Empresas de todo o mundo, inclusive do Brasil, convivem hoje com uma dualidade: elas entendem a importância de oferecer produtos e serviços com a melhor qualidade possível para os clientes, mas poucas delas estão dispostas a investir tempo e recursos em ferramentas, processos e pessoas voltados a testar a qualidade final de suas aplicações, antes de colocá-las em produção.
Se essa situação era pouco percebida há dez anos, com o uso cada vez mais intensivo da internet, a tendência transformou-se em um problema evidente e crítico para as organizações. Basta lembrar de todas as notícias veiculadas nos últimos tempos sobre sites de e-commerce que saíram do ar em períodos de promoções com ampla divulgação na mídia ou, ainda, sobre os problemas com vendas de ingressos online para grandes shows e eventos, em períodos de pico.
O que esses acontecimentos têm a ver com a qualidade das aplicações? Tudo, pois se as empresas tivessem testado os ambientes de forma adequada, não seriam surpreendidas por condições adversas, como um número de acessos acima do estimado. Melhor de tudo, não teriam perdido quantias significativas de dinheiro e gerado uma imagem negativa para os clientes.
As desculpas utilizadas para a não realização dos testes nas empresas são muitas. A mais comum delas é de que as organizações não têm como aumentar o orçamento dos projetos de TI para incluir a fase de testes. Essa justificativa, no entanto, cai por terra se considerarmos o prejuízo – financeiro e para a reputação da empresa – que pode ser causado por um problema ou defeito perceptível para o usuário.
Remover defeitos o mais cedo possível, durante o ciclo de desenvolvimento de uma aplicação, representa um ganho evidente de tempo e dinheiro. Uma pesquisa realizada por grandes empresas americanas, como IBM, GTE e TRW, mostra que a solução de um defeito na fase de levantamento dos requisitos pode custar até 20 vezes menos do que realizar essa mesma remoção na fase de testes de homologação.
Outra justificativa constante das áreas de TI é a de que testar atrasa a entrega dos projetos. Uma situação que realmente ocorre quando as empresas deixam para realizar esses testes só depois de o código estar pronto, em vez de executá-los em paralelo às etapas de desenvolvimento do software – que seria o caminho adequado.
A boa notícia é de que há uma expectativa de, nos próximos anos, as empresas mudarem de forma radical a postura em relação ao teste de software. Isso porque, a pressão dos usuários por mais qualidade, somada à demanda dos acionistas por produtividade, tende a transformar a questão em uma condição essencial a qualquer projeto de TI.
*Ana Aquino é consultora especialista em teste e qualidade de software da Borland, empresa do grupo Micro Focus.