Investir no desempenho humano e implementar as ações necessárias para obter progresso real e gerar resultados positivos nesse sentido é essencial para que as organizações avancem no novo cenário do trabalho. É o que aponta o estudo "Tendências Globais de Capital Humano 2024", realizado pela Deloitte, organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo.
O estudo aborda novas perspectivas e analisa as principais tendências no âmbito do trabalho, tais como: ampliar a sustentabilidade humana; ir além da produtividade para medir o desempenho humano; equilibrar privacidade e transparência para construir confiança; superar o déficit de imaginação; criar playgrounds digitais para explorar; cultivar microculturas no local de trabalho; recursos humanos sem fronteiras; e liderança como a chave para impulsionar o desempenho humano.
O estudo, que contou com a participação de mais de 14 mil profissionais de 95 países, incluindo o Brasil, explora como as organizações estão atravessando um novo cenário. Com a perda das referências tradicionais das relações no mundo do trabalho, as empresas ganham espaço para experimentar, inovar e redefinir a gestão de pessoas. O estudo analisa como os líderes têm enfrentado os desafios de avançar em um ambiente em constante mudança, com tecnologias disruptivas inseridas no dia a dia dos profissionais, como Inteligência Artificial Generativa (GenAI, na sigla em inglês), Aprendizado de Máquina, Computação em Nuvem, IoT, Blockchain, Realidade Aumentada e Realidade Virtual, Robótica e Big Data.
"O papel da liderança em um mundo sem fronteiras será fundamental para impulsionar o desempenho dos negócios, permitindo que as organizações se adaptem e se moldem ao futuro do trabalho, que está em constante evolução. Com informações, tecnologias e ferramentas até então inéditas à disposição, podemos nos aproximar do que realmente importa: a criação de valor para a organização, para os trabalhadores atuais e futuros, e para a sociedade em geral." afirma Ana Mocny, sócia de Capital Humano da Deloitte.
Ampliando a sustentabilidade humana
A pesquisa revela que a adoção de iniciativas focadas em criar valor para as pessoas como seres humanos, promover o bem-estar, a saúde e o desenvolvimento contínuo das pessoas, visa atender às necessidades atuais dos trabalhadores e todos os outros seres humanos que impactam, incluindo trabalhadores terceirizados, futuros trabalhadores ou pessoas em suas comunidades. Essa abordagem abrange aspectos físicos, mentais, sociais e econômicos da vida humana e exige que as organizações se concentrem menos em como as pessoas beneficiam a empresa e mais em como a empresa beneficia as pessoas.
Para viabilizar essa prática, é preciso redefinir a visão sobre as relações com as pessoas, focando na criação de valor para cada indivíduo conectado à empresa. Isso implica substituir uma abordagem transacional por uma que valorize a sustentabilidade humana e a confiança. Segundo os dados, 76% dos respondentes reconhecem a importância dessa prática, enquanto 10% afirmam estar liderando no avanço da sustentabilidade humana.
Diante desse cenário, ações para avaliar e reconhecer os comportamentos e os resultados alcançados, podem tornar o ambiente de trabalho mais saudável, inclusivo e produtivo, impulsionando a prosperidade dos trabalhadores e, consequentemente, melhorando o desempenho organizacional. Essa prática também ajuda a identificar o impacto das ações no bem-estar dos funcionários e na eficácia da empresa, permitindo estratégias mais eficientes para reduzir o estresse no trabalho e mitigar uma possível insegurança relacionada à substituição dos trabalhadores pela tecnologia.
Na pesquisa, 43% dos funcionários afirmam que a adoção dessas práticas no dia a dia das organizações os deixou em uma situação melhor do que quando iniciaram na empresa. Os principais desafios identificados pelos respondentes, relacionados à sustentabilidade humana nas organizações, foram o aumento do estresse no trabalho (53%) e a ameaça da tecnologia substituir empregos (28%).
Outras iniciativas, para valorizar a sustentabilidade humana do ponto de vista empresarial, como vincular recompensas dos líderes a métricas de sustentabilidade, integrar a governança da sustentabilidade humana na alta administração, envolver os trabalhadores na cocriação de seus papéis e capacitar gerentes para apoiar o bem-estar dos funcionários, são essenciais para construir um futuro em que trabalhadores, organizações e sociedade possam prosperar juntos.
Equilibrar privacidade e transparência para construir confiança
Os novos avanços tecnológicos tornam quase todos os aspectos de uma organização transparentes. Essa pode ser uma vantagem na visão de muitos líderes, já que tal visibilidade do funcionamento interno da organização, se gerenciada de maneira responsável, pode trazer oportunidades de medir e melhorar o desempenho humano. Há, porém, o risco de abusos no uso dessas informações, o que exige novas estruturas de responsabilidade para garantir que toda essa transparência eleve, em vez de diminuir, a confiança. Esses fatores tornam o equilíbrio adequado com a vigilância e o respeito à privacidade crucial.
