O número de consultórios médicos no país vem aumentando a passos largos ao longo dos últimos anos. Em 2008 havia cerca de 97 mil consultórios no país, número que chegou a quase 139 mil em 2013 – um aumento de 44% em 5 anos. Por outro lado, durante o mesmo período, o número de Hospitais Gerais e especializados manteve-se estável, na casa dos 6 mil estabelecimentos, conforme dados do DATASUS.
Este movimento é mais do que natural, levando em conta o aumento de cobertura médica privada no país, estimulando a demanda por consultas e exames preventivos pelo paciente.
Além disso, é natural que, conforme aumento da demanda por consultas no setor privado, médicos prefiram a autonomia e independência proporcionadas quando atuando em consultórios próprios ou compartilhados. O barateamento de tecnologias e equipamentos médicos também possibilitam um maior retorno do investimento necessário para se ter uma prática independente. Por exemplo, ao realizar exames através de um aparelho de ultrassom ou eletrocardiograma dentro de seu próprio consultório, médicos conseguem agregar maior valor ao seu espaço.
Não há maior oportunidade nesta tendência do que para desenvolvedores de Prontuários Eletrônicos do Paciente (PEP). A inicial resistência médica em utilizar tecnologias e informatizar suas práticas diárias está se alterando rapidamente, como num efeito dominó.
Diferentemente de um Hospital, onde o PEP normalmente é provido pelo fornecedor de seu Sistema de Gestão Hospitalar (SGH)—por um questão de necessidade de melhor integração—, existe um potencial para um mercado gigantesco de soluções PEP stand-alone em consultórios.
Como referência, a Frost & Sullivan publicou um estudo em 2013 sobre o mercado de soluções PEP para Hospitais, nomeado "Electronic Medical Records (EMR) Market in Brazil". O faturamento deste mercado, em 2013, foi estimado em aproximadamente 370 milhões de reais. Deve-se levar em conta que soluções PEP para Hospitais são muito robustas, e seu custo de implementação em único hospital, em alguns casos, pode ultrapassar 5 milhões de reais, sem contar a licença cobrada mensalmente.
O mercado anual de soluções PEP para consultórios pode chegar a este mesmo valor em breve.
Uma conta simplória: colocando R$ 300,00 como um valor mensal médio de licença, já incluindo o valor de adesão, e, considerando chegarmos a pelo menos 200 mil consultórios em 2020, cuja penetração de PEP será de pelo menos 50%, na estimativa mais conservadora, chegamos a um mercado de PEP para consultórios de R$ 360 milhões em 2020.
Obviamente, já existem inúmeras empresas de olho nesse mercado. É quase impossível mapear todas, mas já tive contato com pelo menos 10, a maioria micro e pequenas empresas.
Mesmo pulverizado, é um segmento com poucas empresas oferecendo recursos mais sofisticados, como uma simples ferramenta de faturamento, sistema de suporte à decisão médica, entre outros. São que fornecem o básico, que se resume a uma agenda e espaço para computar dados e histórico epidemiológico do paciente.
Como qualquer mercado nascente, ainda há uma equivalência muito grande entre fornecedores, além de um desconhecimento das soluções disponíveis pelo lado do usuário final. Além disso, o fato de ser um setor dominado até então por, em grande maioria, empresas pequeno porte, dificulta ações de marketing mais agressivas que, eventualmente, poderiam resultar em uma maior concentração de mercado.
Porém, dado o tamanho do mercado potencial, é muito difícil que este continue sem uma empresa "benchmark" nos próximos anos, com duas opções. Em primeiro lugar, uma micro empresa que conseguiu realmente inovar e se diferenciar de suas concorrentes no mercado; e em segundo, talvez mais plausível, uma gigante do setor de TI em saúde, como MV Sistemas ou Philips Tasy, que resolva entrar nesse mercado, utilizando versões mais compactas dos PEPs que já oferecem para Hospitais.
Gabriel Silveira, analista Sênior de Saúde Conectada, Frost & Sullivan
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