Já em seu quinto ano de operações na América Latina, o 5G segue impulsionando a inovação, ainda que de forma lenta, mas com progressos realizados em áreas como redes privadas, Fixed Wireless Access (FWA) e novos serviços ao consumidor. E para trazer à luz esses e outros temas relacionados aos serviços de quinta geração, a consultoria Omdia, em parceria com o Futurecom, apresentou nesta quarta-feira (9)), durante o evento, dados de dois levantamentos exclusivos, "Evolução de 5G no Brasil e no Mundo" e o "Digital Consumer Insights". Ari Lopes, gerente sênior de Service Providers Americas da Omdia; e Hermano Pinto, diretor do Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets/Futurecom, destacaram como o 5G está no mundo e como a América Latina ainda tem um desenvolvimento desigual na tecnologia.
O relatório analisa a situação do 5G na América Latina, especialmente o seu desenvolvimento em 2024, e avalia os vários impulsionadores e inibidores do crescimento futuro, incluindo aplicações que inserem Inteligência Artificial.
Embora a América Latina já tenha atingido 47 milhões de conexões 5G até ao primeiro trimestre de 2024, países importantes, como Argentina e Colômbia demoraram a disponibilizar o espectro. Os maiores países da região (Brasil e México) já fizeram investimentos mais intensos em 5G e fibra e outros estão apenas iniciando suas implementações. Chile, Porto Rico, Brasil e México, por exemplo, ultrapassaram a quota de 10% do 5G, enquanto outros, como a Argentina, o Peru e a Colômbia iniciaram a implementação do 5G tardiamente.
"A América Latina está ficando atrás não apenas dos países desenvolvidos, mas também de outras regiões em desenvolvimento, como Oriente Médio e Ásia, em termos de adoção do 5G. Uma primeira onda com poucos países, com pausa devido à pandemia, seguida por uma segunda onda com leilões realizados na República Dominicana, Chile e Brasil em 2021. Outro hiato é que os leilões de espectro foram adiados para o final de 2023 em países importantes como Colômbia e Argentina", destaca Ari Lopes.
"O que Omdia verificou em seu levantamento são pilotos e testes comerciais com 5G no segmento B2B, mas também de forma tímida porque na área corporativa o ciclo de adoção para novas tecnologias é mais longo porque as empresas não conectam tecnologia nova e não testada às suas atividades principais, além do custo elevado e baixa disponibilidade dos dispositivos", explica Hermano Pinto, diretor do Futurecom.
Inteligência Artificial
A pesquisa "Digital Consumer Insights 2024" da Omdia revela a alta adoção do ChatGPT e de ferramentas de IA generativas como Gemini na América Latina. De acordo com o levantamento, os consumidores digitais no Brasil e no México relatam taxas de uso significativamente maiores do que a média global. Enquanto a média global do GenAI foi de 66%, a América Latina foi de 73% de acordo com a pesquisa. O Brasil fica atrás apenas de Índia, China, Egito e Arábia Saudita.
Essa estatística ressalta até que ponto a IA está se tornando parte da vida cotidiana e do trabalho na região, com consumidores digitais latino-americanos demonstrando notável curiosidade e interesse em adotar essas novas tecnologias. A pesquisa revela ainda que, no Brasil, 40% dos consumidores digitais utilizam a IA principalmente para trabalho ou estudo, destacando uma forte adoção para uso profissional.
A pesquisa também trouxe novos elementos para entender os hábitos de consumo de serviços digitais por parte dos consumidores latino-americanos. O levantamento identificou que cerca de 39% dos entrevistados planejam aumentar os gastos com assinatura de jogos on-line, isso é mais do que o dobro das intenções de aumento de gasto com telefonia móvel. A pesquisa também apontou que confiabilidade, bom sinal de Wi-Fi e bom suporte ao cliente são comparativamente mais importantes do que velocidade de internet mais rápidas no serviço de banda larga fixa. Finalmente, quanto ao 5G, 89% dos entrevistados entendem a tecnologia como simplesmente mais velocidade na internet móvel, e apenas 26% planejam comprar um telefone mais moderno por causa do 5G.
O estudo "Digital Consumers Insights" realizou 20 mil entrevistas em 20 países, em agosto deste ano (2024). Foram entrevistados consumidores com perguntas sobre temas como 5G, IA, serviços de streaming, banda larga. Ela busca entender os hábitos de consumo de serviços digitais. Países entrevistados: Austrália, Brasil, Canadá, China, Egito, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Malásia, México, Arábia Saudita, África do Sul, Coréia do Sul, Espanha, Turquia, EUA e Reino Unido.
5G no mundo e na América Latina
A participação do 5G na América Latina no total de conexões é de 5,97% no primeiro trimestre de 2024. Está apenas à frente da África e da Europa Oriental. Porto Rico tem taxa de 37% e Chile tem 26%. Representam os dois países com maior participação de 5G, enquanto os dois maiores países, Brasil e México, têm 11% e 10% respectivamente. As duas maiores economias da região, Brasil e México, respondem por 51% de todas as conexões móveis da região, enquanto a sua quota de conexões 5G chega a 79%.
