O Brasil precisa investir urgentemente no desenvolvimento do seu capital humano se quiser crescer e ter um espaço mais relevante na economia digital mundial. Essa é a conclusão de dois relatórios divulgados recentemente: o Brazilian Digital Report, organizado pela consultoria McKinsey, e o Índice de Maturidade Digital, pesquisa feita pelo Google em parceria com a McKinsey.
O primeiro mostra que o fato de sermos um dos povos mais conectados do mundo não reflete nem de perto na criação de negócios digitais e de empregos na área de tecnologia e inovação. Passamos 9 horas por dia na web (contra 6 horas dos americanos) consumindo inovações de gigantes como Apple, Google e Facebook. Enquanto isso, nossas maiores empresas são petroleiras, bancos e mineradoras.
No segundo relatório, o Google explica qual é a lacuna. O brasileiro domina apenas habilidades digitais mais básicas, como navegar pela internet. Porém, não tem cultura digital, não se arrisca no uso de novas tecnologias e praticamente não produz para o ambiente digital, atitude essencial para garantir maior produtividade, empregabilidade e, logo, geração de renda e competitividade.
O que nos falta? O Brazilian Digital Report mostra que precisamos de um ambiente mais favorável à inovação – menos burocracia para estimular o empreendedorismo de risco e mais investimentos no desenvolvimento de tecnologias. Juntos, o governo brasileiro e as empresas privadas gastam 1,3% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, índice muito abaixo da China (2,1%) França (2,2%) e Estados Unidos (2,7%).
Mas faltam, sobretudo, profissionais qualificados, formados principalmente em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Temos 1% da população graduada nessas áreas, enquanto na Índia o índice é de 1,7% e nos Estados Unidos de 4,8%. Fale com qualquer especialista que pensa no Brasil do futuro com base na atual realidade e a sentença será: vai faltar capital humano qualificado.
A educação de qualidade é a maior lacuna para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. É o que mostram os dados do relatório Brazilian Digital. Parece básico, mas é preciso lembrar: ensinar e capacitar não é custo, é investimento. Estou falando de ensino formal em escolas e universidades, mas também da educação corporativa, capaz de transformar positivamente os resultados de uma empresa e "acelerar as pessoas", suas expertises e suas carreiras.
Precisamos qualificar nossa força de trabalho para aumentar a produtividade e, assim, sermos mais competitivos e impulsionar o crescimento de nossa economia. Hoje, temos o apoio de tecnologias digitais para acelerar os processos de aprendizagem. Não precisamos levar as pessoas aos ambientes digitais. Elas já estão lá. Precisamos de criatividade para usar esses espaços como ambiente de educação e conhecimento.
Melhorar o índice de maturidade digital da força de trabalho brasileira é solução não apenas para remover obstáculos ao crescimento econômico. A pesquisa do Google mostra que as desigualdades nas habilidades digitais refletem as desigualdades sociais e também de raça, idade e gênero. As competências digitais são imprescindíveis para alcançarmos um cenário de maior equilíbrio social e competitividade.
Luiz Alberto Ferla, CEO e fundador do DOT digital group.