Amazon Web Services, Microsoft Azure, Google Cloud e Alibaba são os maiores provedores mundiais de serviços de computação em nuvem; os três primeiros, americanos e o outro, chinês. Segundo o instituto de pesquisas Gartner, em 2019 os quatro detinham 75% do mercado e consequentemente um imenso poder sobre governos, empresas e pessoas.
Mas a Europa pretende mudar essa situação: os governos da Alemanha e França, aos quais se juntaram 22 importantes empresas e outras organizações, entre as quais Atos, Siemens, SAP, Deutsche Telekom, Deutsche Bank e Bosch, anunciaram o lançamento de uma iniciativa, chamada Gaia-X, que pretende oferecer a usuários europeus uma plataforma que permita um controle maior acerca de onde e como são armazenados e processados os seus dados.
A ideia é que os primeiros testes estejam concluídos até o final deste ano e que a plataforma, que vem sendo chamada "super nuvem europeia", comece a operar no início de 2021, fazendo com que o volume de dados europeus, armazenados em nuvens europeias, deixe de ser apenas 4%.
Uma das razões para a criação da Gaia-X é a possibilidade de que esses provedores, por razões como interesse comercial, dificuldades financeiras ou pressão de governos dos países onde estão sediados, venham a elevar preços abusivamente, suspender seus serviços ou usar indevidamente dados de seus clientes.
Outra preocupação importante é que os grandes provedores estrangeiros estão sujeitos à legislação vigente em seus países-sede, como por exemplo o americano US Cloud Act, que permite ao governo daquele país ter acesso a dados armazenados por provedores americanos sem necessidade de notificação aos proprietários dos dados. A situação é ainda mais grave para os dados armazenados pelo provedor Alibaba: a ditadura vigente na China certamente torna muito fácil o acesso aos mesmos.
Os que estão à frente da Gaia-X entendem que essa nuvem garantirá a segurança dos serviços e o nível de proteção aos dados estabelecido pela legislação da União Europeia, uma das mais avançadas do mundo.
Mas, mesmo na Europa, há céticos quanto ao sucesso da iniciativa, especialmente levando-se em conta a escala e consequente capacidade de praticar custos menores, bem como a agilidade na disponibilização de tecnologia e serviços dos concorrentes americanos e chineses. O volume de recursos necessários para o desenvolvimento e plena operação da nova nuvem será muito grande. Também será difícil atender aos interesses específicos de todos os membros da União Europeia.
Diante desse cenário, a única coisa que fica clara é a necessidade de que países, suas empresas e pessoas tenham seus dados e sistemas em segurança. No caso europeu, Gaia-X é uma iniciativa que pode dar essa segurança. Se ela terá sucesso, só o futuro dirá.
Vivaldo José Breternitz, doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.