Há várias razões para um profissional de TI decidir avançar para a camada gerencial. Passar a gerir pessoas tanto na área de TI como, em alguns casos, nas áreas de negócios é um dos caminhos de evolução de carreira. Quem sobe na escada corporativa passa a ser valorizado de uma forma mais ampla – os skills adquiridos nesta jornada podem abrir mais oportunidades de trabalho do que as posições mais técnicas, em geral muito específicas. Outro fator decisivo é a diferença de salários entre o profissional de TI "hands-on", operacional, e quem gerencia times de técnicos. Segundo pesquisa do SENAC de 2023, quem se inicia na carreira de TI tem salários entre 3.000 e 5.000 reais por mês. Após alguns anos, é possível chegar às faixas de 6.000 a 12.000 mensais. Esses valores ficam muito distantes dos salários de quem atinge o nível gerencial. Pesquisa da Glassdoor indica que essa posição parte de R$ 20.000 e pode, conforme a experiência do líder de TI, o tamanho da empresa onde trabalha e a geografia – os estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro são os que melhor pagam no Brasil – chegar à faixa dos R$ 84.000,00.
Quando o profissional de TI opta, com ousadia, migrar para posições gerenciais nas áreas de business, os ganhos também são expressivos. Um Gerente de Finanças, por exemplo, pode chegar a salários de R$ 60.000,00, especialmente em grandes organizações. Um CFO fica na faixa entre 70 e 100 mil Reais. Outro diferencial desse tipo de carreira são bônus e benefícios diferenciados. Transformações como estas exigem que se invista em novas formações.
MBA pode acelerar esse processo
Um MBA, por exemplo, pode aprimorar significantemente a carreira de um profissional de TI por fornecer uma compreensão holística de operações de negócios, planejamento estratégico e habilidades de liderança. Na indústria de TI, na qual tecnologia e estratégias de negócio estão cada vez mais entrelaçadas, possuir uma base forte nas duas áreas é valioso. Um MBA equipa os líderes de TI com a perspicácia de negócios necessária para alinhar as iniciativas da área com as metas gerais da organização, tornando esses profissionais ativos críticos para suas empresas.
No atual mundo dos negócios, não se pode ser apenas a pessoa de TI. É necessário compreender orçamentos, modelos de previsão, conformidade regulatória e muitos outros assuntos.
Adquirindo uma perspectiva mais ampla, os líderes de TI equipados com MBA estão mais próximos de dominar os elementos envolvidos em administrar uma empresa e pessoas, incluindo finanças, marketing criativo e o relacionamento com o RH.
Dois diferentes mind sets
É importante destacar as diferenças nos mind sets da resolução técnica de problemas e da gestão de pessoas e empresas. Fundamentalmente, a administração de empresas foca os objetivos de negócio. É comum que o resultado desejado seja formulado desde o início. Profissionais com background técnico, por outro lado, possuem uma mentalidade de resolução empírica de problemas. A mudança de perfil exige que se mude o tratamento de problemas.
Embora o problema técnico tenda a ter uma resposta única, que seria a resposta correta, raramente o problema de negócio no mundo real tem uma única solução. Na área de business, pode ser um exercício infrutífero tentar encontrar a resposta correta. Tomar uma decisão errada pode, em alguns casos, ser melhor do que não tomar decisão alguma. A frequente falta de uma resposta "correta" pode ser território estranho para o profissional de TI.
Embora ideias singulares e criativas sejam também encorajadas na área técnica, no mundo dos negócios essa é uma condição sine qua non para prosperar. O gestor de pessoas é sempre desafiado a fazer coisas fora da caixa.
Há passos que facilitam essa transição.
Mudar a definição de estar certo.
Os profissionais de TI gostam de estar certos. Como gestores, precisamos deixar a equipe conceber e implementar soluções.
Aprender a gerenciar pessoas.
Não precisamos ser "líderes natos" para sermos bons gestores. Precisamos aprender como conquistar a aderência das pessoas a processos de modo a torná-las mais eficientes.
Adotar um modelo de negócio.
Os experts em TI medem seu sucesso com base em métricas tecnológicas. Os gestores estão envolvidos com objetivos de negócio mais amplos e precisam desenvolver uma mentalidade de negócio. Por exemplo, uma solução não pode ser sempre a melhor opção pelo padrão da TI – ela precisa adequar-se a um orçamento e gerar um ROI expressivo, colaborando com a expansão dos negócios.
Abrir mão do controle.
Ceder o controle faz com que a equipe se sinta valiosa. Ainda há um bocado de trabalho para um gestor de pessoas: moldar a visão e a estratégia, organizar a equipe, encontrar recursos, estabelecer escalas etc.
Pedir ajuda.
Experiência é crucial para os gestores. Como iniciantes, é importante se apoiar na experiência de gestores mais seniores, que podem dar conselhos sobre como lidar com os diferentes desafios de uma equipe. Gestores experientes são um dos recursos mais valiosos para aprender a liderar pessoas.
Gerenciar uma equipe pode ser uma grande oportunidade de crescimento profissional e pessoal. Essa jornada é semelhante a um jogador de basquetebol de um time que busca transformar-se no treinador. Não se pode ser promovido de jogador a treinador sem preparar-se intensamente para isso. É difícil passar de uma posição à outra. É preciso abraçar uma cultura diferente e desenvolver amor pelas coisas que nem sempre compreendemos – negócio, vendas, gerenciar boas pessoas, gerenciar más pessoas, gerenciar chefe bom, gerenciar chefe vil. Saia do seu silo e aprenda a linguagem de negócios, e esse caminho se tornará possível.
Thiago N. Felippe, CEO da Aiqon.