumidores, podem acabar sendo contornados por esses assistentes, tornando as interfaces menos relevantes. Acredito que isso não signifique o fim dos aplicativos, mas certamente demandará uma reavaliação na forma como eles são desenvolvidos e, especialmente, comercializados.
Agora, em vez de focar exclusivamente na experiência do usuário com a interface do aplicativo, o foco deverá ser garantir que o backend – ou seja, as bases de dados e os sistemas por trás dos aplicativos – seja robusto o suficiente para interagir com os assistentes de IA. Vejo a integração por meio de APIs seguras e eficazes como aspecto fundamental para que os assistentes possam acessar os dados e executar suas funções de maneira fluida e eficiente.
Além disso, acredito que o impacto nos profissionais de marketing é inevitável. Se hoje a principal meta do nosso mercado é promover o crescimento da base de usuários e aumentar o seu engajamento. No futuro, os profissionais terão que adaptar suas estratégias para um novo tipo de interação: a comunicação entre o usuário e o assistente de IA. Isso significa que, em vez de incentivar o usuário a baixar um app, o objetivo será fazer com que os assistentes utilizem os serviços e os dados daquele aplicativo, mesmo que o app não seja diretamente acessado.
Em um mercado tão competitivo quanto o brasileiro, no qual a aquisição de usuários já representa um desafio crescente, essa mudança traz uma série de implicações. Entendo que as estratégias tradicionais de marketing – como anúncios voltados para downloads – precisarão ser repensadas. No lugar delas, é possível que vejamos a ascensão de estratégias que destacam o valor dos serviços que estão por trás dos aplicativos. Os anúncios, em vez de focarem na interface do app, terão que comunicar de maneira clara o benefício dos serviços prestados – seja pela conveniência, pela rapidez ou por funcionalidades exclusivas.
Outra mudança que creio que seja inevitável é a que ocorrerá nos hábitos de busca dos usuários. Com assistentes de IA cada vez mais presentes, as pesquisas em motores de busca tradicionais podem dar lugar às interações por voz e consultas feitas diretamente aos assistentes. Isso trará novos desafios em termos de otimização para mecanismos de busca. As empresas terão que se adaptar para garantir que seus serviços sejam facilmente encontrados por assistentes de IA, o que exigirá uma nova abordagem de SEO, focada em como essas inteligências artificiais processam e respondem às consultas dos usuários.
O setor de entretenimento e jogos também precisará se ajustar. Se antes o desafio era convencer o usuário a instalar o aplicativo, agora entendo que será necessário garantir que os assistentes virtuais realizem essa tarefa. E mais: esses apps precisarão oferecer uma experiência tão envolvente que justifique sua utilização contínua, mesmo em um cenário onde os assistentes podem facilitar muito o acesso aos serviços.
Considero que o Brasil é um país altamente conectado e com consumidores ávidos por tecnologia. Nesse sentido, a ascensão dos assistentes de IA representa tanto uma oportunidade quanto um desafio. A diversificação dos canais de marketing se tornará ainda mais crítica e as empresas precisarão se preparar para um futuro em que a interação direta com o usuário pode não ser mais o ponto central, mas sim a qualidade e a acessibilidade dos serviços oferecidos por trás das interfaces.
Conforme os assistentes virtuais ganham espaço, o marketing de aplicativos no Brasil precisará evoluir para acompanhar essa nova era digital. A pergunta que fica é: como as empresas estão se preparando para essa transformação?
É preciso estar um passo à frente da concorrência, e isso exigirá não só a adaptação tecnológica, mas uma abordagem de marketing que entenda profundamente as novas dinâmicas de interação entre usuários e IA. Afinal, o futuro do marketing digital não será apenas sobre o que vemos na tela, mas sobre o que acontece nos bastidores.
Fernando Cabral, Diretor de Growth LATAM da Adjust.