Em relatório recente, o Gartner apontou que governos de todo o mundo estão aumentando este ano os gastos com TI em 7,6%, em relação a 2022. Esse percentual pode parecer tímido, mas no contexto de economias voláteis, o valor equivale a quase 590 bilhões de dólares. O setor público foi por muito tempo conservador quando se trata de investimentos TI, mas isso está mudando rapidamente.
A migração para nuvem que já é uma realidade e, mais recentemente, a política de cloud first são movimentos que estão apoiando as transformações do setor público. Mas muitas vezes a visão de nuvem está sendo de certa forma idealizada, em vez encarar a realidade da necessidade complexa de gestão de dados e segurança. A adoção da multicloud híbrida está contribuindo para as transformações digitais do setor público, facilitando como exemplo a adoção de serviços compartilhados – isso para que diferentes departamentos do governo comecem a compartilhar serviços em nuvem.
A questão é que ambientes de governo, muitas vezes são repletos de tecnologia legada, e precisam se modernizar para poder operar em um mundo totalmente centrado em dados. Esse cenário é cada dia mais desafiador e exige uma abordagem mais inteligente para a gestão de dados. A soberania dos dados e a segurança cibernética são dois grandes impulsionadores de novos investimentos em tecnologia. Os dados são um ativo estratégico para todas as organizações e o imperativo é manter os dados atualizados, seguros e prontamente disponíveis, ao mesmo tempo em que cumprem a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados – e outros requisitos de privacidade.
Como parte do último relatório global Enterprise Cloud Index do instituto Vanson Bourne, foi analisado o impacto da multicloud híbrida nas organizações do setor público em todo o mundo. Isso incluiu organizações governamentais federais/nacionais, governos estaduais e locais, instituições educacionais públicas e organizações de saúde pública. O objetivo foi destacar os planos de nuvem, as prioridades, os desafios e as experiências dos profissionais de TI do setor público em todo o mundo e como eles se comparam ao setor. Os números mostram que, nos próximos três anos, as organizações públicas irão priorizar investimentos com a multicloud híbrida. A porcentagem de organizações do setor público que implantaram a multicloud híbrida hoje (8%) está um terço abaixo do pool de respostas do setor privado (12%). As empresas privadas estão claramente à frente, mas a previsão é uma história diferente. Cerca de três quartos dos entrevistados do setor público (73%) e do setor privado (74%) planejam executar vários ambientes de TI até 2026.
Dentro disso, espera-se que a adoção de várias nuvens híbridas atinja 39% até 2026, com 11% exclusivamente em nuvens públicas. O uso exclusivo de serviços de infraestrutura de TI hospedados aumentará para 14% seu alcance.
Risco cibernético
As principais preocupações das organizações do setor público – e, para ser justo, elas também refletem algumas das principais prioridades de todos os setores – são a segurança cibernética e a soberania dos dados. Regulamentações como a LGPD e GDPR têm sido fundamentais para pressionar as organizações de todos os setores a serem mais responsáveis pelo gerenciamento e pela privacidade dos dados.
A pesquisa também reflete isso, quando os entrevistados foram solicitados a nomear o fator mais importante que impulsiona suas decisões de compra de infraestrutura de TI: Segurança cibernética (13%), soberania de dados (13%), proteção e recuperação de dados (11%) e sustentabilidade (9%) foram as principais respostas. Curiosamente, o custo foi escolhido por apenas 4%.
Quase todos os entrevistados (98%) indicaram que moveram aplicações entre infraestruturas de TI nos últimos 12 meses, com 47% citando o desejo de melhorar a postura de segurança da empresa ou sua capacidade de atender aos requisitos regulamentares como um dos principais motivos. A esperança de acelerar a velocidade de acesso aos dados foi um segundo motivo moderadamente distante para a mobilidade de aplicativos (39%), seguido pelo desejo de se integrar a serviços nativos da nuvem, como IA e aprendizado de máquina (38%).
A recompensa da visibilidade
No entanto, a mudança para a multicloud híbrida não é a solução para todos os problemas do setor público. Ela traz desafios, principalmente em relação à complexidade. A maioria dos participantes da pesquisa (94%) concordou que o ideal seria ter uma única plataforma para gerenciar suas diversas infraestruturas públicas e privadas. Assim, grande parte dos entrevistados mencionou problemas de gerenciamento, segurança, backup e armazenamento centrados nos dados como os aspectos mais desafiadores da gestão de ambientes de TI híbridos – ambientes os quais abrangem vários datacenters e modelos de nuvem.
A análise e a orquestração de dados (44%) foram escolhidas pela maioria como um dos principais desafios de gerenciamento de infraestrutura mista, seguidas pela recuperação de desastres (43%) e pelos custos de armazenamento de dados (42%). Embora 93% dos entrevistados do setor público concordem que enfrentar os desafios de gerenciamento entre nuvens (como ter visibilidade de onde os dados residem em toda a infraestrutura de TI), um número muito menor (36%) afirma já ter essa visibilidade atualmente. As descobertas sobre visibilidade indicam uma "lacuna de recursos" que reflete o espaço para melhorias na disponibilidade de ferramentas integradas às operações de TI híbrida. Pois, os departamentos de TI não podem gerenciar, proteger, sincronizar ou analisar o que não podem ver. A oportunidade clara aqui é uma supervisão única da infraestrutura que permita a visibilidade dos dados e sustente a responsabilidade e a conformidade.
O que também está claro é que o setor público está evoluindo rapidamente e que está priorizando a proteção e a segurança dos dados. Isso, ao mesmo tempo em que se concentra na necessidade de aumentar a visibilidade dos dados, promover a modernização e conquistar agilidade da plataforma.
Os próximos três anos serão um teste decisivo para a modernização do setor público, eliminando de uma vez por todas seu passado legado e adotando a escalabilidade e os recursos de gerenciamento de dados por meio de uma infraestrutura híbrida multicloud. Muitas vezes serão necessárias combinações de data centers, nuvem pública, edge, colocation e talvez alguma tecnologia legada que forneça um serviço essencial. Em última análise, essa é uma boa notícia. As organizações públicas terão mais liberdade de escolha sobre a tecnologia, evitando o aprisionamento ao fornecedor, e terão a flexibilidade de localizar aplicações e dados onde melhor atenderem às necessidades.
Elas poderão formular seu próprio ambiente de nuvem que melhor atenda às prioridades estratégicas e ajustá-lo conforme necessário. Elas precisarão lidar com a complexidade e quase todas concordaram (95%) em expressar o desejo de ter um único local para ver e gerenciar os muitos aspectos de suas diversas infraestruturas.
Leandro Lopes, diretor e engenheiro de Sistemas da Nutanix na América Latina.