Quando eu tinha uns 20 anos, recebi uma ligação da polícia. Me pediam para que eu fosse na delegacia na manhã do dia seguinte.
Por mais que eu não tivesse razão para temer, confesso que "gelei". Mal dormi naquela noite.
O que a polícia ia querer comigo?
Eu nunca tinha pisado em uma delegacia antes. Sempre fui da turma dos mais certinhos!
Na manhã seguinte, pontualmente na hora marcada, lá estava eu na delegacia.
Logo a delegada mandou me chamar. Era uma jovem senhora, muito simpática. Ela já me recebeu com um sorriso, me pediu que se senta e disse:
— Fernando, você não tem um Gol branco, certo?
— Não, doutora! Nunca tive um Gol branco!
— Pois é, Fernando. Existe um Gol branco aprontando na cidade. E a placa dele está em seu nome. Mas eu já vi nos registros do Detran que essa placa não é de um Gol.
— Doutora, eu juro que nunca tive um Gol branco! Tive um azul, mas…
Com outro sorriso, a delegada interrompeu a minha tentativa irracional de me justificar.
— Calma, fica tranquilo. A sua placa foi clonada. Você não tem culpa, mas vamos abrir um boletim de ocorrência para evitar dor de cabeça.
Faz mais de 20 anos que isso aconteceu, mas me lembro como se fosse ontem. Naquele dia, aprendi que a gente não precisa ter culpa para ser fraudado.
Em cibersegurança também é assim. Uma empresa pode fazer tudo certinho, mas sofrer um ataque hacker mesmo assim.
Se a sua empresa realmente não foi negligente com a segurança da informação, e mesmo assim foi invadida, não busque culpados. A verdade, nua e crua, é que não existe risco zero.
Os métodos de ataques cibernéticos nunca pioram, só melhoram. Os cibercriminosos parecem estar sempre à frente.
Não é preciso ter culpa para ser fraudado ou invadido. Mas, se por acaso você tiver, as coisas podem ficar muito, muito feias.
Lembre-se disso. Vale a pena ser da turma dos certinhos.
Fernando Cosenza, PhD, CEO da Resh Cyber Defense.
