As grandes empresas fornecedoras de tecnologia estão mudando, tanto no mundo das telecomunicações quanto no mundo de TI. Cada vez mais estas empresas deixam de prover apenas os equipamentos e sistemas e passam a oferecer serviços, quase sempre baseadas em soluções em nuvem. E o que antes era restrito a serviços oferecidos às próprias empresas passa a ser, no ambiente da Internet das Coisas, uma oferta que chega ao próprio consumidor final, pelo menos no caso dos serviços corporativos. Essa é, claramente, a estratégia da Cisco, evidenciada durante sua conferência global Cisco Live, um evento de 28 mil pessoas voltado a parceiros e desenvolvedores e que acontece esta semana em Las Vegas.
Segundo Chuck Robins, CEO da empresa, hoje 28% das receitas da Cisco vêm da oferta de serviços e nos próximos meses deve ser anunciada a estratégia financeira para os três próximos anos, que deve evidenciar ainda mais essa postura. Diante disso, fica a pergunta: qual o papel que caberá às empresas de telecomunicações e infraestrutura de rede? A Cisco será competidora dessas empresas na agregação e oferta de serviços no ambiente da Internet das Coisas?
Perguntado por este noticiário, Robins responde, obviamente, que não. "Entendemos que os provedores de serviços e redes hoje estão em uma posição privilegiada de conectar bilhões de pessoas e dispositivos, e de agregar valor às pessoas e empresas. Mas nós temos um profundo conhecimento desses mercados e podemos ajudar os provedores a chegar a esses mercados com novos serviços", diz Robins.
A estratégia da Cisco, contudo, demonstra que a empresa não espera que as empresas de telecomunicações ou TI tomem a iniciativa de promover a chamada "transformação digital" nos diferentes setores que podem ser influenciados pela Internet das Coisas, como saúde, cidades inteligentes, transporte, automação doméstica etc. Conforme explicou a este noticiário o diretor de transformação digital e indústrias da Cisco, Rick Huijbregts, a abordagem varia de caso a caso, e o papel das empresas de telecomunicações pode ser maior ou menor, a depender do setor. "Vejo as empresas de telecom com um papel importante de liderar o processo de transformação digital no caso de cidades inteligentes ou para o setor financeiro, mas nem tanto em construção ou saúde, por exemplo, onde existem outros players da cadeia que podem desempenhar um papel mais central", diz ele. Um dos grandes problemas que a Cisco tem que resolver nesse ambiente é justamente detectar nas diferentes cadeia qual o seu papel como fomentadora e qual é o seu papel como coadjuvante, diz ele.
Software e hardware
A empresa tem como foco central de sua atuação hoje a matriz baseada na análise de dados (analytics), segurança, colaboração e automação. Repare-se que pouco, ou quase nada dessa matriz, está vinculado essencialmente ao hardware, ainda que, segundo Robins, seja necessário achar o correto equilíbrio entre hardware e software.
Para Robins, o processo de transformação digital, contudo, precisa agora chegar às lideranças, não só das empresas, mas de cidades e países. "Tem que ser agora um processo de cima para baixo, para que todo o potencial da transformação possa ser aproveitado".