O ano de 2007 promete mostrar uma nova cara do setor de software e serviços de TI. O movimento do Brasil para disputar uma fatia do atraente mercado de offshore, que segundo pesquisas chegará em 2010 com negócios da ordem de US$ bilhões, pede mudanças no modelo de atuação dessa indústria.
Os provedores precisam aumentar sua capacidade para atender os clientes com segurança e qualidade em pequeno espaço de tempo. Para ganhar essas competências, algumas empresas partirão para fusões, aquisições, e alianças estratégicas, colocando em prática a máxima: ?se não pode vencê-los, uma-se a eles?.
?Estamos competindo com empresas muito maiores, se formos pequenos ninguém vai olhar para gente?, diz Antonio Carlos Rego Gil?, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom). Ele prevê uma mudança do cenário a partir do próximo ano.
O mercado ganhará novos contornos favorecido pelas iniciativas adotadas pela setor privado e público para fortalecer a marca do Brasil no exterior, que tem meta de chegar em 2010 com um volume de exportações de software e serviços de US$ 5 bilhões.
Gil, que também é presidente da CPM, percebe um movimento de negociação no mercado entre empresas de software e prestadoras de serviços para ganhar escala na operação. Algumas estão sondando empresas com ofertas complementares não apenas no Brasil, mas também no exterior, como é o caso da Stefanini e BRQ.
O presidente da Brasscom acredita que o próprio governo deverá incentivar esses negócios, abrindo as portas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com aporte de capital nas novas sociedades.
profissionaliza mercado
A consolidação vai levar o mercado a uma profissionalização, acredita Francisco Ribeiro, diretor de TI e responsável pela área de outsourcing na Accenture, se referindo principalmente a questão da informalização na contratação dos profissionais. Ele reclama que a competição com os que não seguem o regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) não é justa.
O executivo denuncia que os que não pagam encargos trabalhistas praticam custos mais baixos e aliciam talentos treinados pelos que registram em carteira, oferecendo propostas salariais que aos olhos dos profissionais são vantajosas. ?As regras têm que valer para todos. A informalidade gera dificuldades para a competitividade. Se o Brasil quiser disputar com a Índia, tem que ser sério.?
Para o consultor da Accenture, essa situação deverá mudar com o ensaio de algumas empresas de abrirem capital, processo que exige administração transparente. Ele brinca que ninguém vai querer casar com a noiva se ela não estiver pronta. Ou seja, o investidor só vai colocar dinheiro em negócios que ofereçam segurança.
O presidente da Brasscom acredita que o mercado brasileiro de exportação de software e serviços e deverá deslanchar mesmo em 2007, quando começa a colher os frutos das ações realizadas em 2006, como a criação da certificação de inglês e o programa de capacitação lançado para formar profissionais de nível médio.
As empresas estarão com uma oferta definida para atacar no mercado externo, que é o financeiro. O Brasil vai aproveitar a experiência que adquiriu com automação bancária para marcar presença no setor de offshore de TI. Para mostrar as competências do País neste segmento, a Brasscom encomendou uma pesquisa da IDC que mostra que as empresas nacionais têm grandes chances de competir nessa área com a Índia, China, Rússia e México.
O estudo da IDC revela que em comparação com esses países emergentes o Brasil é o mais avançado em automação bancária. Mauro Peres, diretor de pesquisa da consultoria, diz que o Brasil é um dos poucos no mundo que faz transações em tempo real. O internet banking, que é acessado hoje por 14% da população, também é um dos mais sofisticados e o País conta ainda a seu favor a experiência adquirida com a implantação do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
?O que falta para o Brasil se tornar um grande exportar desses serviços é marketing dessas competências. O Brasil tem que por a bouca no trombone e contar essa história ?, recomenda o consultor da IDC. As projeções para 2010 são de que dos US$ 5 bilhões projetados para mercado externo, pelo menos US$ 1,6 bilhão deverá vir de serviços financeiros
Prestadoras de serviços vão às compras
A Stefanini IT é uma das empresas que querem ampliar sua operação por meio de aquisições de médias empresas e avalia negócios no Brasil, México e Inglaterra. As compras fazem partes do planejamento estratégico da companhia para quintuplicar o seu faturamento até 2011, partindo de R$ 230 milhões em 2006 para R$ 1,5 bilhão. Mas antes de buscar novos aliados, a prestadora de serviços vai se capitalizar com abertura de seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo, planejada para até o final de 2007.
