Fundei a Samba Tech em 2008 depois de ter passado por uma experiência rápido crescimento e declínio no meu negócio anterior – a Samba Mobile, empresa que montei quando ainda estava na faculdade com o intuito de resolver um único problema: não existiam jogos de celular disponíveis para compra nas operadoras.
Eu tinha meus 19 anos quando recebi o primeiro grande investimento da minha vida. Na época eram 100 mil dólares, vindo de dois investidores anjos. Começamos a vender joguinhos para celular que trazíamos ao Brasil em parceria com um grande player europeu. Em 2006, primeiro ano de operação da empresa, fechamos contratos para distribuição dos games para as 4 maiores operadoras de celular do país. O negócio parecia tão atrativo e fácil que, um ano depois, nós já vendíamos para quase todos os países da América do Sul através de escritórios em Buenos Aires, na Argentina e Santiago, no Chile. O crescimento era bem acima da média das empresas nascentes e nós nos sentíamos imbatíveis.
2006 havia sido um ano incrível e começávamos a pensar nas estratégias de crescimento para o próximo ano quando uma ligação nos surpreendeu. Uma grande operadora com sede no Rio estava nos chamando para uma reunião, queriam conversar sobre o contrato, que era baseado na divisão de receita em que tudo que se vendia era dividido igualmente para as partes (Operadora e Samba).
A conversa foi rápida e o final dela nos jogou no chão. Estavam revendo o contrato para 70/30 (Samba ficaria com a menor parte). Algo que se repetiu por quase todas as operadoras nos meses seguintes. Era um sinal claro de que o que havia nos levado até aquele ponto não nos levaria muito mais longe. Precisávamos reinventar nosso negócio depois de apenas 2 anos de operação.
Ainda ganhávamos algum dinheiro e tivemos tempo para mudarmos o foco da empresa para streaming de vídeos. Entramos num mercado virgem e rapidamente conquistamos os principais grupos de mídia do país (Globo, SBT, Record, Abril, IG e Band). Novamente um crescimento rápido. Ficamos empolgados, agora tinhamos certeza de que estávamos no caminho certo. Queríamos acelerar mais. Só pensávamos em crescer, conquistar novos territórios, e, nos bastidores, sonhávamos em vender a empresa para algum grupo de tecnologia.
Era 2010 e nada parecia nos parar. Foi aí que em fevereiro daquele ano um grande grupo de tecnologia brasileiro nos procurou. Estavam interessados em comprar a Samba. Tudo que havíamos planejado. Nosso grande sonho iria virar realidade. Contratamos uma empresa americana para buscar outros possíveis compradores. Em algumas semanas uma lista chegou ao meu email com empresas globais que tinham interesse em conhecer nosso negócio à fundo.
Estávamos apresentando um crescimento rápido com tecnologia interessante. Mas a vontade de vender nos fez criar uma empresa sem alma, sem processos, sem governança, sem gestão. Era apenas uma carenagem bonita, mas com interior mal acabado. E isso ninguém quer. Todos os compradores desistiram.
Resolvi fazer uma viagem para São Francisco para arejar minha mente. Conversar com gente diferente e entender o que estava errado. Conversei com diversos empreendedores, alguns bem experientes. Gente que já havia levantado investimento, construído grandes empresas e também vendido alguns negócios. E tudo mudou na minha cabeça. Naquele momento entendi que a pressa para crescer e ser vendido nos levou a acreditar que a corrida era curta. Que precisávamos ser rápidos para chegar no fim, que era a venda. Isso nos fez tomar decisões pouco inteligentes, desde a contratação de pessoas que não tinham o DNA da empresa até deixar de lado a gestão e organização em prol do crescimento.
Foi aí que passei a pensar que, focando em construir uma empresa de verdade e que pudesse se perpetuar, eu estaria criando um negócio sólido, com cultura, com crescimento sustentável, com gente que estava lá pelo sonho e não por dinheiro. Criamos nossas métricas, passamos a agir com transparência internamente e externamente. Cultivamos o relacionamento com clientes e focamos na estabilidade da nossa plataforma.
Os anos de 2013 e 2014 foram para repensar o negócio, os processos, as finanças, o marketing e também a maneira de vender. Aceleramos o crescimento depois disso só fazendo o que achávamos que seria sustentável e nos levaria a um novo patamar de empresa. Montamos um conselho consultivo com gente experiente que pudesse nos ajudar a criar um negócio de classe mundial.
Em 2016 a Samba já atua em 8 países e abriu agora seu escritório em Seattle, nos Estados Unidos. Levantamos uma terceira rodada de investimentos focados na expansão, contratamos gente para os escritórios de Belo Horizonte, São Paulo, Bogotá e Seattle. Desta vez buscando profissionais que acreditem no nosso sonho e não apenas no dinheiro que recebem no final do mês.
Compartilho essa história pois gostaria que alguém tivesse me contado sobre a maratona quando comecei. Às vezes recebemos estímulos errados da mídia, que nos levam a crer que essa corrida é para velocistas. Mas como diria Rocky Balboa: "não importa o quão forte você bate, mas o quanto consegue apanhar e continuar de pé".
Gustavo Caetano, CEO e fundador da Samba Tech.