Web3 pode reescrever as regras de identidade digital do usuário

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A web3, grupo de tecnologias que compõem a terceira geração da Internet, integra hoje um ecossistema com milhares de empresas e mais de US$ 80 bilhões em financiamento inicial de capital de risco, fundos de hedge, private equity e outros investidores. Atentas ao seu crescimento significativo na última década, empresas de todos os setores já estão avaliando como ela pode influenciar os negócios, para o bem e para o mal.

O banco de dados de ativos digitais e web3 da Bain rastreia mais de 4.000 empresas que arrecadaram investimentos até o primeiro semestre de 2022 nos vários segmentos da web3. Embora o cenário tenha mudado nos últimos meses devido à volatilidade do mercado, o impulso continua em todos os setores. O poder de transformação da web3 é enorme, mesmo que apenas uma fração do potencial total dessa tecnologia se concretize. Uma das áreas onde podemos esperar grandes avanços é no conceito de identidade digital.

Como ponto de partida para democratizar a experiência online, a identidade digital na web3 é essencial para permitir que os usuários recuperem o controle de seus dados, abrindo as portas para personalização em massa da experiência de cada usuário. Dessa forma, tecnologias como inteligência artificial e aprendizado de máquina terão de evoluir para gerenciar a quantidade e a complexidade dos dados necessários para atender e rastrear os consumidores – sem deixar de lado a privacidade e a LGPD.

A web3 pode moldar o futuro da identidade online e a forma como os usuários se conectam aos aplicativos, funcionando como carteiras digitais que reúnem contas bancárias unificadas e passaportes digitais com recursos de login universal. Em vez de ter diversos logins para diferentes sites e aplicativos, o usuário poderá simplesmente "conectar" sua carteira, o que vai permitir que os usuários tenham um controle melhor de seus dados e bens digitais.

Para entender melhor como funciona a web3, é preciso considerar que ela é formada essencialmente por blockchains, smart contracts e tokens (fungíveis e não fungíveis). Blockchains são bancos de dados públicos, abertos e descentralizados capazes de executar linhas de código – as smarts contracts –, quando atendem a determinados critérios. Já os tokens permitem a representação digital de valor, sejam eles fungíveis (onde todas unidades são exatamente iguais) ou não fungíveis (onde cada ativo tem características exclusivas). Essa estrutura permite construir na web3 aplicativos descentralizados, DeFi (finanças descentralizadas), carteiras digitais abertas, tokens, organizações autônomas descentralizadas (DAOs) e metaversos abertos.

Para algumas das principais empresas de tecnologia do mundo, o uso de carteiras digitais e outras plataformas de identidade na web3 tem o potencial de revolucionar a forma como é construída a identidade online e o armazenamento de ativos. Considere que uma carteira é uma conta contábil no blockchain. Camadas de interface do usuário, como aplicativos de carteira digital, acessam o registro atual de seus ativos de forma geral, considerando o conjunto de ativos em todas as plataformas, mesmo que só estejam armazenados em uma delas.

Em 2020, as carteiras começaram a evoluir para muito mais do que apenas contas digitais. Os usuários passaram a interagir com aplicativos web3, como o acesso à bolsa descentralizada Uniswap, por exemplo, onde basta clicar em "conectar carteira", sem necessidade de criar uma conta. Ao conectar uma carteira, as plataformas podem ver seus ativos digitais e conceder acesso ou permissões com base em um token que você possui como, por exemplo, um NFT recebido ao participar de um evento.

O ritmo da inovação continua e hoje as empresas estão criando ferramentas especializadas que simplificam as carteiras, sem perder seus benefícios. Elas continuam movimentando bens digitais entre plataformas, mas também promovem interoperabilidade, eliminando a exigência de ações mais complexas que dificultam o engajamento do cliente.

As carteiras digitais permitem a confirmação de dados de identidade sem que eles sejam visualizados por quem pede a informação: elas simplesmente atestam a veracidade de informações, sem expor o conteúdo do documento. Essa função também permite que as carteiras validem acesso exclusivo para eventos para quem possui determinados ativos.

Outra área que pode se transformar com a aplicação das carteiras de dados é a produção de conteúdo na internet. Hoje ela é descentralizada, mas sua publicação acaba centralizada nas principais plataformas. As carteiras têm o potencial de alterar esse modelo de propriedade, transferindo dados e direitos de conteúdo das plataformas para o usuário. Desse modo, as plataformas de mídia social teriam acesso a dados de acesso e interação, mas o usuário poderia transportar suas interações sociais e conteúdos entre as plataformas sem perder esses números.

Mesmo considerando que a web3 ainda seja incipiente e algumas funcionalidades prometidas sejam superestimadas, a tecnologia pode ser transformadora mesmo se apenas parte de seu potencial total for alcançada. Por isso, ela não pode mais ser ignorada: é um ecossistema robusto, com financiamento considerável e metas claras. As empresas precisam entender os cenários que podem afetar seus principais mercados agora e no futuro. Ao avaliar todos os riscos que a web3 representa para seu mercado, será possível também identificar grandes oportunidades e crescer junto com essa inovação.

Luiz Diez, sócio da  Bain & Company, especialista nas práticas de Enterprise Technology e Consumer Products.

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