Burocracia atrapalha implantação de projetos digitais no setor de governo

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As poucas iniciativas de projetos digitais em órgãos governamentais só se concretizaram por terem conseguido contornar a pesada burocracia nas três esferas de poder – federal, estadual e municipal. Ao mesmo tempo em que despontam alguns projetos colaborativos, outros não conseguem grandes avanços em razão da estrutura engessada da administração pública em geral. Mas a Prefeitura de Porto Alegre dediciu mudar essa escrita e apostou no regionalismo dos gaúchos para engajar os cidadãos em projetos nas redes sociais. O primeiro fruto dessa investida foi a criação do portal portoalegre.cc em parceria com a Universidade Vale dos Sinos.

No site, moradores da capital gaúcha podem mapear pontos críticos para debater as soluções e aspectos nos quais o poder municipal deve dar atenção. "Além das 2,3 milhões de publicações visualizadas e quase 6 mil usuários ativos mensais, conseguimos atrair pessoas de 144 países que, de longe, opinam sobre a solução de problemas da cidade com base em projetos que deram certo em outras localidades", explica Daniely Votto Fontoura, coordenadora de relações internacionais da Prefeitura de Porto Alegre. Ela conta que o portal, bem como ações de marketing offline do governo, foi utilizado como uma plataforma de articulação popular para outras ações concretas, como um recente mutirão de limpeza das margens do Rio Guaíba.

Ainda assim, Daniely reconhece a dificuldade de convencer as autoridades a colocar em prática cada projeto. "Nós, do governo, não sabemos trabalhar com os internautas. Temos que ter autocrítica e nos expor para chegar a nosso cliente final – as pessoas, pois prestamos serviços a todos", admite.

Drica Rizzo, coordenadora da Escola do Futuro, ligada à Universidade de São Paulo (USP), aponta diversos obstáculos em especial no Acessa SP. O projeto do governo do Estado de São Paulo propõe centros públicos de acesso à internet com monitores qualificados, bem como sites e portais de prestação de serviços a comunidade que também atuam como catalisadores para ações físicas em cada região. Apesar de milhares de usuários, ela acredita que ainda há muito a se fazer. "A gente não pode achar que o jogo esta ganho, ainda há muito a se trabalhar porque existem localidades totalmente desconectadas ou com banda larga de péssima qualidade", explica.

Drica também revela dificuldades de implantação, em especial na publicação do blog da coordenação do Acessa SP. O veículo tinha a finalidade de expor a organização e divulgar projetos regionais em diversas frentes, desde ações de reciclagem, passando pela educação e até defesa de minorias. Para isso, enfrentou resistência de autoridades do poder estadual. "Cada posto desenvolve seus projetos de maior relevância social. Não adianta querer impor de cima pra baixo o que a gente acha certo", defende ela.

Em atividade desde o ano passado, as mídias sociais do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) ainda não conseguiram um engajamento em massa. Com 48 mil funcionários, o órgão possui apenas 3 mil assinantes de suas atualizações no Facebook, por exemplo. Para reverter o quadro, Fernando Antonio Tasso, responsável pela área de informática da TJSP, conta que o órgão tenta utilizá-lo como um dos meios oficiais de comunicação com a imprensa.

"Em casos de comoção popular, como o julgamento de Linderberg Alves, do caso Eloá, utilizamos o Twitter em tempo real a partir de cada movimento do júri", exemplifica. Isso se refletiu nas métricas – em fevereiro, o microblog obteve um aumento vertiginoso de acessos e retweets. "Frente a tantas iniciativas do mercado, sabemos que nosso engajamento é praticamente irrisório", diz Tasso. "Mesmo assim, para um órgão tão conservador como o poder judiciário, nosso pequeno progresso já é louvável", pondera.

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