A adoção de novas tecnologias que promovem a transparência pode fornecer um conjunto de ferramentas extremamente poderosas. Para utilizar esses novos dados de forma eficaz, é necessário um melhor entendimento da relação entre transparência e confiança. Essa tendência é considerada a mais importante entre as sete analisadas na pesquisa e foi identificada como a que terá o maior impacto no sucesso das organizações, tanto neste ano quanto nos próximos. A maioria dos líderes (88%) reconhece a importância da transparência, embora só 13% afirmem estar preparados para lidar com o tema. As principais barreiras apontadas são a falta de alinhamento ou comprometimento da liderança e as restrições internas.
Indo além da produtividade para medir o desempenho humano
Líderes de todos os setores estão começando a reconhecer as limitações das métricas tradicionais de produtividade no ambiente de trabalho atual. Esses métodos, que medem a produtividade do trabalhador com base em entradas e saídas, refletem exclusivamente a perspectiva da organização. Por outro lado, novas abordagens exigem uma nova matemática, gerando avaliações compartilhadas e que se reforcem mutuamente tanto para a organização quanto para o funcionário.
De acordo com o estudo, 74% dos respondentes afirmaram que é muito ou extremamente importante buscar melhores formas de medir o desempenho e o valor entregue pelos trabalhadores além da produtividade tradicional. Contudo, a mudança tem sido lenta. Até agora, 8% se consideram na vanguarda desse tema, enquanto 17% disseram que sua organização é muito ou extremamente eficaz na avaliação do valor criado pelos colaboradores individualmente, além do acompanhamento de atividades ou resultados.
Atualmente, é possível medir os resultados do desempenho humano com o auxílio de ferramentas de aprendizagem de máquina e transformá-los em recomendações. Essa coleta e análise de dados pode incluir as seguintes fontes: ferramentas e tecnologias do ambiente de trabalho, como e-mail, plataformas de colaboração, ferramentas sociais e calendários compartilhados, oferecendo insights em tempo real sobre a atuação das pessoas e do sistema organizacional.
A análise de rede organizacional também pode ser utilizada para medir conexões e colaboração entre pessoas em toda a empresa. Ferramentas e métodos como dispositivos vestíveis, scanners de crachá, neurotecnologia, sensoriamento biométrico, headsets de realidade aumentada e rastreamento de localização podem trazer informações sobre comportamentos e interações dos trabalhadores.
"A pesquisa vem destacando cada vez mais a importância de redefinir as relações com as pessoas no ambiente corporativo, enfatizando a necessidade de focar menos em como os trabalhadores beneficiam a empresa e mais em como a empresa pode criar valor para os indivíduos. Essa abordagem, que abrange aspectos físicos, mentais, sociais e econômicos da vida, é essencial para promover um ambiente de trabalho mais saudável, inclusivo e produtivo, impulsionando a sustentabilidade humana e a confiança." ressalta Luiz Barosa, sócio de Consultoria em Capital Humano da Deloitte.
Superando o déficit de imaginação num momento de avanços tecnológicos
O potencial de disrupção da Inteligência Artificial Generativa vem superando a capacidade de muitas organizações e trabalhadores de imaginar novas formas de trabalho que aproveitem as habilidades humanas e tecnológicas. Segundo os dados da pesquisa, 73% dos respondentes apontam ser importante garantir que as capacidades humanas na organização acompanhem a inovação tecnológica, enquanto 9% dizem estar fazendo progressos para alcançar esse equilíbrio. Consequentemente, muitas organizações podem se encontrar com um déficit de imaginação.
Para evitar esse cenário, as empresas precisam escalar e operacionalizar o cultivo de capacidades distintamente humanas, como curiosidade, empatia e criatividade, e devem dar aos trabalhadores e equipes a autonomia para usá-las para moldar os tipos de trabalho que fazem. Provavelmente será preciso mesmo imaginação para que se possa vislumbrar o próprio futuro, à medida que a Inteligência Artificial (IA) e outras tecnologias assumem papéis cada vez mais proeminentes nas vidas profissionais.
"Playgrounds digitais" podem aperfeiçoar o desenvolvimento humano nas empresas
Com o avanço tecnológico, especialmente a proliferação de tecnologias impulsionadas pela GenAI, há um potencial crescente para novas formas de trabalho que podem aperfeiçoar o desempenho humano, beneficiando tanto as organizações quanto os trabalhadores. Para ampliar essas possibilidades, é essencial criar espaços seguros onde organizações e indivíduos possam imaginar, explorar e cocriar um futuro que ofereça melhores experiências e resultados humanos de forma rápida e abrangente.
O relatório denomina esses espaços como "playgrounds digitais", também conhecidos como "Hubs de Inovação", que não são apenas um local físico ou uma plataforma virtual, mas uma nova mentalidade/ abordagem. Nela, as tecnologias são escolhidas intencionalmente, e as oportunidades de usá-las são democratizadas, proporcionando aos profissionais a chance e a segurança psicológica para experimentar novas maneiras de trabalhar, colaborar e explorar múltiplos futuros possíveis. O levantamento aponta que 65% dos participantes reconhecem a importância da implantação desses espaços, à medida que 10% dos líderes estão conseguindo progredir significativamente em relação a essa prática.
