De uma maneira simplificada existe o Ambiente Matemático de Tecnologia de Inteligência Artificial Público, e o Ambiente Matemático de Tecnologia de Inteligência Artificial Corporativo. Para simplificar, chamaremos somente de Inteligência Artificial (IA) como a mídia atualmente denomina.
No primeiro ambiente (público), não necessariamente existem grande compromissos. Porém, quando queremos utilizar uma ferramenta ou um ambiente de Inteligência Artificial para uso Corporativo, somos obrigados profissionalmente a considerar Princípios que precisam ser obrigatoriamente seguidos. A IA na sua essência e evolução é muito antiga, desde os primeiros algoritmos que tratavam pequenas bases de dados e os algoritmos que geravam dados que são reaproveitados e realimentam estes algoritmos. Mas, recentemente com a facilidade do poder de processamento e de armazenamento a IA deu um salto de utilização.
O uso da IA no Ambiente Corporativo, exige que sejam considerados princípios e direcionadores para que a organização tenha um impacto positivo para o seu negócio e atendimento aos objetivos corporativos. Cito a seguir os Princípios que considero essenciais. Com certeza, por limitação, posso deixar de considerar alguns, mas peço ao leitor que acrescente nos comentários, e junto construamos uma referência de excelência. Seguem os Princípios que devem ser considerados:
- Segurança da Informação
Como um Ambiente Matemático de Tratamento de Dados, é necessário ter controles para garantir a sua integridade. Suas bases de dados devem ser protegidas para não permitir tratamento indevido de: acessos, alteração, sequestro e similar. Para tanto deve ter controles de:
- Acesso à informação. Autorização e garantia periódica de usuários autorizados. Muitos ataques de sequestro de dados (tipo Ransomware) começaram com falhas de controle de acesso lógico.
- Registro de ações (equivalente ao log – imagine um erro: como isso aconteceu?)
- Cópias de segurança.
- Classificação da informação.
- Politicas e regulamentos com direcionadores organizacionais e responsabilização.
- Desenvolvimento seguro.
- Segurança desde a concepção do produto.
- Proteção do conhecimento. Alguns códigos podem ser a essência do negócio.
- Proteção da Privacidade
Em grande parte do mundo, já existe uma legislação sobre a privacidade dos dados pessoais do cidadão. E muitos com ênfase de uma maior rigidez para dados pessoais sensíveis e dados pessoais de crianças e adolescentes.
Os dados pessoais existentes nas bases de tratamento pela IA devem estar em conformidade com a legislação tipo LGPD (Brasil) ou GDPR (União Europeia).
O não cumprimento de uma proteção adequada pode levar a impactos negativos para a organização e para os gestores da mesma.
- Conformidade Legal
A legislação sobre tratamento de dados, não se restringe aos dados pessoais citados acima. As organizações estão submetidas a legislações especificas dependendo do seu tipo de negócio, por exemplo o ecossistema das instituições financeiras, e o ecossistema das organizações de saúde.
Esta conformidade exige que as bases de dados utilizadas pela IA tenham tratamento em conformidade com todas as exigências legais. Mas também afeta a forma que os controles de segurança da informação serão implementados. Você pode ter um excelente ambiente de IA, com tratamento adequado, uma excelente ferramenta de controle de acesso, mas a gestão do controle de acesso é fraca, e aí alguém não autorizado vai ter acesso a informação corretamente tratada, mas indevidamente acessada.
Lembrando a todos que existe Legislação sobre o tratamento de IA já em vigor na União Europeia e em andamento em vários países como o Brasil. São controles rigorosos que são obrigatórios por lei, e será pelo mercado.
- Responsabilização
Uma questão eu tenho certeza: é necessário definir as responsabilidades de profissionais por cada etapa (podemos chamar assim?), cada pedaço que constroem o ambiente da IA. Confesso que rigorosamente ainda não consigo identificar todas. Mas, por exemplo, a definição de regras de aprendizagem, a garantia de que o algoritmo tratará todas as pessoas (independente de cor, gênero, idade.. por exemplo) de maneira igual e respeitosa. A construção (programação) dos algoritmos, a garantia da integridade das bases de dados… e tantas outras implementações, mas que entendo que tudo tem que ter responsáveis humanos com Nome e Sobrenome.
Um carro sob total controle de uma IA, ao cometer um acidente com morte humana, tem que ter responsável. Somente assim, esses responsáveis terão o maior rigor na qualidade e segurança dos algoritmos de IA.
- Sustentabilidade
A corporação deve ter sustentabilidade adequada aos seus objetivos corporativos. O Ambiente Matemático da IA deve ter a garantia de que estará disponível durante todo o tempo de vida da organização. Acredito que para algumas organizações (atuais e no futuro) a indisponibilidade do ambiente IA inviabiliza a operação da organização e pode levar a falência ou a sua saída do mercado e sem volta.
A Sustentabilidade da IA inclui todos os seus componentes diretos, mas também os seus elementos indiretos como colaboradores, fornecedores, parceiros, alimentação das bases de dados, legislações futuras, e evidentemente o ambiente físico onde existe a IA. Normalmente este ambiente físico está em grandes fornecedores de serviços de TI mas precisam ser considerados, pois nenhum prestador é infalível.
- Alinhamento com a Governança Corporativa
O mais importante em toda e qualquer organização é o atendimento aos objetivos corporativos, que foram definidos diretamente pelos Donos, ou Conselho de Administração para as organizações de maior porte. É o atendimento ao Propósito da organização, considerando os Valores da mesma.
O Ambiente Matemático de Tecnologia da Inteligência Artificial, não pode fugir a esta regra. Tudo, sem exceção, tudo tem que ser realizado e tratado considerando de maneira Corporativa: os Objetivos, o Propósito, a Ética, os Valores e demais direcionadores. Simplificando: alinhamento à Governança Corporativa.
Diferente da IA Pública, a IA Corporativa tem como objetivo garantir uma melhora de performance e a efetividade da operação da empresa, alinhada sagradamente à Governança Corporativa.
Conclusão
Entendo que o tema Inteligência Artificial, com a abordagem atual, é complexo. Mas, tratando do seu uso Corporativo entendo que temos que enfrentar o desafio de definir como abordar e implementar este ambiente nas organizações.
Tenho certeza que o atendimento a estes princípios gerará uma maior confiança corporativa para o Ambiente de IA. Mas, não só confiança. Gerará produtos de IA com maior segurança.
Entendo que esta minha abordagem é um "porto de partida, não é um porto de chegada". Mas precisamos ter argumentos para apresentar aos Acionistas, ao Conselho de Administração, a Alta Direção: como devemos tratar a Inteligência Artificial na organização? Sem pirotecnia e com abordagem profissional e respeitando os recursos investidos pelos acionistas.
Esta é a minha contribuição inicial.
O que apresentei é o mínimo que cada organização deve ter, praticar e aprimorar.
Sua organização tem peculiaridades e podemos conversar sobre isto.
Edison Fontes, CISM, CISA, CRISC, Ms. 2024.