Ser mulher não é um tema sobre o qual penso no meu dia a dia profissional e acredito que muito se deve ao fato de trabalhar em uma companhia inclusiva e diversa. A começar pelo fato de que 54% do meu time é composto por mulheres, mas sei que esta não é a realidade de muitos.
Como engenheira química, construí minha carreira nos últimos anos na área de pesquisa e desenvolvimento de produtos, à frente de equipes multiculturais. Em algumas ocasiões, precisei lidar com culturas machistas e por meio de conversas e entregas, consegui abrir espaço para o respeito, a confiança e pude ver como esta postura serviu de exemplo para as demais mulheres ao meu entorno, fortalecendo a autoconfiança e reafirmando o fato de que gênero não dita nossas habilidades e nosso desempenho.
Felizmente, ao analisarmos os números macro referentes a mulheres na Ciência, percebemos que um bom caminho já foi percorrido. Uma pesquisa do British Council com a Unesco mostra que, na América Latina, as mulheres representam 46% do público total de pesquisadores na região e, assim, estão praticamente em paridade numérica com os homens. Em 2020, quando essas instituições fizeram a pesquisa pela primeira vez, nós éramos 33%. Esse crescimento é, evidentemente, muito positivo.
Quando saímos do número macro, no entanto, os dados diferem de acordo com o país. Em alguns países da América Latina, segundo este estudo, mulheres em carreiras STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) são menos de 20% do total de profissionais. Muitas não são incentivadas a seguir carreiras que, durante muito tempo, foram consideradas masculinas. Quando enfrentam e vencem o preconceito dentro da própria família de origem, esbarram com os dos colegas e, depois, com o do mercado de trabalho, principalmente se decidem ter filhos.
Mudar este cenário importa para nós e para as gerações futuras. Como Diretora de Research & Engineering (R&E) na Kimberly-Clark para a América Latina, vejo o quão necessário é termos mulheres em todos os lugares, dedicando seu olhar e seus talentos em todas as áreas. A diversidade no desenvolvimento de produtos, serviços e tecnologia é positiva para consumidoras e consumidores, mas vai além disso. Há uma questão muito séria que se colocará no futuro das nossas jovens. Se não tivermos mais mulheres com formação STEM, teremos mais pessoas do sexo feminino fora do mercado de trabalho. As projeções de mercado apontam que a maior parte das funções profissionais existentes hoje desaparecerá nas próximas três décadas e 75% dos empregos do futuro exigirão competências STEM e STI (sigla para ciência, tecnologia e inovação).
É por esse motivo que mulheres e homens precisam mudar o mindset nas companhias e dentro de suas famílias. Precisamos incentivar as meninas – assim como os meninos – a seguir a carreira que quiserem, sem dividir aptidões por gênero. Acredito que isso possa ser feito no dia a dia, orientando nossas equipes, homens e mulheres, a estarem sempre atentos aos vieses inconscientes para que possamos vencer os preconceitos.
Na Kimberly-Clark, respeitamos as individualidades e trabalhamos para que todos os colaboradores tenham essa mentalidade de que, a despeito da área, as mulheres sempre são bem-vindas e podem se desenvolver para atuar, empoderadas, onde quiserem. Na minha visão, essa também é uma forma de cuidarmos das pessoas – dentro e fora da organização.
Maria Marcia Caldas, Diretora Sênior de Research & Engineering (R&E) na Kimberly-Clark América Latina.