O mercado de PCs, notebooks e tablets deve fechar o ano com queda de 13% no faturamento em relação ao ano anterior, totalizando R$ 32,6 bilhões contra R$ 37,6 bilhões. Já o mercado de telecomunicações deve ficar estável, com receitas de R$ 29,5 bilhões, o que, na prática, significa uma queda, pois não foi computada a inflação do ano. A informação é da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), que reuniu a imprensa nesta quinta-feira, 10, para apresentar uma radiografia do setor.
Os dados revelam que a indústria eletroeletrônica deverá atingir R$ 148,3 bilhões, o que representa uma queda real (descontada a inflação) de 10% em relação ao ano passado, quando registrou R$ 153,8 bilhões, em termos nominais. Além dos produtos de TI e telecomunicações, a cifra inclui os setores de equipamentos industriais, componentes, material de instalação, energia elétrica e utilidades domésticas.
Segundo Humberto Barbato, presidente da Abinee, nem mesmo as vendas de Natal poderão mudar esse quadro, pois, segundo ele, os consumidores anteciparam as compras para novembro devido as promoções da Black Friday e fugiram do aumento de preços aplicado pelo comércio a partir de dezembro. "Mesmo com a volta da oneração fiscal prevista para janeiro, o comércio não quis correr o risco e aplicou o reajuste, pois o que foi resolvido com os senadores Humberto Costa e José Pimentel (Medida Provisória 690) ainda não foi homologado pelo Senado e Câmara, para que possa entrar em vigor", explicou.
De acordo com o dirigente empresarial, "2016 vai refletir toda a maldade das medidas do governo aplicadas em 2105". Neste ano, foram descontinuados os programas de desoneração da folha de pagamentos, o Reintegra e a chamada Lei do Bem. Outro número negativo, apontado por Barbato, foi a redução do número de empregos diretos no setor, que em 2014 registrava 293.610 funcionários contra 256 mil ao fim deste ano. No entanto, a Abinee não tem a estatística de quanto desses funcionários são do setor de TI e telecomunicações.
O desempenho do setor mostra ainda que os investimentos retraíram 10%, passando de R$ 3,8 bilhões em 2014 para US$ 3,5 bilhões em 2015.
As exportações sofreram uma retração de 11%, caindo de US$ 6,6 bilhões em 2014 para US$ 5,8 bilhões em 2015. Dentro desse cenário, as importações também foram reduzidas 19%, registrando US$ 41,2 bilhões em 2014 contra US$ 33,2 bilhões em 2015.
Setor de informática
Segundo dados da IDC, cujos números foram utilizados pela Abinee, as vendas de desktops neste ano deverão cair 36%, notebooks, 37% e tablets, 36%, na comparação com 2014. A consultoria ressalta que esses números também refletem não só a retração do crédito e a queda do poder de compra da população, mas também uma mudança no avanço da tecnologia, quando um produto substituiu o outro na preferência do consumidor, que atualmente está trocando todos os três por um smartphone.
No segmento de celulares e smartphones, houve um crescimento de 10% em termos de faturamento, mas uma queda de 13% em número de unidades. A queda nas vendas de celulares simples foi de 78%, enquanto a de smarphones foi de 13%, uma vez que o consumidor migrou para aparelhos mais sofisticados. A pesquisa mostra que em 2014 os smarphones eram 78% das vendas da categoria e agora atingiram a marca de 92% de participação de mercado.
Projeções para 2016
Para 2016, as empresas do setor eletroeletrônico projetam uma queda real da ordem de 6% no faturamento em relação a este ano, o que, segundo a Abinee, é compatível coma nova estimativa para o PIB para o próximo ano, que é de cerca de menos 2,5%. As exportações devem ter um crescimento da ordem de 2% e a importações queda de 3%. O número de empregos também deve continuar caindo, cerca de 2%, contabilizando 252 mil trabalhadores em 2016.
Mercado de smartphones
Também nesta quinta-feira, 10, a IDC divulgou os dados de sua pesquisa mostrando que, pelo segundo trimestre consecutivo, o mercado de smartphones encerrou em queda no Brasil. De julho a setembro deste ano, aproximadamente 10.753 milhões de celulares inteligentes foram vendidos, 25,5% a menos na comparação com o mesmo período do ano passado. Somando com a categoria dos chamados feature phones (aparelhos convencionais), foram cerca de 11.710 milhões de dispositivos comercializados, 35% a menos do que no terceiro trimestre de 2014. Os números constam no estudo IDC Brazil Mobile Phone Tracker Q3, realizado pela IDC Brasil.
Para Leonardo Munin, analista de pesquisas da IDC Brasil, os números confirmam as dificuldades do mercado e invertem dados históricos: normalmente, o trimestre mais fraco em termos de vendas é o primeiro, mas, neste ano, deverá ser o de melhor desempenho. "Assim como no segundo trimestre, novamente os estoques continuam altos e os varejistas e fabricantes fazendo promoções para conseguir vender. Estamos voltando ao patamar de 2013. A última vez em que as vendas ficaram abaixo de 11 milhões de unidades foi no terceiro trimestre daquele ano", afirma o analista. Nem as datas comemorativas têm dado fôlego às vendas. Segundo Munin, pela primeira vez houve fabricantes que não participaram diretamente da Black Friday. "A data certamente aqueceu as vendas, o desempenho será melhor que o do Natal, mas não o suficiente para recuperar o volume do ano."
Além das questões relacionadas à alta do dólar e do baixo desempenho da economia, o analista da IDC Brasil atribui o aumento do ciclo de vida dos smartphones — devido às melhorias nas especificações técnicas — como uma das razões para a queda nas vendas. Segundo ele, o usuário levava cerca de um ano e seis meses para adquirir um novo aparelho. Hoje, o interesse pela troca permanece, porém, o que se vê é que a compra tem sido cada vez mais postergada.
Apesar da queda em número de unidades vendidas, os dados da IDC revelam que houve crescimento de 1,7% na receita no terceiro trimestre, com aproximadamente R$ 9,9 bilhões. "Hoje há equipamentos mais robustos, com recursos mais sofisticados e, consequentemente mais caros", explica Munin. O ticket médio passou de R$ 790 no primeiro trimestre de 2015 para R$ 925 no terceiro. Outro dado apresentado pelo analista mostra que 46% das vendas – quase cinco milhões de smartphones — foram de aparelhos compatíveis com a rede 4G.
A expectativa da IDC Brasil é que o mercado de smartphones termine 2015 com baixa de 12,8%, com 47,575 milhões de celulares inteligentes comercializados. Já o mercado total, deve cair 26,8% frente a 2014. Em relação ao fim da MP do Bem, Leonardo Munin avisa: "Assim que o fim da isenção de impostos começar a valer, o preço final dos produtos deve ficar 10% mais caro na ponta e refletirá diretamente no desempenho das vendas. Para 2016, nossa projeção é de queda de ao menos 8%, com aproximadamente 43,8 milhões de smartphones comercializados".