Cultivar microculturas no local de trabalho pode atrair e reter talentos
As organizações geralmente consistem em um conjunto diversificado de microculturas — variações sutis em como o trabalho é feito em diferentes funções, geografias, forças de trabalho e até mesmo equipes específicas. Os líderes estão percebendo a importância de focar em equipes e grupos de trabalho que cultivam fluidez, agilidade e diversidade dentro das organizações. O estudo indica que 71% dos respondentes consideram isso importante para o sucesso. Além disso, metade dos executivos acredita que a cultura organizacional é mais eficaz quando há uma variação moderada, mas essa é a tendência mais difícil de se implementar. A dificuldade em abordar essa tendência ressalta a importância da cultura para os trabalhadores, já que 73% deles já deixaram um emprego devido a uma não identificação cultural e à dificuldade dos líderes em definir e promover uma cultura adequada.
Quando as organizações adotam microculturas, elas podem atrair e reter os melhores talentos, antecipar e responder às mudanças com agilidade e atender melhor às necessidades exclusivas dos trabalhadores. Uma chave para aproveitar o poder das microculturas é incentivar a autonomia de vários grupos de trabalho, fornecendo-lhes os recursos necessários para estabelecer suas próprias maneiras de trabalhar e alinhando essas misturas localizadas de cultura e estratégia de negócios com os mesmos princípios orientadores e valores organizacionais.
Recursos humanos como uma disciplina sem fronteiras
As novas formas de trabalho estão exigindo cada vez mais agilidade, inovação e colaboração para alcançar resultados. Um novo modelo operacional de recursos humanos não é a única solução para responder a essas mudanças. Em vez disso, uma nova mentalidade, juntamente com um novo conjunto de práticas, métricas, tecnologias e muito mais, pode transformar o setor de uma função especializada que possui toda a responsabilidade da força de trabalho para uma disciplina sem limites, cocriada e integrada com as pessoas, negócios e comunidade que serve. O levantamento indica que, dessa forma, é possível desenvolver conhecimento em competências de gestão de pessoas em toda a cadeia de valor do negócio, criando soluções multidisciplinares para problemas cada vez mais complexos.
Enquanto muitas organizações (72%) reconheçam a importância dessa mudança de mentalidade dentro dos times de gestão, poucas estão avançando com o tema, apontando como o desafio principal gerar avanço real que de fato irá desbloquear o desempenho humano. Ao mesmo tempo, o ritmo das mudanças e as expectativas continuam a aumentar, sugerindo que o RH deve reinventar seu propósito e adotar uma abordagem sem fronteiras para ajudar as empresas a se protegerem contra retrocessos e evoluírem rapidamente.
"Operamos em um mundo onde o trabalho não é mais definido por funções específicas, o local de trabalho não se limita a um espaço físico, muitos trabalhadores não são mais empregados tradicionais e os recursos humanos não estão mais isolados. Essas fronteiras, anteriormente vistas como a ordem natural das coisas, estão se dissolvendo e os modelos tradicionais de trabalho estão perdendo as fronteiras. Podemos observar uma lacuna significativa entre a compreensão sobre a importância da adoção de práticas voltadas à transparência e sustentabilidade e prática de ações relevantes para endereçar esses temas, tanto no mercado global quanto no Brasil. Portanto, é essencial reconhecer que impulsionar o desempenho humano e liderar em um mundo sem fronteiras trará mitos desafios operacionais." aponta Roberta Yoshida, sócia de Consultoria Empresarial e líder da prática de Capital Humano.
Liderança como a chave para impulsionar o desempenho humano
Em um ambiente de trabalho cada vez mais influenciado pelos avanços tecnológicos, muitos líderes e profissionais estão focados em um novo desafio: melhorar a forma como as pessoas trabalham, especialmente, criar valor para seus próprios profissionais e todas as outras pessoas que são impactadas pela organização. O relatório destaca que 76% dos entrevistados afirmam que deixar cada pessoa que entra em contato com a organização em uma situação melhor do que estava antes é muito ou criticamente importante para o sucesso nos negócios. Apesar de demonstrarem essa percepção, os líderes e executivos não priorizam o tema na prática, classificando essa tendência como menos importante do que reimaginar o trabalho com ferramentas digitais e medir melhor o desempenho dos trabalhadores.
Para avançar nessa questão, é necessário adotar uma liderança mais integrada e multifuncional, o que envolve examinar e evoluir as próprias mentalidades desses líderes de formas que podem não ser tão confortáveis ou familiares. Isso provavelmente exigirá novas e diferentes medidas de responsabilização dessa liderança, exigindo que gestores em todos os níveis não apenas adotem novas formas de trabalhar, mas também as exemplifiquem para o restante da organização, ajudando pessoas de todas as áreas administrativas a incorporarem uma nova mentalidade e as melhores práticas identificadas.
O estudo Tendências Globais de Capital Humano 2024, realizada pela Deloitte, contou com a participação de mais de 14 mil profissionais pelo mundo dos negócios e organizações de Recursos Humanos, de 95 países, incluindo o Brasil. Os dados da pesquisa são complementados por mais de uma dúzia de entrevistas com executivos de algumas das principais organizações atuais. Esses insights ajudaram a moldar as tendências neste relatório.