A inteligência artificial tem um grande impacto em governança corporativa, cuja função é estabelecer e garantir a estrutura de regras, práticas e processos que direcionam e controlam uma empresa, visando evitar que erros e desvios de comportamento de seus executivos acabem destruindo valor para seus acionistas.
Ela visa proteger os interesses e direitos de seus acionistas, funcionários, clientes, fornecedores e a comunidade em geral, promovendo transparência, responsabilidade e equidade na tomada de decisões e gestão da empresa.
Busca assegurar que a empresa opere de forma ética, em conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis, visando à sustentabilidade e à longevidade dos negócios, utilizando para isso atributos como transparência nas divulgações financeiras e operacionais, membros independentes no conselho de administração, observando responsabilidades com relação à comunidade onde a empresa atua e ao meio ambiente, entre outros.
Entendemos que a boa governança se forma a partir da prática de bons hábitos por parte de seus acionistas, conselheiros e colaboradores, contribuindo para sua adequada formação cultural, o que leva à recorrência de tais hábitos, constituindo um padrão virtuoso de comportamento.
Nesse contexto, podemos perceber e dimensionar o impacto do uso de inteligência artificial em diversas situações, como, por exemplo, na análise de grandes conjuntos de dados para identificar tendências e padrões, facilitando a tomada de decisões com mais informações pertinentes, automatizando processos repetitivos e identificando potenciais riscos de forma sistemática e tempestiva.
É também muito útil ao auxiliar na rápida detecção de fraudes e conformidade com regulamentações, melhorando a transparência e a prestação de contas das empresas.
Pode-se utilizar algoritmos para analisar o grau de satisfação dos funcionários com relação à cultura organizacional, identificando áreas de insatisfação ou descontentamento, permitindo antever potenciais problemas de comportamento, através da interpretação dos resultados das avaliações de desempenho e dos canais de denúncia, modulando as críticas com relação a processos internos e desempenho de colaboradores, considerando sempre o uso da ética e transparência para tais análises.
Outro grande impacto da IA na governança corporativa é a avaliação integrada do comportamento dos números das demonstrações financeiras, confrontando movimentos nos fluxos de caixa, na demonstração de resultados e os reflexos em seu balanço patrimonial, tendo como parâmetros os movimentos contábeis históricos da empresa e o comportamento dos números dos competidores, via análise de dados de balanço, DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) e notas explicativas , divulgados trimestralmente por companhias abertas ou obtidos através de empresas prestadoras de serviços de informações de crédito.
Tem grande utilidade no monitoramento de transações financeiras suspeitas que possam indicar lavagem de dinheiro, uma vez que a IA pode identificar padrões incomuns ou anômalos no fluxo dos dados financeiros.
Contribui também ao automatizar as divulgações regulatórias, garantindo que as empresas cumpram os requisitos legais e regulamentares de forma precisa e tempestiva. Ao se detectarem anomalias, um sinal deve ser enviado aos gestores responsáveis, alertando os responsáveis pela governança para investigação adicional.
O uso do conjunto das habilidades humanas, como as experiências vivenciadas, a alta capacidade de discernimento, o inter-relacionamento dos aspectos emocionais, sociais, juntamente com o uso da intuição, contribui para um entendimento mais abrangente da governança corporativa.
Tudo isso vem colaborar com a governança nas empresas, mas não se pode perder a confiança no próprio ser humano. Contra esse risco, todavia, nem a inteligência artificial consegue nos antecipar um remédio.
Osias Brito, doutor pela FEA/USP e Sócio da BR Finance.