A possibilidade de a Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo) romper as barreiras da esfera pública e atingir a iniciativa privada em, no máximo dois anos, levanta uma série de questionamentos na comunidade de TI, principalmente por parte dos empresários do setor.
A intenção da Prodesp em ampliar a lucratividade comercializando soluções para empresas do setor privado foi manifestada desde o início de abril pelo presidente Leão Roberto Machado de Carvalho, nomeado para o cargo no começo deste ano. Vale lembrar que a companhia teve um lucro líquido de R$ 25 milhões em 2006 (embora tivesse tido prejuízo por vários anos em épocas anteriores).
A atuação da Companhia tem ultrapassado os limites do Estado de São Paulo, com a prestação de serviços não apenas para secretarias e prefeituras de outros estados brasileiros, mas atingindo até outros países, como ocorre na Nicarágua e Nigéria.
Mas o que preocupa empresários do ramo é que a entrada da Prodesp no mercado privado pode trazer graves conseqüências para todo o setor de TI. Afinal, como uma empresa privada, qualquer que seja seu porte, e principalmente uma média ou pequena, poderá concorrer com uma empresa gigante, responsável pelo desenvolvimento de todas as soluções em TI no Estado de São Paulo, capitalizada com o lucro de anos recentes em níveis inatingíveis para qualquer empresa privada de TI?
O último estudo do Ministério do Trabalho e Emprego mostra que, em 2005, o Estado de São Paulo possuía mais de seis mil empresas do setor de Tecnologia da Informação, totalizando mais de 82 mil trabalhadores formais, o que representa pouco mais de um terço da massa de profissionais de TI do País. Como em quase todos os setores da economia brasileira, mais de 90% das empresas são de micro, pequeno e médio porte.
A concorrência que a entrada da Prodesp, e de outras empresas públicas que venham a imitá-la, representará para as empresas privadas do setor de TI será mais uma dificuldade para o desenvolvimento das empresas do setor.
O que é inaceitável é que esta concorrência venha sendo financiada e capitalizada pelo dinheiro de impostos arrecadados junto aos contribuintes, que bancaram os sucessivos prejuízos do passado. Uma decisão deste tipo não pode ser tomada apenas pela empresa pública, mas precisa ser submetida à avaliação da sociedade antes.
Roberto Carlos Mayer, presidente da Assespro-SP