Iniciada em 2006, a Rede Universitária de Telemedicina (RUTE) já abrange 150 Hospitais Universitários e de Ensino. O programa é uma parceria da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e já conta com mais de R$ 20 milhões de investimento, realizados com recursos do MCTI e do Ministério da Saúde.
Segundo o coordenador da RUTE e da RNP, Luiz Ary Messina, o retorno é imediato. “O investimento é pequeno frente aos resultados, salvando vidas e trazendo uma economia fantástica, já que 70% dos pacientes atendidos a distância não precisam ser transportados para os centros urbanos. Com isso, as secretarias de saúde economizam até 12% em cada município”, afirma.
Ele explica que, anteriormente ao projeto, a grande maioria dos hospitais não era conectada em alta velocidade, nem possuía espaços propícios. “Hoje, todos têm uma conexão excelente”, garante. Quando não havia tecnologia nessas Instituições, não era possível “chegar com os profissionais na ponta, e oferecer uma educação continuada aos profissionais de saúde”, explica Messina, acrescentando que havia, e ainda há, uma perda de produtividade.
As secretarias de saúde dos municípios remotos têm entendido cada vez mais a necessidade dessa tecnologia, segundo ele. Dessa forma, Messina conta que a chegada da banda larga nessas cidades é responsável pela gradativa incorporação dos serviços de saúde a distância. "Os serviços públicos brasileiros de telemedicina e telessaúde contam, de forma geral, com videoconferência, diagnóstico, segunda opinião, educação continuada e permanente, e conferência web conectando hospitais universitários e de ensino a municípios e regiões remotas, por meio da rede IP da RNP”, explica Messina.
A telemedicina, aqui, é definida em três eixos: assistência remota do paciente, “sempre com profissional de saúde ao lado”; educação a distância; e pesquisa colaborativa. “A atuação nessas três áreas possibilita um grande desenvolvimento da saúde no país”, diz.
Segundo ele, com a interação desses grupos de interesse, os especialistas discutem novas metodologias de tratamento e passam dados para os residentes. No caso da educação a distância, a intenção é promover homogeneidade da formação médica em lugares remotos, além de viabilizar a assistência de especialistas de grandes centros, principalmente nos hospitais de ensino que, segundo Messina, geralmente não são acessíveis para a população em localidades distantes.
“São cerca de mil pessoas envolvidas e trabalhando diretamente no programa que atinge milhares de pessoas diariamente. Estamos presentes em cerca de 1.600 municípios”, afirma. No estado de Minas Gerais, por exemplo, são realizados 1.250 atendimentos por dia. Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), são contabilizados 500 mil exames por ano. “Temos ainda participado de encontros que reúnem 12 Ministérios de Saúde da América Latina, para passarmos a nossa experiência”, diz.
Resultados
“Com os resultados alcançados, a iniciativa é considerada a maior do mundo”, avalia Messina, informando os números: além dos 150 Hospitais Universitários de Ensino, há 55 núcleos de telemedicina e telessaúde conectados e atualmente funcionais; 50 SIGs (Special Interest Groups, Grupos de Interesse Especial), em diferentes especialidades da saúde, com 600 sessões por ano de vídeo e webconferências, e participação de 310 Instituições, incluindo Universidades particulares e Instituições tanto da América Latina, como de países africanos de língua portuguesa.
“Existem, sim, casos de sucesso que estão impactando significativamente o sistema de saúde no Brasil e contribuindo para avanços operacionais”, relata Messina. Entre os diversos projetos, ele destaca o Grupo Saúde Indígena e o Banco de Leite Humano. O último é coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – participante do “Grupo de Interesse Especial da Rede Universitária de Telemedicina” – e se trata de um centro especializado, vinculado a um hospital materno ou infantil, responsável pela promoção do aleitamento materno e a execução das atividades de coleta para posterior distribuição. Messina conta que o sucesso do projeto tornou-se, inclusive, matéria do jornal inglês The Guardian.
Além dos 55 núcleos de telemedicina e telessaúde já funcionais, ele informa que outros 77 estão em preparação, “o que representará um crescimento de 140% no programa, em breve”, revela. Segundo ele, o desafio agora é melhorar a comunicação. “O Plano Nacional de Banda Larga, do Governo Federal, tem o objetivo de melhorar a comunicação em comunidades remotas, e isso certamente vai facilitar a comunicação com os centros de saúde envolvidos nos projetos de telessaúde”, acredita.
Por fim, o coordenador dos projetos reitera que os resultados expressivos do projeto fazem o Brasil ser dono do maior programa de telessaúde público do mundo, servindo, assim, “de exemplo para a Organização Mundial de Saúde e para a Organização Panamericana de Saúde”, avalia.