Das 19 manifestações feitas em favor de uma tomada de decisão imediata sobre o Sistema Brasileiro de TV Digital ouvidas na Câmara, durante a Comissão Geral sobre o tema realizada nesta quarta, 8/2, chamou a atenção a posição uníssona dos radiodifusores.
TVs de todo o Brasil estiveram em peso, com suas associações nacionais (Abert, Abra e Abratel) e as associações estaduais, além da Sociedade de Engenharia de Televisão. Todos defenderam, com discursos muito parecidos, uma decisão rápida, que garanta ao setor de radiodifusão condições tecnológicas de competir em um cenário convergente, que permita a mobilidade e a portabilidade do serviço, que garanta a gratuidade da radiodifusão e a existência dos sinais em alta definição.
Muitos, mas não todos os radiodifusores, defenderam abertamente o padrão japonês. Chamou a atenção a fala do presidente da Sociedade de Engenharia de Televisão (Set), Roberto Franco, também executivo do SBT, que defendeu a adoção do padrão ISDB-T, mas com compressão MPEG 4 e com middleware brasileiro, além de negociação para isenção de royalties.
Fernando Bittencourt, diretor de tecnologia da TV Globo, falando em nome do grupo Set/Abert, também defendeu a adoção do MPEG 4 como forma de otimizar o espectro e elogiou o desenvolvimento de pesquisas no Brasil.
José Amaral, falando em nome da TV Record, chamou a atenção para o fato de que o que está em discussão é o futuro da televisão pelos próximos 50 anos, e que o capital estrangeiro, por meio das empresas de telecomunicações, está tentando interferir indevidamente nesse processo.
Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, aproveitou para atacar a concentração no mercado de TV paga, fazendo uma crítica direta à Globo, e disse que a diversidade e a pluralidade pedidas para a TV digital aberta só encontrarão espaço na TV por assinatura. Saad também se mostrou contrário à discussão de um modelo regulatório novo.
"Sempre que tem papo de convergência de marco regulatório, pode ter certeza que é coisa de quem quer cobrar pelo conteúdo?, disse. Para ele, a TV aberta é diferente porque é gratuita. Ele também defendeu uma decisão rápida sobre o padrão, mas não defendeu nenhum especificamente.
Gratuidade
Evandro Guimarães, vice-presidente de relações institucionais da TV Globo, lembrou a questão da gratuidade e, como falava no Congresso Nacional, fez questão de ressaltar que a TV digital continuará levando a propaganda política mesmo em um ambiente digital.
José Inácio Pizani, presidente da Abert, disse que a procrastinação no processo só prejudica a TV aberta, no que foi acompanhado por Roberto Wagner, presidente da Abratel. Wagner, contudo, foi o único dos radiodifusores a abertamente elogiar o debate do assunto no Congresso Nacional, disse que a decisão não é de governo nem empresarial, mas de Estado, e que os interesses do país e das empresas de radiodifusão têm que ser observados.
Entre as associações regionais de radiodifusão, a fala mais dura veio de Edilberto Ribeiro, representando os radiodifusores paulistas. Ele criticou que tantos acadêmicos sem conhecimento do negócio de televisão tenham voz nos debates e ressaltou que os radiodifusores não fariam nada que não fosse do interesse da maior parte da população, porque isso implicaria riscos à audiência. Também falaram radiodifusores representando os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Também se manifestaram de maneira favorável a uma decisão imediata sobre o padrão (ou pelo menos neutra em relação ao pleito dos radiodifusores) alguns institutos de pesquisa, o que não quer dizer que todos eles não sejam favoráveis a mais discussões sobre o tema. Nessa categoria, a reportagem enquadrou as falas estritamente técnicas, como as da USP ou do Instituto Mckenzie.