As tecnologias da informação e comunicações (TICs) não fazem parte da agenda da Copa do Mundo de 2014. A constatação é de um estudo realizado pela consultoria A.T.Kearney para avaliar quais são as oportunidades de negócios que o campeonato de futebol e os Jogos Olímpicos de 2016 vão abrir para as empresas do setor e qual será o legado deixado para o país com a infraestrutura tecnológica, após os megaeventos esportivos.
A consultoria avalia que os eventos consumirão cerca de R$ 57 bilhões em investimentos, dos quais cerca de 10% serão destinados a TI, tanto diretamente, em sistemas de transmissão de dados e imagens, quanto indiretamente, em transportes, segurança pública etc. A conta não inclui o Trem de Alta Velocidade (TAV), ligando o Rio de Janeiro a cidades paulistas, que demandará mais R$ 35 bilhões de investimentos, aproximadamente, e exigirá tecnologia de ponta.
O estudo foi encomendado pela Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) em parceria com a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp), que reúnem prestadoras de serviços de TI e operadoras de telecomunicações. O objetivo foi identificar quais as demandas de TIC do país para sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada, por meio do mapeamento das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de Brasília, no Distrito Federal.
Outra constatação é que o país está pelo menos seis meses atrasado na definição dos sistemas de TIC que irão suportar a Copa do Mundo de 2014. Além disso, a Copa do Mundo e a Olimpíada apresentam similaridade de escala, embora exista uma clara diferença entre as necessidades de infraestrutura, segundo o consultor da A.T.Kearney, Antonio Almeida, que sugere que as autoridades e órgãos responsáveis pela organização dos eventos coloquem as TICs como prioridade, sob o risco de o país não conseguir oferecer tecnologias de ponta e ter sua imagem arranhada perante o mundo.
Segundo Almeida, isso é preocupante porque sinaliza que estádios estão sendo construídos ou reformados sem que se preveja a infraestrutura para banda larga e as tecnologias que vão processar os dados das competições e transmitir as imagens. Tanto a Copa do Mundo de 2014, como os Jogos Olímpicos de 2016 exigirão muitas transmissões em 3D com sistemas interativos e diversas aplicações que estarão hospedadas em cloud computing.
"Além de precisar de redes de alta velocidade, com redundância para transmitir os jogos, a Copa e os Jogos Olímpicos vão exigir investimentos maciços em sistemas para as áreas de saúde, trânsito e, principalmente, segurança", afirma o diretor de Infraestrutura e Convergência Digital da Brasscom, Nelson Wortsman. Ele dá o exemplo da necessidade de controles mais rígidos nos aeroportos, lembrando que o Brasil não é alvo dos terroristas, mas que durante esse tipo de evento o país ficará exposto e terá de reforçar os sistemas para monitorar a entrada dos visitantes.
Wortsman adianta que o estudo já foi apresentado para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que está preocupado com os financiamentos de projetos que preveem TI. Segundo ele, a reforma do Maracanã, já iniciada, não contempla infraestrutura de TI em seu projeto. Ele acredita que os eventos poderão alavancar a inovação para levar o Brasil ao grande salto tecnológico que precisa e equiparar-se às nações de primeiro mundo. "Quando o país desenvolve um sistema para transmissão dos jogos de alta qualidade, em 3D e com compatibilidade com diversas mídias, por exemplo, significa que ele construiu uma infraestrutura tecnológica que, depois da Copa e das Olimpíadas, será um legado permanente e servirá para novos negócios nas cidades e no país", afirma.
Wortsman cita o caso do Rio de Janeiro, que receberá o principal investimento direto em TI, de todos os planejados: um complexo de mídia, composto por um centro de radiodifusão e um centro de imprensa. O investimento total será de R$ 477 milhões. "Além de ser um investimento importante para uma cidade como o Rio de Janeiro, que recebe diversos eventos anualmente, o centro de mídia implica na instalação de uma ampla rede de TI e telecom nacionalmente, para que imagens e dados de todos os jogos cheguem até ele", destaca.
Para o presidente da Brasscom, Antonio Gil, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 abriram oportunidades para o país superar sua condição de nação emergente e dar um grande salto em TI. Toda a infraestrutura de TI que será herdada após as competições, segundo ele, aumentará a capacidade do Brasil para perseguir a sua meta de chegar em 2020 como um dos três fornecedores globais de outsourcing de TI, atrás apenas de Índia e China.
De acordo com ele, dentro de dez anos, o mercado mundial de TI movimentará US$ 3 trilhões, dos quais US$ 500 bilhões serão provenientes de negócios na área de offshore outsourcing. "E o Brasil deve contribuir com um faturamento de US 120 bilhões somente em TI." Gil acredita que esse é totalmente impossível, considerando que Brasil saltará da oitava economia do mundo para o quinto lugar até 2020.
Brasscom e Telcomp disseram que pretendem apresentar o estudo para todos os envolvidos nos preparativos dos dois megaeventos.
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