Falta de mão-de-obra em P&D no país leva multinacionais a criar centros na Índia e China

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A mão-de-obra dos trabalhadores da indústria brasileira é comparável, em termos qualitativos, à de países desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha. Mas, apesar disso, o país apresenta forte escassez de pessoal qualificado. Isso pode ser um fator determinante para que as multinacionais estrangeiras instaladas no Brasil optem por transferir ou criar centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em outros países considerados emergentes, como Índia e China.

Essa é uma das conclusões do projeto ?Políticas de desenvolvimento de atividades tecnológicas em filiais brasileiras de multinacionais?, concluído no fim do ano passado e coordenado pelo Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com participação de um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

O objetivo do trabalho, que teve apoio da Fapesp no âmbito do Programa de Pesquisas em Políticas Públicas e foi realizado em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, foi identificar os principais entraves à atração de filiais de empresas multinacionais ao Brasil, principalmente no que diz respeito à realização de atividades de P&D em território nacional.

Durante dois anos os pesquisadores entrevistaram, em duas etapas, representantes de dezenas de filiais de multinacionais instaladas no Brasil. Em um primeiro momento foram consultadas 88 empresas, por meio de um questionário respondido de forma online por seus presidentes. Dessas companhias, 81,7% consideram que a escassez de mão-de-obra qualificada será um fator crítico nos próximos cinco anos no que diz respeito aos investimentos futuros em P&D no país.

Na segunda etapa da pesquisa, em que foram entrevistados presencialmente dirigentes de 47 companhias, 58,7% destacaram o problema da escassez em quantidade de profissionais qualificados. Já a falta de mão-de-obra em qualidade foi apontada por 34,8% das empresas.

?De acordo com os dirigentes falta mão-de-obra qualificada no país?, disse Flávia Consoni, pesquisadora do Departamento de Sociologia da USP e do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp que coordenou as entrevistas presenciais.

A maioria dos dirigentes elogiou a qualidade da mão-de-obra brasileira, principalmente no seu custo-benefício. ?No entanto, ainda que essa qualidade tenha sido constantemente mencionada e relacionada ao ensino das universidades brasileiras, tanto as públicas como algumas particulares, existem outros limitantes importantes além da falta de bons profissionais. A língua é um deles. Por diversas vezes os dirigentes das filiais no Brasil associaram a dificuldade de se conseguir mão-de-obra no Brasil com a falta de profissionais que falem inglês, principalmente entre os da área de tecnologia da informação?, afirmou.

Mais destaque para a mão-de-obra

Ainda entre as 47 empresas analisadas na segunda parte do trabalho, cerca de 80% afirmaram promover discussões com a matriz sobre a atração de investimento direto externo para a realização de P&D no Brasil. A mão-de-obra qualificada foi novamente o fator mais determinante para essa atração de recursos.

Flávia conta que, em um dos questionamentos, sobre quais os argumentos que a filial brasileira usa para atrair investimentos locais em P&D, os mais representativos foram mão-de-obra (21%), custo (17%), ambiente ou infra-estrutura para P&D (13%) e especificidade do ambiente e mercado (9%). ?Quanto ao fator mão-de-obra, os argumentos estavam basicamente alinhados à característica e qualidade dos serviços prestados. As empresas dizem que a mão-de-obra local é flexível, qualificada e competitiva em custo?, disse a pesquisadora.

Ela destacou outra pergunta da entrevista presencial, que buscou descobrir quais fatores a matriz realmente considera determinantes para investir em P&D no Brasil. A questão foi formulada de maneira a apresentar ao entrevistado uma relação de 24 fatores distribuídos em quatro categorias: mercadológica, tecnológica (incluindo mão-de-obra e estrutura existente dentro e fora da empresa), econômica-financeira e governamental/política.

Os dirigentes das empresas deveriam escolher os principais fatores em ordem de importância quanto à sua influência na decisão da matriz. ?A questão mão-de-obra qualificada, aqui compreendendo a capacitação da mão-de-obra especializada no Brasil, também ocupou a primeira posição, apresentando-se como um elemento que de fato faz a diferença na opção de investir em pesquisa e desenvolvimento no Brasil?, apontou Flávia.

Segundo ela, após quantificarem as respostas com notas numéricas, a citação ?disponibilidade de pessoal capacitado em qualidade, competência técnica, pró-atividade, capacidade criativa e flexibilidade? recebeu 96 pontos, quase o dobro do segundo fator mais citado, que foi o ?custo de fazer P&D no Brasil?, com 53 pontos. ?A necessidade de mão-de-obra qualificada foi citada tanto entre os argumentos que o empresariado utiliza para destacar as vantagens do Brasil como entre as principais razões que levam a matriz a optar por investir nesse tipo de atividade no Brasil?, acrescentou Flávia.

Apesar de o projeto ter sido encerrado, outras filiais de multinacionais instaladas no Brasil estão sendo entrevistadas presencialmente, em trabalho com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Essa outra pesquisa deverá ser encerrada até o fim de 2008 e, em seguida, os autores deverão publicar um livro com os principais resultados.

Com informações da Agência Fapesp.

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