Marco Stefanini, presidente da companhia, projeta crescimento da empresa de 30% ao ano. Essa expansão deverá ser estimulada, principalmente por serviços de offshore, que vem registrando elevação de 40% ao ano. ?É no exterior onde vamos crescer mais e dar um salto maior?, diz o executivo. Hoje as operações internacionais representam 20% do seu faturamento e a meta de Stefanini é ampliar esse número para 50% nos próximos cinco anos.
A BRQ está fechando a compra de uma prestadora de serviços de TI e planeja a aquisição de outras seis nos próximos dois anos. Uma delas, será nos Estados Unidos, onde a companhia pretende inaugurar um escritório em 2007 com uma equipe de profissionais nativos. Benjamin Quadros, presidente da companhia, justifica que o investimento é necessário para a que a empresa possa chegar mais rápido ao mercado. ?Vamos ganhar escala para não perder projetos?, afirma o executivo.
Quadro explica que os clientes estão pedindo mais profissionalização das empresas, que precisam entregar soluções com valor agregado. A situação atual é muito diferente quando a grande oferta das empresas era a mão-de-obra. Hoje as empresas querem projeto e um parceiro estratégico que entendam as necessidades de seus negócios. Essa mudança fez com que as provedoras investissem em centros de desenvolvimento, certificações CMMI, capacitação dos talentos.
Com as aquisições, a BRQ projeta chegar em 2010 com um faturamento de R$ 700 milhões, quase sete vezes mais que os R$ 115 milhões gerados em 2006. A empresa quer também dobrar o número de centros de desenvolvimento no Brasil, com abertura de mais quatro fábricas para ampliar os negócios no mercado local e internacional. As operações de offshore faturam US$ 7 milhões e Quadros espera crescimento de 100% da receita com clientes estrangeiros.
Outra que também vai investir em aquisições para ganhar musculatura é a SONDA, grupo chileno que incorporou a brasileira Imarés. A companhia reservou US$ 350 milhões para comprar empresas no Brasil, México e Colômbia. A prestadora de serviços passou 2006 reposicionando sua marca e promete para 2007 uma estratégia bem mais agressiva, com importação da sede de sistemas de ERP para atender o segmento de saúde e previdência.
O diretor de integração de sistemas, Felipe Palma, diz que a empresa não tem planos de explorar no momento outros mercados além da América Latina. Enquanto outras prestadoras de serviços estão olhando Estados Unidos, ele diz que a companhia vai ganhar participação no Brasil. Para isso, avalia novos investimentos aqui e dependendo da demanda dos serviços de ASP (Application Service Provider) poderá instalar um data center no País. Hoje a empresa atende clientes com a oferta de full outsourcing de infra-estrutura, usando espaço de terceiros.
Braxis e Unitech fazem fusão
Recentemente o mercado acompanhou o anúncio da fusão entre Braxis IT Services, especializada em SAP, e a Unitech Tecnologia, provedora bahiana de full outsourcing. Da união, nasceu a Braxis, que se aproveitou de uma marca já existente e criou uma nova empresa que tem a meta de chegar em 2007 com 2,4 mil funcionários e faturamento de R$ 200 milhões. A companhia entra em operação olhando o mercado local e o externo. Seu grande alvo são os Estados Unidos, que hoje é maior importador de serviços de TI, responsável por 80% das compras globais, segundo a IDC. Mas a empresa também quer explorar países ibéricos para aproveitar a proximidade dos brasileiros com a língua espanhola.
A Braxis já era resultado da fusão de duas empresas adquiridas no início do ano que foram a Pimentel IT Services e a Spec IT Solutions. A companhia tinha um time de 700 funcionários e faturamento de R$ 70 milhões. Já a Unitech, atuava no mercado desde 1995, com sede em Salvador (BA) focada nos setores de telecomunicações, financeiro, industrial, governo e serviços. A prestadora de serviços full outsourcing empregava 1,3 mil funcionários e movimentou em 2006 uma receita de R$ 100 milhões.
A nova Braxis tem a meta de se tornar uma das dez maiores prestadoras de serviços do País. ?A Braxis chega para mudar o mercado de serviços de TI com uma ampla oferta de serviços e uma política agressiva para retenção de talentos?, diz Jair Ribeiro, presidente da companhia. Um dos grandes diferenciais da empresa é o modelo de contratação de seus talentos. Todos os dois mil empregados serão contratados em regime CLT para evitar o turn over, que de acordo com o executivo, é alto no mercado brasileiro de TI e chega a 30%, enquanto os índices internacionais são de 10%.
João Francisco Mendes Neto, ex-presidente da Unitech, completa que a nova empresa nasce com musculatura para crescer no mercado doméstico e externo. Ele afirma que sua companhia estava buscando alternativas para explorar o offhore de TI e a fusão com a Braxis cria uma empresa preparada para cruzar fronteiras.