IA no holofote: hype ou oportunidade?

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A Inteligência Artificial (IA) é mais um hype? O tema de IA tem se destacado como de grande interesse no mercado. Existe muita expectativa de breakthrough em negócios – em como as organizações e mesmo a sociedade vão mudar suas formas de usar informações com o suporte tecnológico inteligente. É inegável que existem perspectivas de grandes transformações e oportunidades, mas como separar o que é tangível e o que é hype? E o que podemos aprender para fazer melhor uso dessa (e de outras) tecnologias inovadoras?

O mercado faz muitos exercícios de forecasting para tentar desenhar os cenários futuros, mas poucas análises são feitas olhando para trás, com o intuito de ajudar a calibrar esses esforços e investimentos com base em experiências vividas. Recentemente, divulgamos o IoT Snapshot 2024, a 6ª edição do estudo sobre internet das coisas (IoT), transformação digital e temas relacionados à inovação tecnológica. Desde a primeira edição, perguntamos qual o nível de importância do tema na agenda de suas organizações:

    • Em 2019, 76% dos respondentes indicavam que, no médio prazo (de 3 a 5 anos), a importância do IoT seria alta ou muito alta;
    • Em 2024 – supostamente quando esse médio prazo chegou na prática – 40% dos respondentes indicaram a importância do IoT como alta ou muito alta;

De forma análoga, para os outros anos em que conseguimos comparar as informações, a expectativa se mostrou muito mais otimista do que a realidade.

Lições aprendidas e aplicações para a onda de IA

Em diversos ciclos de desenvolvimento tecnológico, observamos movimentos intensos de investimentos e esforços para adoção de novas tecnologias, que em muitos casos se convertem em casos de insucesso, ou que, no mínimo, capturam valor muito depois do prazo previsto. O que fazer para que a IA não seja mais um hype e que possa realmente trazer valor no curto prazo?

O primeiro ponto diz respeito a negócios e tecnologia. Esse binômio nunca foi mais importante. É necessário promover um entendimento profundo e transparente (que envolve questões intensas de capacitação) de como a tecnologia na prática pode trazer benefícios aos negócios. Saber desenhar os casos de uso de aplicação da IA e calcular investimentos versus benefícios aos negócios são habilidades e passos tão fundamentais quanto complexos. No IoT Snapshot, 36% dos respondentes atribuem à dificuldade de desenhar os casos de uso a complexidade para implantação de IA.

Além de desenhar os casos de uso, é necessário ter um processo de gestão de inovação efetivo na organização. Saber gerir as características e etapas típicas de inovação é fundamental: agir no curto prazo e estabelecer metas de médio e longo prazos, trabalhar com portfólio de iniciativas que considerem que alguns dos investimentos vão falhar, criar métricas que protejam investimentos em maturação de cortes imediatistas, mas que também estabeleçam limites claros para revisar ou interromper projetos sem perspectivas de evolução.

Tenho reforçado que tecnologia é mais sobre pessoas do que sobre máquinas. E essa máxima parece ser aplicável para IA. No Snapshot, 36% dos respondentes consideram a resistência à mudança como um dos principais inibidores da adoção de IA. Além disso, 73% não possuem profissionais ou equipes dedicadas a IA, além do fato de que apenas 15% considerarem que suas equipes estão preparadas para tratar do tema de IA. Para conseguir resultados consistentes na implantação de soluções, é necessário contar com recursos de inteligência natural, ou seja, pessoas capacitadas.

Por fim, um assunto deixa de ser hype quando ele é incorporado no dia a dia operacional da organização – que é o objetivo final dos investimentos em inovação tecnológica. Nessa fase (além dos requisitos já citados de casos de uso, ciclo de inovação e pessoas), é importante trabalhar aspectos como o estabelecimento de condições contratuais claras entre a organização e seus parceiros tecnológicos, com detalhamento das condições de operação, suporte, upgrade e evolução das soluções, e, finalmente, estrutura de equipes para projeto, implantação e operação das plataformas.

Próximos passos e conclusões

Que a IA é um breakthrough que pode transformar de maneira significativa a forma como as organizações fazem negócios, não há dúvida. Mas, até pela abrangência e possibilidade de impacto dessa tecnologia, o cuidado com a modelagem das aplicações que a utilizam e com sua implantação precisam ser redobrados. Entendimento aprofundado da tecnologia pelas equipes, visibilidade da aplicabilidade das soluções nos negócios e um processo maduro de gestão de inovação são pontos de atenção que, se subestimados, podem fazer com que a decisão de investir em IA pareça não muito inteligente.

Yassuki Takano, Consulting Services Director da Logicalis Brasil.

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