Uma pesquisa recente realizada nos Estados Unidos pela consultoria Pew Research Center sobre as expectativas das pessoas em relação à automação da força de trabalho revela que, ao contrário do que dita o senso comum, a maioria dos norte-americanos não acredita que a ascensão dos robôs irá roubar seus empregos. O levantamento aponta que cerca de dois terços dos trabalhadores acha que os robôs ou computadores vão assumir muitos dos trabalhos realizados por seres humanos no próximo meio século, mas não seus empregos.
"Assim como muitos americanos esperam que as máquinas vão assumir uma grande quantidade do trabalho humano, uma parcela ainda maior (80%) acredita que suas funções ou profissões permanecerão praticamente inalteradas", diz o relatório, que classifica essa visão como uma desconexão. A consultoria constatou que grande parte dos americanos está mais preocupada em perder seu emprego para um trabalhador de média qualificação, com um patamar de salário mais baixo, ou com a má gestão do empregador, do que com um robô.
"A automação robótica é algo que as pessoas sentem que vai acontecer num futuro indefinido, mas eu não acho que elas estão fazendo essa projeção em razão suas próprias perspectivas de emprego, ou perspectivas de emprego de seus filhos", diz Aaron Smith, principal autor da pesquisa o Pew Research Center.
O estudo mostra, por exemplo, que 41% dos entrevistados cujo trabalho envolve na maior parte das vezes tarefas manuais ou físicas acreditam que sua ocupação se manterá em sua forma atual pelos próximos 50 anos, assim como 34% dos que descrevem sua função atual como "profissional". Em contrapartida, apenas 23% das pessoas em cargos gerencial ou executivo avaliam que seu trabalho atual se manterá inalterado nas próximas cinco décadas. No geral, a grande maioria dos trabalhadores, de uma variedade de categorias, expressa confiança sobre a manutenção de seu trabalho ou profissão no longo prazo.
Destruição de postos de trabalho
Mas economistas e acadêmicos não são tão benevolentes em relação à próxima onda de máquinas inteligentes. Alguns avaliam que elas têm, sim, potencial para destruir postos de trabalho bem remunerados e prejudicar a economia. "Em outras palavras, o progresso tecnológico pode ser arruinante", dizem os autores de um trabalho nessa área Seth Benzell, Laurence Kotlikoff e Guillermo Lagarda, da Universidade de Boston.
Essa opinião é corroborada por Jeffrey Sachs, da Universidade de Columbia, que escreveu um estudo sobre o tema no ano passado. Um outro estudo, este de 2013, realizado por Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, da Universidade de Oxford, aponta que 47% dos empregos nos EUA estão em vias de serem automatizados.
Outros pesquisadores são menos pessimistas. O professor David Autor, do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT) apresentou uma pesquisa no ano passado mostrando que os trabalhos de média qualificação como contabilidade, administrativo e tarefas repetitivas em linhas de montagem estão sendo rapidamente substituídos pela automação. Mas empregos mais bem remunerados, que exigem criatividade na resolução de problemas, bem como empregos menos qualificados que são resistentes à automação, têm crescido rapidamente. O resultado, segundo ele, tem sido um mercado de trabalho mais polarizado e com salários estagnados.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, a CEO da IBM, Virginia Rometty, disse no ano passado que acredita que a automação não irá destruir o mercado de trabalho. "Isto não é sobre a substituição de pessoas. Trata-se de aumentar o que o homem faz… Ela [a automação] nos ajuda a fazer coisas que não podíamos fazer", disse ela em um simpósio.
Confira, a seguir, alguns dos resultados da pesquisa do Pew Research Center:
. 15% dos norte-americanos acreditam que os robôs e computadores irão "definitivamente" assumir parte do trabalho feito por seres humanos dentro de 50 anos.
. 50% acham que "provavelmente" que os robôs e computadores substituirão o homem em várias funções.
. Pouco menos de dois terços avaliam que robôs e computadores "provavelmente" não irão realizar grande parte do trabalho já feito por seres humanos dentro de 50 anos.
. Mais de um terço dos trabalhadores acereditam que seus empregos ou profissões "definitivamente" não irão existir na sua forma atual em 50 anos.
. Em contrapartida, 44% acham que seus empregos "provavelmente" se manterão na forma atual.
. Por fim, 18% acreditam que "provavelmente" ou "definitivamente" não seus trabalhos não existirão na forma atual em 50 anos.