A recente decisão de gigantes da tecnologia como Meta e Microsoft de cortar colaboradores de baixa performance trouxe à tona um debate importante sobre reestruturação corporativa em tempos de incerteza econômica. Essa abordagem, muitas vezes justificada pela busca por eficiência e redução de custos, também levanta questionamentos sobre os impactos de longo prazo na moral da equipe, na cultura organizacional e na capacidade de inovação das empresas.
De acordo com o relatório anual da Microsoft de 2023, a empresa registrou uma desaceleração no crescimento das receitas, especialmente em suas divisões de hardware e serviços corporativos. Paralelamente, a organização de Mark Zuckerberg, que enfrenta custos crescentes relacionados ao desenvolvimento do metaverso, registrou um aumento significativo nas despesas operacionais no último ano fiscal. Esses cenários justificam, em parte, a necessidade de demissões, mas destacam também a importância de uma estratégia cuidadosa para evitar impactos negativos na retenção de talentos.
Cortes baseados em desempenho não são novidade no mundo corporativo, mas sua eficácia está longe de ser consensual. Um estudo conduzido pela Harvard Business Review mostra que desligamentos deste tipo podem, a curto prazo, melhorar os resultados financeiros, mas frequentemente levam à queda de produtividade e comprometem a confiança dos colaboradores. Isso é especialmente crítico em setores como tecnologia, onde o capital humano é o maior ativo das empresas.
Além disso, a narrativa de eliminar "low performers" pode ser contraproducente, criando um clima de medo entre os funcionários. Estudos do Gallup indicam que equipes que se sentem inseguras em relação ao emprego apresentam uma redução de até 12% na produtividade. Para empresas que dependem da inovação e da criatividade de suas equipes, essa abordagem pode ser um tiro no pé, comprometendo os resultados de longo prazo.
Uma abordagem mais eficaz para lidar com questões de desempenho pode envolver o investimento no desenvolvimento dos colaboradores, em vez de cortes diretos. Programas de treinamento, mentorias e avaliações contínuas ajudam a identificar lacunas de habilidades e oferecem suporte para a melhoria individual e coletiva.
Além disso, empresas que adotam uma cultura de feedback contínuo e metas claras conseguem alinhar expectativas e fornecer direcionamento antes que a necessidade de desligamento se torne uma opção. Outro caminho é realocar talentos para funções onde possam ter um desempenho melhor, aproveitando suas competências em diferentes áreas da empresa.
Ao priorizar o desenvolvimento e a retenção de talentos, as empresas não apenas evitam os impactos negativos da insegurança organizacional, mas também constroem um ambiente mais engajado e produtivo, gerando resultados sustentáveis no longo prazo.
As reestruturações são, muitas vezes, inevitáveis em tempos de mudanças econômicas, mas a maneira como são conduzidas faz toda a diferença. Para os próximos anos, o sucesso dos negócios não dependerá apenas dos números apresentados, mas da capacidade de equilibrar eficiência financeira com o cuidado humano e a visão de futuro.
Andre Purri é CEO e cofundador da Alymente.Viviam Posterli, CEO do Grupo Skill.