Entre os motivos para a forma desigual com que o 5G avança na América Latina está a implantação do 5G FWA. Apesar do sucesso desse formato nos EUA, ele não foi suficiente para convencer as operadoras da região a investirem no serviço. A monetização do 5G também é mais um obstáculo porque os prestadores não conseguem oferecer serviços exclusivos apoiados nessa tecnologia para fazer decolar essa inovação e justificar pacotes mais elevados apenas para clientes pós-pagos.
Brasil tem sede por inovação
As três maiores operadoras brasileiras no segmento móvel, Vivo, Claro e TIM, estão adiantadas no cronograma acordado com a Anatel para implantação de suas redes 5G. Os novos participantes Unifique e Brisanet começaram a implantar suas redes 5G no final de 2023. E outros dois ISPs receberam espectro 5G – Ligga e yez! planejam a implantação até 2025. Em seu estudo, a Omdia prevê que o 5G terá seu crescimento acelerado na América Latina e atingirá 490 milhões de conexões até 2028, passando a ser a tecnologia líder na região. Em se tratando de smartphones, espera-se que a América Latina atinja 692 milhões até 2028 – 66% deles alimentados por 5G. Brasil, México, Colômbia e Argentina, os quatro maiores países da região, concentrarão 80% das assinaturas em 2028.
Em junho de 2024, a faixa de 3,5 GHz foi liberada, totalizando 4.302 cidades autorizadas a receber 5G stand alone – elas cobrem 192,4 milhões de pessoas, correspondendo a 90% da população brasileira. De acordo com o cronograma do leilão de espectro, esse marco deveria ser alcançado em 2025. Até o final de 2024, 100% de todas as cidades brasileiras terão 'luz verde' para receber 5G na faixa de 3,5 GHz. Isso significa que as restantes 1.268 cidades com menos de 100 mil habitantes poderão receber a rede mais de um ano antes do prazo estabelecido pelo regulador: janeiro de 2026.
Modalidades do 5G que têm tudo para ganhar espaço e gerar monetização: FWA
Na América Latina, o 5G FWA (acesso fixo) tende a ter espaço nos próximos dois anos. O mercado latino-americano de banda larga fixa está aquecido graças à demanda por banda larga de fibra, que tem taxa de penetração domiciliar de 59% em 2023. A Omdia entende que o tamanho da região e a falta de infraestrutura inviabiliza levar fibra a todos os cantos, por isso faz mais sentido implantar o 5G FWA em determinados cenários. Entre os maiores grupos de telecomunicações na região, a América Móvil tem estratégia mais ampla sobre 5G FWA, sendo o primeiro a oferecer o sistema na região, incluindo México, Peru, Colômbia, Brasil e Chile. No Brasil, a Intelbras lançou um dispositivo no final de 2022; a Claro Brasil anunciou o produto 5G FWA em agosto de 2023 e a Vivo foi a primeira operadora a lançar 5G FWA em janeiro de 2024.
Os bancos foram os primeiros clientes empresariais: a Claro é fornecedora de 5G FWA para o banco Bradesco, conectando 150 agências; a Vivo conecta 100 agências do banco Itaú. Além disso, o Brasil foi o único país a ver 4 novos participantes comprando licenças no último leilão de espectro 5G e 3 deles têm planos de lançar 5G FWA: a Brisanet, lançou 5G FWA em áreas onde sua fibra não cobre; Iez! Telecom também lançará o 5G FWA como seu serviço principal e a Ligga ativou o 5G FWA em novembro de 2023 no parque fabril da cidade de Manaus, atendendo cerca de 400 empresas. Ainda a Algar Telecom oferece 5G FWA desde abril de 2024.
IoT e Redes privadas
Incipiente, o mercado de conectividade 5G em IoT e redes privadas na América Latina é muito novo e com baixa demanda na região e encontra dificuldades para crescer também porque o 4G atende a maioria das demandas atuais; é mais caro e as empresas relatam dificuldades para ter acesso a dispositivos certificados pela indústria. Mesmo assim, segundo a Omdia, depois do FWA as redes privadas são o próximo mercado 5G que mostrará progressos na região e são populares nos setores de manufatura, mineração, portos, transportes, agricultura, saúde, educação (campus), serviços públicos e cidades inteligentes. O Brasil já emitiu 66 licenças até agora nas faixas de 2390MHz a 2400MHz (34); 3700MHz a 3800MHz (30) e 27,5 GHz a 27,9 GHz (2). Exemplos concretos mostram o início dessa jornada no País.
Fatiamento de rede/mmWave
Na análise da Omdia, ainda falta clareza sobre o uso do mmWave. Apesar da primeira rede 5G da América Latina tenha utilizado 28 GHz no Uruguai, os provedores de serviços não definiram casos de uso desse espectro. Até agora, não foram feitos mais do que testes. As operadoras na América Latina não usam ainda mmWave em nenhuma de suas poucas implantações de FWA 5G. O fatiamento de rede também só tem acontecido em pilotos. Claro e Ericsson, por exemplo, testaram a tecnologia na corrida brasileira de Fórmula 1, em 2023, quando 10 câmeras de TV foram conectadas ao 5G. Embora o tráfego continue a crescer e a capacidade extra do mmWave seja bem-vinda em áreas de tráfego intenso, a cobertura ainda é limitada e os dispositivos habilitados para mmWave são poucos e caros.